Quando zomba, de forma grosseira e irônica, do presidente Lula da Silva, seu fiel aliado na América Latina, o autocrata Nícolás Maduro demonstra que não está disposto a ceder a pressões e conselhos para respeitar o resultado das eleições presidenciais na Venezuela. Desde que assumiu o governo no Brasil, Lula vem defendendo o chavismo da Venezuela, afirmando que a “democracia é relativa”, e assumindo posições sempre benevolentes e ambíguas diante de cada gesto de autoritarismo e desrespeito aos direitos humanos de Maduro. Os malabarismos semânticos de Lula serviam para justificar o desastre político e social da Venezuela, e para negar as manobras e as violências de Maduro contra a participação da oposição no pleito eleitoral. Mas, quando Maduro ameaçou com “banho de sangue” e uma “guerra civil” caso não ganhe as eleições, o presidente Lula aumentou um pouco o tom de crítica, dizendo que estava assustado com as declarações do venezuelano. Maduro mandou Lula “tomar chá de camomila”. O presidente não disse mais nada e se limitou a enviar, como observador das eleições, o seu assessor Celso Amorim, o diplomata mais tolerante com os desmandos políticos do autocrata venezuelano.
As eleições na Venezuela já estão contaminadas desde o início pelas seguidas manobras do governo Maduro, prendendo opositores, atacando a imprensa, impedindo candidaturas das lideranças mais populares e criando todo tipo de dificuldades para a campanha da oposição. Mesmo assim, as pesquisas mostram que o candidato de oposição, Edmundo González, deve ganhar as eleições deste próximo domingo. Mas Maduro tem deixado claro que não vai aceitar uma derrota eleitoral. Se perceber que não poderá manipular as eleições e fraudar a apuração dos votos, ele inventará algum pretexto para suspender o pleito, como as frequentes denúncias de “planos violentos e desestabilizadores” do imperialismo. No entanto, se houver eleições e González for eleito, os pretextos servirão para declarar nulos os resultados. Em qualquer alternativa, ele conta com os militares, cooptados e destacados nos postos avançados do poder e na rede de benefícios pecuniários, e com os milicianos bolivarianos. Em qualquer caso, Maduro teria que promover uma violenta repressão às forças opositoras, talvez mesmo o banho de sangue sinalizado por ele.
Diante de um golpe, Lula não poderá mais ser complacente com Maduro e a sua “democracia relativa”. O autocrata venezuelano sabe que perderá grande parte dos seus aliados, mas não parece dar a menor importância às críticas que possam vir de Lula e de outros líderes da América Latina. Possivelmente, Maduro contará ainda com o apoio da Rússia, da China e de Cuba. E os venezuelanos continuarão padecendo com os males do chamado bolivarianismo.
Não sei se por inesperadas, vindas de um velho “amigo do chavismo”, fato é que tiveram bastante repercussão as recentes críticas de Lula a Maduro, no sentido de ele tem que aceitar o resultado da eleição (“quem perde eleição toma é banho de votos”) : vi menção no espanhol “El País” e no americano “Washington Post”.