Olho para o Brasil, hoje. E vejo Getúlio Vargas. Olho para a Educação. E vejo Gustavo Capanema. Olho para Relações Exteriores. E vejo Osvaldo Aranha. Olho para o Trabalho. E vejo Agamenon Magalhães. Paisagem barroca. 

Novidade? PIX.

O Brasil sempre foi patriarcal. Estão aí as obras de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda para provar. O patriarcalismo tem uma versão política: o Estado-pai. Benfeitor. Provedor. Interventor. Investidor. Acionista majoritário. E, neste caso, querendo mandar em tudo. À breca, os minoritários.

A versão política do estado patrimonialista vem de Getúlio Vargas. O fundador do Brasil barroco. O fundador do Brasil moderno foi Juscelino Kubitschek. Depois dele, moderno só Fernando Henrique Cardoso. Lula foi moderno até o Lula 1. De lá para cá, uma vaga recordação de tela de Cândido Portinari. Ao invés de mirar a cientecnologia, vamos perfurar o mar equatorial.

Na prática, estamos reiterando a vocação brasileira do patriarcalismo do Estado. Na sua arriscada derivada: o populismo. É uma via clara ligando Getúlio ao presente. Fazendo com que a economia continue presa a modelos do século 20.

O que caracteriza esse modelo ultrapassado?

A hipertrofia do Estado e sua capacidade de intervir na economia. Em lugar da iniciativa privada. Um dos dois presidentes socialistas da França, François Mitterand, privatizou a Total (petróleo), o Paribas (banco), a Renault (veículo). Diminuiu o número de funcionários públicos de 1 milhão para 830 mil. Modernizou a economia francesa. E a França ultrapassou a Inglaterra no conjunto europeu.

Quais são os principais riscos desse modelo? Corrupção e crise fiscal. A existência de burocracias extensas, no setor público, dá sempre chance a desvios. Foi o que ocorreu no passado com a Petrobras. Agora, o governo avança com fome de três desertos (como diria Nelson Rodrigues) sobre a petroleira.

Por outro lado, a disputa de poder move o governo para o terreno da irracionalidade: descumpre metas de controle fiscal comprometendo o domínio da inflação. E ataca verbalmente um dos princípios modernos de política monetária: a independência do Banco Central.

Há outro aspecto desgastante para o Brasil: a contraditória política externa. Ora, a diplomacia brasileira sempre foi respeitada internacionalmente. Pela qualidade e profissionalismo de seus quadros. Observando uma linha de equilíbrio político. Entre os dois polos em que se divide o campo ideológico.

O atual governo destituiu o Itamaraty. E alinhou o Brasil a extremos autoritários que vão da Rússia à Venezuela. Passando pela Nicaragua. Trata-se de desenho errático. E desconectado com a tradição do país no contexto das discussões no âmbito internacional. Evidente que tal posição tergiversante prejudica o projeto de presença brasileira nos Conselhos da ONU. Pois mina a confiança de antigos parceiros.

Olho o Brasil, hoje. E não vejo novas ideias. Novas lideranças. Não enxergo criatividade. Em gestão administrativa. Na avaliação de desempenho de programas. Na eficiência de gasto público. Em avanços tecnológicos. Em coragem para mudar. Talvez o conceito seja este: coragem. A ancoragem política do governo mudou. E ele não se deu conta. Se continuar olhando para trás, vai perder o futuro.

Há alguns anos, li dois livros que me ajudaram a entender um pouco de decisão governamental: Coragem Política, do ex-presidente John Kennedy, e Processo Decisório na Casa Banca, do prof. Theodore Sorensen. Sua leitura é atual. E seria de grande ajuda aos mandatários brasileiros.