De um colega, do qual não esperava muito, chegaram-me, no dia 31 de dezembro, os tradicionais votos de feliz ano novo com uma frase que me surpreendeu: “O melhor está por vir”. Natural que os humanos sejam mais otimistas ao final do ano. Hora de renovação de promessas e congratulações. É um corte inteligente no tempo: parar para se despedir do que passou e desejar melhoras no tempo que se aproxima. Surpreendeu-me porque passei o ano escutando as piores previsões para o futuro. Meus amigos, colegas e conhecidos dividiam-se em dois grupos: os que estavam certos do fim do mundo dentro em breve, como Luís Marques e Martin Rees — alguns até diziam: “o fim do mundo está logo ali ao dobrar a esquina, na próxima década” — e outros, que se dedicavam a cultivar ideias para adiar o fim do mundo, junto com Krenak. Pouquíssimos frequentavam o otimismo dos mundos de Steven Pinker e Ray Kurzweil.
A Folha de São Paulo, de hoje, 01/01/2025, diz que 47% dos brasileiros acreditam que o ano será pior para a maioria da população, mas 61% acreditam que suas vidas serão melhores este ano. Pelo menos um otimismo pessoal.
Entre os acadêmicos, é de mau tom ser otimista. Em geral, o indivíduo com essa postura é tratado como alguém mal informado ou ingênuo. Chique é ser pessimista. Salvo em 31 de dezembro. Uma exceção. E não para todos.
No dia 30, conversando com colegas da academia, que não faziam outra coisa senão reclamar, meu neto não aguentou: “Não sei do que vocês reclamam. Esta é a melhor época para os humanos. Nunca o mundo esteve tão bem: a maioria tem o que comer, não se mata como antigamente, temos eletricidade, água na torneira, informações a rodo. E o melhor, nossos problemas dependem apenas de nós: enfrentar as mudanças climáticas, acabar com a fome, com a guerra e ser feliz. Só de nós”.
Ele tem razão. O mundo tem apenas melhorado nos últimos séculos e anos. Há pouco mais de um século, não tínhamos antibióticos, aviões, computadores, TV, internet, e poucos tinham água encanada e energia. Entre 2016 e 2019, o número de pessoas vivendo na extrema pobreza diminuiu de 787 milhões para 697 milhões. Nos últimos vinte e cinco anos, esse percentual diminuiu 50%. Em 1820, cerca de 80% da população mundial vivia na extrema pobreza; em 2022, menos de 10%. Ainda são muitos, porém em descenso. De 2015 a 2020, o índice de alfabetização no mundo aumentou de 85,5% para 86,8%. E, no mesmo período, o percentual de pessoas com acesso a instalações sanitárias aumentou de 75%. Em 1940, apenas 30% da população tinha instalações sanitárias adequadas; em 2020, eram 80%. Em 1970, ninguém tinha computador em casa; em 2022, dois terços do mundo têm acesso a um smartphone — um verdadeiro computador. No século XVI, exceto algumas poucas repúblicas na Península Itálica, apenas a Inglaterra tinha um regime político que se aproximava da democracia. Em 1900, apenas 3% da população vivia em regimes que se podiam proclamar democráticos; em 1922, alcançou a cifra de 19%, recuando com a Segunda Guerra Mundial, mas avançando após a derrota do nazismo e do fascismo. Com a queda da URSS, entre 1989 e 1991, avançou ainda mais, atingindo 54% no fim do século XX. Esse avanço parou na segunda década do século XXI, mas o recuo é mais presente na cabeça de alguns acadêmicos do que nos fatos.
Atualmente, assistimos a uma revolução extraordinária na TI e IA em todos os campos: saúde (nanotecnologia), energia (renovável), alimento (agricultura de precisão, vertical e laboratório de proteína animal), transporte (veículos autônomos) e produção civil, equipamentos e confecções (novos materiais e impressoras 3D).
Não sentimos, e a esmagadora maioria das pessoas nem sabe dessas melhorias. Em parte, porque o nosso noticiário está focado em guerras, acidentes, mortes e desastres. Um dia, levando um de meus netos (10 anos) à escola, ele me pediu para desligar o rádio. Por quê? perguntei. “Vovô, o rádio não diz o que é, distorce a realidade. Pelo rádio, você imagina que todo mundo é corrupto. Quantos corruptos temos em nossa família? Zero! Quantos de nossos amigos são corruptos? Zero! Quantos colegas de trabalho seus, vovô, são corruptos? Pelo que sei, zero! A gente não mora no Brasil? O rádio dá a impressão de que toda a sociedade brasileira é corrupta, que o nosso país é um amontoado de corruptos. Não é verdade! Tem muitos, mas a esmagadora maioria não é corrupta, nem ladra, nem assassina. O rádio só fala do que não presta. É como nas redes sociais: para ter sucesso, precisa pregar ódio e raiva”. Ele tinha razão. Psicólogos afirmam que somos sintonizados com notícias ameaçadoras. Somos “treinados” a aguardar a entropia.
E ele tem razão. Tudo depende de nós. Imagine se as mudanças climáticas fossem resultado de movimentos próprios ao sol e não das nossas atividades econômicas.
Excelente reflexão com dados que apontam também um progresso enorme. Vamos ver o copo meio cheio, assumir o protagonismo das nossas vidas e fazer de 2025 um ano próspero e de realizações!!
Rayane Ruas – Aveiro, Portugal