A rebelião dos detentos do Complexo do Curado do Recife não é um fato isolado nem exclusivo de Pernambuco e, seguramente, não será o último incidente deste porte nos presídios brasileiros. A crise atual em Pernambuco é apenas um sintoma da falência geral do sistema prisional do Brasil com superpopulação, condições precárias de higiene e limpeza, comércio de drogas, armas e facilidades, corrupção e extorsão, tudo agravado pela violência e pelo controle das gangs organizadas. O sistema carcerário do Brasil tem 1,5 presos para cada vaga, média que esconde muita desigualdade e não expressa a situação real da maioria dos presídios. Não é incomum encontrar unidades prisionais com 4 presos por vaga, como ocorre no Complexo do Curado (7.000 presos para 1.800 vagas). A superpopulação decorre, em primeiro lugar, do elevado percentual de presos que aguarda julgamento e que, dependendo da pena, poderiam estar fora da prisão (estima-se que no complexo do Curado, 40% dos presos estão aguardando julgamento). Além da enorme injustiça, a deficiência das varas de execuções penais provoca a superpopulação carcerária. E esta não é muito maior porque o Brasil ainda conta com um pequeno exército de bandidos em atuação fora da prisão. Dados divulgados pela imprensa dão conta de que a política brasileira identifica apenas 10% dos autores de homicídios. Grande parte deles não é presa. Parece que o Estado brasileiro perdeu o controle da situação dentro e fora dos presídios. E as condições precárias das unidades prisionais do Brasil, misturando crimes tão diversos quanto o latrocínio e o tráfico de droga com crimes de baixa gravidade, transforma os presídios em verdadeira universidade do crime. A solução não é fácil nem rápida e, com certeza, não passa apenas pela construção de novas unidades para reduzir a superpopulação. É necessário, além disso, acelerar o julgamento dos presos sem condenação, ampliar as penas alternativas para crimes de baixa gravidade, melhorar as instalações e a oferta de educação e qualificação, ampliar o uso de tornozeleiras eletrônicas para semiaberto, e, principalmente, separar os presos em espaços diferenciados de acordo com a gravidade do crime e a periculosidade dos criminosos.