Assédio - autor desconhecido

Assédio – autor desconhecido

Em pouco mais de um dia, um dos ministros de Lula mais respeitados intelectualmente e mais representativo da população negra e mestiça brasileira, hoje majoritária, foi às cordas e à lona, derrubado por nocaute. Cada lance desse choque extremamente rápido, estremeceu as redes sociais de esquerda, enquanto era noticiado e comentado com pormenores pela imprensa.

Embora negue e se defenda alegando ser inocente e mesmo vítima, dezenas de denúncias, sejam de alunas, de subordinadas ou de colegas, falam de toques inesperados nos seus corpos correspondentes a assédios e importunações. Na falta de provas materiais e enquanto prosseguem investigações, algumas por ele mesmo pedidas, o ex-ministro da pasta de Direitos Humanos, Sílvio de Almeida, está na situação de acusado mas inocente.

Não sendo do PT e guardando uma certa independência que lhe permitiria negociações no momento devido, o ministro Sílvio de Almeida, dos Direitos Humanos, era – embora pouca gente dissesse – um presidenciável negro com mais chance que o deputado federal pastor Henrique Vieira, por sua formação laica e especialização em direito empresarial, econômico, tributário e social. Tem muitos inimigos por isso ou é, ele mesmo, seu pior inimigo?

Recolhido em retiro num terreiro de candomblé, depois de sua queda vertiginosa, por acusações de assédios e importunações sexuais, é difícil prever se o professor, palestrante e colunista de jornais poderá retomar sua vida pregressa normal de intelectual.

Embora a quase totalidade dos comentários postados nos canais e sites da Internet revele surpresa mas condene o ex-ministro, existe em alguns deles a crítica ao fato da denúncia não ter sido feita há mais tempo e diretamente à Justiça, em lugar de ter se tornado pública pelo canal Metrópoles e por uma Ong de origem norte-americana, Me too, dirigida pela jovem advogada Marina Ganzarolli.

Me too (pronuncia-se mitú, embora a quase totalidade diga mitiú) foi a primeira a citar o nome da ministra Anielle Franco, como uma das assediadas ou importunadas pelo então ministro Silvio de Almeida. Nessa altura, soube-se também ser péssimo o clima de trabalho dentro do Ministério dos Direitos Humanos, havendo dezenas de pedidos de demissão e de transferência de funcionários por não suportarem a prepotência e autoritarismo da direção.

Logo depois da revelação da denúncia contra o ministro pelo Canal Metrópoles, a professora Isabel Rodrigues, candidata a vereadora em Santo André, postou no Instagram ter sido vítima de assédio sexual, há cinco anos, pelo então professor Sílvio de Almeida, durante almoço num restaurante com outros professores. Enquanto havia uma espécie de suspense quanto à denúncia de Anielle Franco, a revelação da professora Isabel Rodrigues foi clara e objetiva, embora criticada por não ter sido feita na época em que ocorreu.

Outra denúncia feita pelo Intercept Brasil e divulgada pelo Canal 247, trata de insistentes convites telefônicos do professor Sílvio, em 2009, para uma aluna sair com ele, a fim de discutirem sua monografia e evitar que fosse prejudicada.
O Canal Opera Mundi discutiu se houve uma execução sumária do ministro Sílvio de Almeida. A jornalista Laura Capriglione estranhou o caso ter ocorrido no ano passado, mas só ter sido levado a público e parcialmente nestes dias.

A queda do ministro revelou também não ser unânime a aprovação de sua tese sobre a existência de um racismo estrutural no Brasil, análise sociológica do contexto social do Brasil, responsável por sua nomeação ao posto de ministro. Uma das mais importantes contestações, já divulgadas por seu Canal no Youtube, na indicação de Silvio de Almeida para ministro, é a do professor Paulo Ghiraldelli – “a tese do racismo estrutural é desmentida historicamente. Não fomos estruturados pelo racismo…A tese do racismo estrutural é antidialética. Ela não capta o movimento histórico em suas lutas. Ela é ideológica: quer colocar todo brasileiro como culpado e não como responsável.” A mesma contestação ao racismo estrutural é feita pelo prof, Muniz Sodré. Para ele “o racismo é institucional”.