Lula

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Mesmo antes do bombástico relatório da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Estado, era evidente que o inominável Jair Bolsonaro sonhava em permanecer no poder e implantar uma ditadura militar. Ao longo da sua conturbada carreira política, Bolsonaro elogiava a ditadura militar que assumiu o poder em 1964 e permaneceu por mais de vinte anos, chegava a defender as torturas praticadas na época, tinha no torturador Brilhante Ustra o seu modelo e ídolo e, no poder, repetiu à exaustão que não entregaria o poder ao seu sucessor. Durante o período eleitoral, em 2022, ele ameaçou, provocou, propagou a desconfiança na higidez das urnas, antecipando que não aceitaria os resultados. Depois das eleições, agora se sabem os detalhes macabros, articulou a decretação do Estado de Defesa para intervir no TSE-Tribunal Superior Eleitoral, para impedir a transição democrática. Como esse projeto falhou, graças à posição legalista do comandante do Exército, general Freire Gomes, e do brigadeiro da Aeronáutica, Baptista Junior, os “Kid Pretos” entraram na conspiração para assassinar os eleitos (presidente e vice-presidente) e o juiz Alexandre de Moraes, do STF-Supremo Tribunal Federal. Com a morte dos eleitos e a consequente comoção social estaria aberto o caminho para a declaração de “Garantia da Lei e da Ordem” que levaria à suspensão do pleito eleitoral. Crime contra a democracia, a Constituição, a pátria e, mais diretamente, crime contra a vida de importantes autoridades políticas e jurídicas do Brasil. A essência do pensamento era: Lula não subirá a rampa.

Foi por muito pouco, mas Bolsonaro não conseguiu dar o golpe e agora será, muito provavelmente, preso como criminoso. Mas não foi por um acaso e por um simples espírito democrático que as Forças Armadas rejeitaram o plano golpista de Bolsonaro. Simplesmente não existia nada que pudesse atrair os militares para uma aventura que levaria o Brasil para o abismo, nenhum clima de insegurança institucional, a não ser as ameaças de Bolsonaro. O presidente Lula, que governara o país por dois mandatos, demonstrara respeito às instituições e às Forças Armadas e tinha conduzido o Brasil sem percalços ou riscos políticos e sociais. Pode-se criticar tudo de Lula, seus arroubos populistas, menos que ele seja um perigoso revolucionário ou comunista, como afirmam os delirantes bolsonaristas. Com todos os problemas sociais, o país tinha uma clara estabilidade institucional e, no governo Lula, conviveu com uma economia equilibrada e a melhoria social. Além disso e, também por isso, o presidente Joe Biden, dos Estados Unidos, o país que articulou o golpe de 1964, mandou um recado direto, exigindo respeito às eleições, e foi o primeiro chefe de Estado a reconhecer e parabenizar a vitória de Lula. Agora, podemos comemorar: Lula subiu a rampa.