Precisamente no ano em que o planeta alcança as mais altas temperaturas da História, os Estados Unidos elegem Donald Trump, um negacionista dos estudos científicos que anunciam os desastres decorrentes das mudanças climáticas provocadas pelas emissões de gases de efeito estufa da civilização do petróleo. No seu desastroso primeiro mandato, Trump retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, que reúne 196 países num esforço conjunto para conter o aquecimento global. O acordo define metas de redução das emissões de gases de efeito estufa que, lamentavelmente, não têm sido alcançadas. Nos últimos anos, para desmoralizar os negacionistas, o planeta tem sido sacudido por vários e dramáticos eventos climáticos extremos, atingindo inclusive os Estados Unidos. Trump tem anunciado a suspensão dos incentivos de fomento às fontes de energia limpa, e a intensificação da exploração de petróleo e de gás natural de xisto betuminoso. Com o segundo maior emissor de gases de efeito estufa do planeta (depois da China) abandonando as metas de redução e acelerando a produção e o uso de energia fóssil, a coesão e os compromissos do Acordo de Paris sofrem um forte abalo; nenhum país se sentirá animado a cuidar do planeta enquanto os Estados Unidos avançam na direção contrária. E o planeta marcha para um desastre ambiental de consequências dramáticas e imprevisíveis.
Este é a principal ameaça do incendiário Donald Trump, com sua trunfa arrogante e narcisista. O presidente eleito dos Estados Unidos promete também um desequilíbrio na economia mundial, com o protecionismo. Quando o maior importador de produtos do mundo fechar as portas, o comércio internacional sofrerá uma grande retração, provocando a quebra das cadeias globais de negócios que pode levar a uma crise econômica global. Sem poupar os próprios Estados Unidos, que vão sofrer ondas de elevação dos preços internos, pelas taxas de importação prometidas pelo presidente eleito.
Por outro lado, ainda é incerta a posição de Trump na atual configuração de um mundo bipolar, com um grande bloco de países em torno da aliança China-Rússia, que articula o BRICS, ampliado com a expansão da Rota da Seda em parte da Eurásia e da África. Mas as ideias isolacionistas de Trump podem levar os Estados Unidos a isolar a Europa, espremida entre os dois blocos, incluindo o abandono da Ucrânia, forçando o país a entregar parte do seu território à Rússia. O que os americanos ignoram, e Trump joga para o espaço, são as consequências destas mudanças no próprio país: as mudanças climáticas atingem a todos, a desestruturação da economia atinge duramente os Estados Unidos, e a reconfiguração global reduz o poder desta nação no mundo. Esta última, talvez, seja o único resultado positivo do incendiário Trump 2.0.
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