Lula na ONU.

Lula na ONU.

Na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, o presidente Lula da Silva fez um discurso correto e amplo do ponto de vista diplomático, ressaltando a ineficácia dos acordos internacionais de defesa do clima, denunciando as desigualdades sociais e internacionais, e protestando contra a propagação da violência e das guerras e o crescimento da fome no mundo. Lula repetiu pronunciamentos anteriores, mas, desta vez, não conseguiu despertar o interesse e a atenção da comunidade internacional que correspondesse à sua expectativa de liderança mundial. Desde que assumiu o terceiro mandato presidencial, substituindo o negacionista Jair Bolsonaro, a imagem internacional do presidente tem sofrido um contínuo desgaste por conta das suas reiteradas afirmações incoerentes e tendenciosas, especialmente sua posição ambivalente em relação às eleições da Venezuela.

O pronunciamento do presidente Lula foi quase ignorado pela imprensa internacional, a maioria dos jornais dos Estados Unidos e da Europa deu muito pouca importância, destacando o discurso de Joe Biden e do Secretário Geral das Nações Unidas, Antônio Guterres, e, até mesmo, de Volodmir Zelenski. O Washington Post publicou um artigo comentando o contraste entre a posição de Lula sobre mudanças climáticas e as queimadas no Brasil: “Lula fala em mudanças climáticas nas Nações Unidas, mas incêndios na Amazônia em casa minam sua mensagem”. 

Numa passagem em que tratou diretamente da guerra na Ucrânia, Lula voltou a tratar agressores e agredidos como semelhantes. Afirmando que “já está claro que nenhuma das partes conseguirá atingir todos os seus objetivos pela via militar”, Lula aponta na direção de um cessar fogo no nível atual da contenda com a Rússia ocupando 20% do território ucraniano. Quando ocupou a tribuna, o presidente ucraniano devolveu com uma dura e até irônica resposta: “Talvez alguém queira incluir um Nobel em sua biografia por um acordo de cessar-fogo em vez de uma paz efetiva. Mas os únicos prêmios que Putin lhe dará em troca é mais sofrimento”, afirmou Zelensky. A reação indignada e pouco diplomática de Zelenski reflete a recusa à movimentação do Brasil e da China por um acordo de cessar fogo que, segundo o presidente ucraniano, serve apenas para consolidar a posição da Rússia. Num momento muito delicado em que vive a Ucrânia, às vésperas de uma eleição nos Estados Unidos que, no caso de uma vitória eleitoral, Donald Trump deixará o caminho livre para o avanço das tropas russas no território ucraniano. No fundo, a arenga de Lula com o presidente ucraniano não ajuda em nada a melhorar a sua imagem internacional e suas pretensões de mediação dos conflitos globais.