Luiz Otavio Cavalcanti

Uma menina de oito anos é morta, com tiro, pelas costas, dentro de um carro. Numa comunidade pobre do Rio de Janeiro. O tiro partiu de fuzil de policial. As testemunhas disseram que não havia confronto na hora do tiro.

Foi a quinta criança morta por tiros de policiais desde janeiro deste ano. Do outro lado, o dos policiais, o saldo, no mesmo período, é de quinze mortos.

Alguma coisa está errada numa política que deixa esse rastro de sangue. De gente inocente. Que deveria estar brincando, estudando, semeando futuro. Começando que é uma política covarde. Que fuzila a torto e a direita. Relação de forças desequilibrada. Acobertada por evidente insensatez.

O caminho insensato, que tomou a política covarde, no Rio, foi fotografado dias antes. E a fotografia mostra um governador, dominado por alegria inconsequente. Após o fuzilamento de sequestrador na ponte Rio/Niterói. O gesto, saltitante, macaqueado, reproduziu aparente primitivismo de autoridade tão inoportuna quanto inepta.

Alguma coisa está errada na política covarde do Rio. A estratégia de confronto é cega. Fere os direitos humanos. Tem custo que é desproporcional em relação aos resultados. É desumana. Mata pobres. Assombra comunidades. E não elimina o tráfico.

Ingressar atirando em comunidades onde vivem famílias de gente decente, trabalhadora, é covardia. Há evidente desproporção com uso maciço de fuzis e metralhadoras policiais no ambiente comunitário. Não é possível que formuladores de política, de tal violência e mortes injustas, não se dê conta do tamanho da ignomínia.

Não, não se dão conta. Por duas razões: a primeira razão, o governo Bolsonaro, que apoia tal política, não admite contraditório. O clima oficial é de constranger colaboradores. Vale o pensamento único. Não há debate. O populismo autoritário para fora do governo corresponde ao autoritarismo burocrático para dentro.

A segunda razão, uma onda de mediocridade invade parte do país. Impedindo a criação de ideias novas. Vivemos a era do conhecimento. Da inovação. Na qual a sofisticação do fazer e do pensar é um segundo hábito. Não parece. Parcela importante de administradores brasileiros foi tomada por ações pequenas, medíocres. Sem ousadia e criatividade.

A questão do tráfico de drogas foi eficazmente enfrentada na Colômbia. E não foi matando covardemente a população civil. Tratou-se de planejar atuação coordenada executando ações sociais em educação, saúde, lazer, capacitação técnica, formação moral.

Óbvio. Drogas é uma questão social. Que, além de repressão, pede serviços sociais. E emprego. Não se resolve drogas covardemente com fuzis que matam crianças. Resolve-se com a oferta de serviços comunitários.

O governo do Rio vive nas trevas. Não é capaz de formular projetos pilotos de convivência comunitária. Para fazer uso inteligente de recursos contemporâneos. Combinando gestão, eletrônica e policiamento. Articulando parceria com agências não governamentais que detêm experiência em comunidade.

Falta ao Rio sensibilidade, inteligência, senso comum. Sobra covardia.