Os analistas políticos tendem a concordar que o Centrão, este conglomerado amorfo de partidos fisiológicos, menos ideologia e mais disputa por poder, foi o grande vitorioso destas eleições municipais. Mas não se pode projetar os resultados de uma eleição municipal, focada nas questões locais e até mesmo administrativas, para o quadro nacional. Eleições municipais têm uma lógica e uma motivação completamente diferentes das eleições estaduais e, principalmente, para a presidência da República. Mesmo assim, algumas sinalizações estão sendo consideradas pelos cientistas políticos, como antecipações das disputas políticas nacionais, que vão convergir para as eleições presidenciais de 2026.
A distribuição dos votos e o posicionamento do presidente Lula da Silva e do ex-presidente Jair Bolsonaro parecem indicar um declínio da polarização político-ideológica no Brasil. Lula não se envolveu diretamente na disputa eleitoral, exceto timidamente em São Paulo, e o PT-Partido dos Trabalhadores teve um desempenho muito fraco. Mesmo que o PT venha perdendo relevância eleitoral, o presidente Lula continua sendo o poderoso polo político que aglutina o seu partido, os outros partidos de esquerda e grande parte dos movimentos sociais. Por outro lado, os partidos do Centrão que dão guarida ao bolsonarismo não contaram com o envolvimento direto de Bolsonaro na campanha e, em alguns casos, mostraram um descolamento da extrema direita. É o caso de São Paulo em que, como escreveu a jornalista Bianca Gomes (Estadão), o grande vitorioso foi Tarcísio Freitas, o governador, que levou Ricardo Nunes ao segundo turno, independente de Bolsonaro. Nas suas palavras, o “Governador foi decisivo para levar Ricardo Nunes (MDB) ao 2.º turno, e saiu da sombra de Bolsonaro”.
O partido que ganhou o maior número de Prefeituras (888) foi o PSD-Partido Social Democrático, que tem os pés no Centrão, não é bolsonarista nem lulista, mas faz parte do governo Lula, e o seu presidente, Gilberto Kassab, é um forte aliado do governador de São Paulo, do qual é secretário. Kassab considera que o governador Tarcísio emerge como uma liderança independente do bolsonarismo, no que é corroborado pelo professor Marco Antônio Carvalho Teixeira, dizendo que Tarcísio “se livra da dependência exclusiva de Bolsonaro, na medida em que, com autonomia, tomou a decisão de apoiar Nunes à revelia de alguém que supunha controlar seus passos”. Mas, o bolsonarismo, como uma difusa expressão da extrema direita, ainda é uma força política que gravita em torno da popularidade do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Conclusão: a polarização política declinou nas eleições municipais, mas o populismo de direita e de esquerda, em torno das lideranças de Lula e Bolsonaro, deve ainda polarizar a cena política e eleitoral do Brasil nos próximos anos.
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