discussing – by louis Charles moeller.

Mais conversas, hoje novamente só os cemitérios e afins, em livro que estou escrevendo (título da coluna).

INSCRIÇÕES TUMULARES. Seguem algumas de pessoas famosas

* ÁLVARES DE AZEVEDOpoeta.

– No vaso impuro corrompeu-se o néctar

A argila da existência desbotou-me…

O sol de tua glória abriu-me as pálpebras

Da nódoa das paixões purificou-me.

* MÁRIO SOARES, presidente da República de Portugal.

– Só é vencido quem desiste de lutar.

* RUSSELL J. LARSEN, da Marinha. Ganhou o concurso da lápide mais visitada no cemitério de Logan (Utah),

– Cinco regras a seguir pelo homem para uma vida feliz:

1. É importante ter uma mulher que ajude em casa, cozinhe de tempos em tempos, limpe a casa e tenha um trabalho.

2. É importante ter uma mulher que te faça rir.

3. É importante ter uma mulher em que possa confiar e não minta.

4. É importante ter uma mulher que seja boa na cama e que goste de estar contigo.

5. É muito, mas muito importante, que estas quatro mulheres não se conheçam ou podes terminar como eu.

* XICO BEZERRA, poeta e músico. Já deixou escrito aquele que será seu epitáfio

– Sem vontade, cá estou

E daqui não sairei,

Não me acordem, que estou

Sonhando o que nunca sonhei.

MARCELO MESEL, médico. No Cemitério dos Ingleses (Recife), viu essa pixação

– Ensina-se inglês às almas de outros cemitérios.

MARCELO NAVARRO RIBEIRO DANTASministro do STJ.  Mandou passagem de livro (Racconti quotidiani) escrito pelo mestre italiano Andrea Camilleri

 

– Vita mortuorum in memoria est posita vivorum (a vida dos mortos está na memória dos vivos).

E outra, de Antonio Manzini Sellerio, no próprio título do último livro de série policial sobre Rocco Schiavone

– Il passato è um morto senza cadavere (o passado é um morto sem cadáver).

MARK TWAIN, escritor. Em 1887, a imprensa londrina publicou que havia morrido. Seu comentário

– A notícia de minha morte é um pouco exagerada.

MAURÍCIO MENNA BARRETO, cirurgião plástico. Na Capela dos Ossos, um dos mais conhecidos monumentos do Convento e Igreja de São Francisco de Évora (Portugal), bem na entrada, anotou essa placa

– Nós ossos

Que aqui estamos

Pelos vossos esperamos.

ONÉSIMO TEOTÔNIO ALMEIDA, professor da Universidade de Brown (Estados Unidos). Recebeu foto do túmulo de um cemitério argentino com esse epitáfio

– Senhor, recebe-a com a mesma alegria com que eu te a envio.

OTTO LARA REZENDE, escritor. Eram quatro amigos inseparáveis que formavam grupo inspirado nos Quatro Cavaleiros do Apocalipse, personagens descritos na terceira visão profética do apóstolo João, está no livro bíblico da Revelação – fome, guerra, morte, peste, que acontecerão antes do fim dos tempos. Agora eram os Quatro Cavaleiros de um Íntimo Apocalipse – Fernando Sabino, Hélio Pellegrino, Paulo Mendes Campos e Otto, o que mais gostava de conversar no grupo. Um dia Sabino entregou, a Otto, epitáfio que escreveu para ele – por implicância, recusado pela família

– Aqui jaz Otto Lara Resende,

Mineiro ilustre, mancebo guapo!

Deixou saudades isso se entende:

Passou cem anos batendo papo.

TÚMULO NO CEMITÉRIO DE SANTO AMARO (Recife).

– In Memoriam de Camilla Pessôa de Lacerda resignação no sofrimento, coragem na adversidade, honradez nos compromissos, aversão às maledicências.

VICENTE LOBÃO, juiz de futebol. E, antes, goleiro tricampeão de Pernambuco pelo glorioso Náutico. Em junho de 1959 morreu num lugar de má fama. Enfarte, parece. Esmaragdo Marroquim, do Jornal do Commercio, destacou João Pedrosa para tirar fotos desse lamentável acontecimento. Pedrosa era presença obrigatória em literalmente todos os casamentos da cidade. Ele, sua Leicka, seus tiques nervosos e sua imensa capacidade em causar confusão. Como nunca teve pressa, nesta vida, voltou ao jornal sem a foto, que o corpo já tinha saído numa ambulância. Esmaragdo

 

– Seu Pedrosa, pegue Mata-Sete e só volte aqui com a 3×4 do morto. Loooogo!!!

Mata-Sete era um desses faz-tudo, espevitado e raquítico, que se encontram em todas as redações. Logo chegaram ao necrotério, que ficava em uma entrada lateral do Pronto-Socorro, na Rua Fernandes Vieira. E encontraram o corpo, inerte e solitário, que jazia sobre a lousa fria. Gorduchão, Lobão era mais pesado do que deveria. Sem contar que, depois de algumas horas, todo corpo endurece. É o rigor mortis, assim dizem os entendidos. Seria difícil fazer a foto, que Mata-Sete não tinha braço para levantar o cidadão. Mas Pedrosa encontrava solução para todos os problemas. Então se equilibrou sobre dois banquinhos e anunciou a estratégia

– Eu grito vá!, você dá um golpe de caretê na barriga do homem, ele vai um pouco para frente, você sapeca um pescoção na nuca dele, se abaixa, eu tiro a foto e a gente se manda.

Dito e feito. Só não contavam é que ao fim da operação, precisamente na hora em que o flash espocou, o morto desse um berro monumental,

– Uaiiii…,

e saísse correndo. Era o vigia, que dormia, pois o corpo já tinha seguido para o cemitério. Fomos sabendo aos poucos o resto dessa história. Esmaragdo acabou ficando sem sua foto. Pedrosa quebrou a perna, coitado, ao cair dos bancos. Mata-Sete virou pai-de-santo – com fama de ter mãos milagrosas, capazes de ressuscitar defunto. E o vigia se queixou, ao delegado, de ter sido covardemente agredido, mas seus agressores nunca se soube quais foram. Só o pobre do Vicente Lobão cumpriu, religiosamente, seu destino de defunto. Era São João. Nessa noite, segundo se comentou, um grande balão colorido subiu aos céus e nunca mais voltou.

WALTER COSTA PORTO, ministro do Tribunal Superior Eleitoral. Indo para o Ceará escreveu num guardanapo da Transbrasil e entregou, a Henrique Ellery, o epitáfio que desejava para ele próprio

– Aqui neste pequeno horto

Jaz sem nenhum conforto

Walter Costa Porto.

WILFRED GADÊLHA, jornalista. É dele essa definição, a partir de locais do nosso estado,

– Jesus foi um pernambucano arretado que nasceu na Estrada de Belém, fugiu com a família para São José do Egito, viveu em Nazaré da Mata, morreu em Nova Jerusalém e, depois de morto, foi morar no Alto do Céu.

ANO NOVO. Bons anos, amigos leitores. Para todos. Para sempre. . E agora os netos, o “mar salgado” (Pessoa, em Mensagem), a rede e os livros me esperam. Razão pela qual encerro, por breve tempo, essa participação aqui. Para voltar a escrever só depois do Carnaval. Se Deus quiser, claro. E, generoso como é, espero queira mesmo.