O presidente Lula da Silva está abraçando o Rio Grande do Sul. Como compete a um chefe de Estado, percebendo o tamanho da tragédia, Lula está mobilizando o governo federal para salvar vidas, proteger as pessoas e apoiar na restauração da economia do Rio Grande do Sul. Liberou recursos humanos e financeiros para complementar o esforço do governo do Estado no salvamento das vítimas, suspendeu, por três anos, o pagamento de dívidas do governo do Estado, abriu os cofres para conceder generosos benefícios para compensar perdas dos gaúchos, e financiamento para recuperar a infraestrutura destruída. Diante da emergência e da calamidade, estes recursos ficam fora dos limites de gastos definidos pelo Arcabouço Fiscal. E não podia ser diferente, embora seja gasto adicional que vai pesar nos resultados fiscais, independente dos mecanismos contáveis.
Nesta semana, Lula apertou o abraço aos gaúchos quando criou uma Secretaria Extraordinária para a Reconstrução do Rio Grande do Sul, uma representação direta do governo federal no Estado, anunciada, com pompa e circunstância, num comício no município de São Leopoldo, no velho estilo lulista. A criação da Secretaria é correta, cria uma relação direta de uma unidade local com a estrutura do governo federal para agilizar as providências e as ações. Mas carrega um vício político que indica uma politização da desgraça dos gaúchos e pode contaminar a gestão da crise e as relações federativas, na medida em que entregou o cargo a um potencial candidato ao governo do Rio Grande do Sul em 2026. Paulo Pimenta será a ponte de Brasília com os prefeitos, o homem que facilita o fluxo de recursos financeiros para as cidades atingidas pelo desastre. A postura óbvia de candidato tende a atropelar e passar por cima do Governador do Estado. E a gestão de uma crise desta magnitude, com uma disputa entre dois líderes políticos estaduais, está condenada à ineficiência e ineficácia. O atual governador e o futuro candidato ao governo do Estado – Leite e Pimenta – disputando para ver quem salva mais gente, quem libera mais recursos para as vítimas e para as obras de recuperação da economia gaúcha, quem é o salvador dos gaúchos. Isto a apenas cinco meses das eleições para Prefeito. O abraço de Lula é tão apertando que tem jeito de intervenção informal no Rio Grande do Sul.
Conversando com um amigo, chegamos à conclusão que leite com pimenta não dá certo: corta ou qualha.
Pois é… O Brasil tem um líder nacional essencialmente populista. Já se sabe. Se fosse um estadista, preocupado primordialmente com o melhor andamento das ações de nível federal para ajudar o estado da federação vítima da maior calamidade de toda a sua história, teria escolhido alguém com notória competência técnica e administrativa, e de coordenação, e não um candidato a governador competindo com o governador que está no cargo e é candidato a reeleição. Esperemos que essa competição entre pimenta e leite não atrapalhe, seja uma competição para o bem, sem rasteiras. Esperemos…
Por que a crítica ao nome de Pimenta? O parlamentar é plenamente qualificado para a função. Por acaso queriam a indicação de um bolsonarista? Já não bastam o Governador e o Prefeito?
Além do mais, é prerrogativa da Presidência a indicação de seus representantes para as diversas funções, onde se fazem necessárias ações administrativas emergenciais.