O desejo é grande: que 2025 seja melhor que este ano que se encerra. Houve, aqui e ali, algum fato positivo, mas, no geral, 2024 foi um desastre no contexto mundial, e bem complicado no Brasil. A intensificação da guerra na Ucrânia e a explosão do conflito violento no Oriente Médio, com o governo de Israel massacrando a Faixa de Gaza e invadindo o Líbano, tiveram uma compensação com o fim da dinastia de Bashar al-Assad na Síria. Os conflitos continuam e o futuro da Síria é bem incerto. De acordo com o jornalista Américo Martins, citando o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, em mais de 130 recentes conflitos armados no mundo morreram cerca de 200 mil pessoas, e milhões foram deslocadas de suas cidades e países.
O Brasil atravessou o ano com algum sucesso, como a aprovação da Reforma Tributária, o crescimento da economia, e o declínio do desemprego e da pobreza, mas o governo teve grande dificuldade para conter a expansão das despesas primárias, contribuindo para a forte instabilidade cambial que sacudiu o sistema financeiro. A corrupção e o patrimonialismo mantiveram suas raízes nos meios políticos e nas instituições, alimentadas pela impunidade dos condenados pela Operação Lava Jato, convergindo para a disputa de poderes em torno das desprezíveis emendas parlamentares.
2024 vai embora, mas deixou algumas mazelas e plantou uma fonte de riscos e de grande instabilidade. Por cima das guerras e incertezas que continuam ameaçando o mundo, os Estados Unidos, a maior potência econômica e militar do planeta, vão ser conduzidos pelo inefável e arrogante Donald Trump. Negacionista e patrono da energia fóssil, ele vai retirar o país (segundo maior emissor de gases de efeito estufa) do Acordo de Paris, e promete abandonar a Ucrânia à ambição de Vladimir Putin, que já domina parte do território ucraniano, e se afastar da aliança político e diplomática com a Europa. Nos últimos dias, Trump distribuiu chantagens para todo lado, incluindo represália tarifária contra o Brasil, ameaçou anexar o Canadá, que passaria a ser o 51º Estado norte-americano, caso o país não controlasse a migração, e ainda disse que poderia tomar o Canal do Panamá. Como um elefante numa loja de cristais, Trump é uma grave ameaça à segurança, à instabilidade e à paz mundial.
O Brasil não ficará imune às travessuras do futuro presidente dos Estados Unidos. E tem seus próprios desafios internos. Do ponto de vista econômico, o principal desafio reside nas finanças públicas e na capacidade e disposição do governo Lula da Silva de enquadrar-se no Arcabouço Fiscal. Do contrário, a inflação pode acelerar-se e interromper o crescimento da economia. E no terreno político, Lula vai ter que gastar toda a sua habilidade para assegurar a governabilidade, contendo as pretensões de poder e domínio do orçamento de parte do Centrão. À pulsão gastadora do presidente somam-se os valores absurdos dos fundos partidários e eleitorais, e a destinação de grandes volumes de recursos para as emendas parlamentares. Decididamente, 2025 não será um ano fácil. Mesmo assim, reiteramos nossos desejos de um feliz ano novo.
Oxalá 2025 seja melhor. Pela instabilidade já contratada – como dizem os economistas – ficaremos contentes se a situação não piorar, se os preços na feira pararem de subir. O que é impressionante é como as ambições do Brasil encolheram. No último ranking do “The Economist”, que calcula a “nota” de país segundo um composto entre PIB per capita à taxa de câmbio do dólar, PIB per capita à taxa de paridade do poder de compra, e custo+hora trabalhada, o Brasil não está sequer entre os 20 mais ricos. E se considerarmos as brutais diferenças de padrão de vida dentro do Brasil estamos pior ainda.
2024, entre faotres negativos, viu continuar o aumento, bem acima da inflação, do ganho mensal de servidores privilegiados. Vejam-se as classes mais privilegiadas em O País Dos Privilégios Volume 1 – Os Novos E Velhos Donos Do Poder, por Bruno Carazza, Compnhia das Letras, São Paulo, 2024.