“Nada nos protege mais, em época de confusão e cisma, do que a honestidade e a humanidade”.
Stefan Zweig, em Montaigne, Editora Madalena, São Paulo, 2015.
Stefan Zweig foi um escritor austríaco (1881-1942). Adorava o Brasil. Aqui viveu e escreveu. Entre seus livros, está uma biografia inacabada de Montaigne (1533-1592). Filósofo francês, humanista. Famoso por seus Ensaios. Defendia a educação como forma de aprimorar o discernimento moral. E a vida prática.
Eram ligados por afinidade intelectual. Como Montaigne, Zweig admirava os princípios humanistas. Que viu sucumbir sob o fanatismo e o nacionalismo do século 20. Numa de suas cartas a André Maurois, escreveu: “Vamos nos tornar homens sem lar. Somos fantasmas, ou apenas lembranças”.
Para Zweig, o século 20 configurou socialmente a tragédia do homem moderno. Quando as normas éticas e políticas desabaram deixando um rastro de sombras. Acentuemos três épocas: a primeira, quando Montaigne nasceu, a esperança no Renascimento, com seus pintores e seus poetas, começava a se extinguir. Com as guerras europeias.
A segunda época, quando Zweig estava no Brasil, estourou a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A expectativa de uma era de paz e prosperidade esvaiu-se sob as botas nazistas. A terceira época está datada na aurora do século 21. Aguardado com muita vontade em torno de ideais: vida sustentável, conforto tecnológico, desenvolvimento econômico e eliminação da miséria.
Dois acontecimentos impediram tais objetivos: o extremismo político, nos Estados Unidos, na Europa e na América Latina. E a guerra ocorrida entre Rússia e Ucrânia, e o conflito no Oriente Médio, envolvendo Israel, palestinos e Líbano.
No Brasil, a democracia avançou. Com urnas eletrônicas, seguras, milhões de eleitores votando. E mudanças importantes no cenário político. Que mudanças são estas ?
1. O crescimento do pensamento de direita; 2 O fortalecimento da posição ocupada pelos candidatos e pelos Partidos de centro político; 3 O eco de réquiem eleitoral nos arraiais do PT; 4 O surgimento de um Lampião platinado e de um Mandrake repugnante.
2. O pensamento de direita cresceu nesta eleição. O PT não fez nenhum prefeito de Capital no primeiro turno. O Partido que mais avançou foi o PL, de Waldemar Costa Neto. Elegendo mais de 800 prefeitos. Junto com o PMDB, que elegeu também mais de 800 prefeitos.
3. O cansaço pela polarização e seus efeitos negativos ficou visível. Candidatos que defendem posição mais equilibrada e sensata venceram no Rio de Janeiro, em São Paulo (primeiro turno), em Salvador e no Recife. Nesse contexto, o Partido que mais se consolida, junto com o PMDB, é o PSD. E a liderança política, moderada e vitoriosa, é seu presidente, Gilberto Kassab. Secretário do governo Tarcísio de Freitas, de São Paulo.
4. O PT encerra um ciclo com o terceiro mandato de Lula. Perdeu espaço no Legislativo federal, Câmara e Senado, em 2022. E, agora, 2024, continua perdendo território nos municípios. Lula errou ao não formar um governo de centro. Que o elegeu. E o PT continua errando ao defender ditaduras vencidas no tempo. E na clarividência das pessoas.
5. Surgem, no horizonte político, um Lampião platinado, o prefeito reeleito do Recife. E um Mandrake repugnante, Pablo Marçal. João Campos, prefeito reeleito com 78% de votos, é vocação nata para política. Que a trata com naturalidade. Sem pressa, que aniquila o verso. E sem equívocos. Na fronteira de limites orçamentários, ampliou a área verde com parques na cidade, protegeu morros e operou os Compaz. Platinou os cabelos, aproximando-se da juventude. Criou estilo de ser que traz nuvens prateadas como adereço. Para colher votos e encantar as margens do Capibaribe.
Por sua vez, o Marçal, marcial, trouxe mentira como discurso. E moeda falsa como cartão de visita. Cadeirada não era a condenação apropriada para ele. A sentença adequada veio com o não do eleitor.
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