David Hulak

The Rain Room – MOMA.

Um espectro ronda o mundo. Caiu a máscara da tolerância politicamente correta. Só dá não tolero, odeio; não me importa, fodam-se. Anos atrás, no falido Orkut – lembram daquela mídia “social”? – grupos criavam os Odeio Tal Coisa, mas os seus membros não ousavam demonstrar repulsa racial, étnica, homofóbica e coisas deste jaez. Política e ideologias eram tratadas suavemente, mais ou menos.

Foi-se o tempo, e generalizou-se o pega- pra-capar via TI e ao vivo. Cantor não podia cantar, entre assuadas, patadas, gritos e acusações de golpismo, exigências de Fora Temer. Dia desses, Chico quase apanha na porta de restaurante, e a intolerância foi pondo as manguinhas de fora entre os “direitistas e os esquerdistas”, seja lá o que isso for.

Neste Brasil sem discriminação racial, uma jovem DJ, Lili Prohma , branca, foi tocar uma música da bendita Dona Ivone Lara, (https://www.letras.mus.br/dona-ivone-lara/277119/) e outra jovem, negra, aos berros, tentou impedi-la com o argumento de que uma branca não poderia fazê-lo.

Lá em cima, alguns assessores trumpalhadistas foram impedidos de comer em restaurantes mexicanos e em outros tão wasps quanto os frustrados comensais.

Acima de nós e cruzando o Mar Oceano, o Primeiro Ministro da Itália anda fazendo um censo de ciganos sem explicar por que, mas está na cara, né?

Ranger de dentes, tinir de açoites, diariamente. Catando em jornais, revistas, rádios e, vez em quando, na tv, os exemplos a citar entupiriam esta “Sera?”.

Ora direis, isso sempre existiu, é mais velho do que o rascunho da Bíblia. E me contaríeis (João 4.5-43;17:3) que uma jovem com um cântaro cheio d`água assombrou-se quando lhe pediram uns goles, pois ela era uma samaritana! Ou me lembraríeis que os Jibionitas que não queriam deixar os efraimitas atravessar o Jordão perguntavam-lhes: Quereis cruzar o Chibolete, então dizei-o. E os de Efraim se traiam pois, por língua travada, pronunciavam Sibolete. Com essa pegadinha, os da cabine de pedágio do Rio Corrente mataram quarenta e dois mil dos que só queriam passar para o lado de lá. (Juízes 12:6).

Por falar em juízes, os da Suprema Corte dos EUA, nesta semana, qual uma Segunda Turma do nosso STF, ratificaram a terceira versão do decreto trumpalhadista que impedia dar visto a muçulmanos e, para disfarçar e dar uma saída aos cinco dentre nove, aditaram alguns venezuelanos e todos os norte-coreanos. Os decretados não passarão nem pagando pedágio.

Agora, os originários dos Sete Países poderão economizar as taxas consulares americanas e terão que esperar para ir às disneylândias. Menos importante, mas que me aflige, pois havia lido que cogitavam convidar o novo amigo de Trump, aquele Jong-un, amigado em Singapura, para jogar golfe. Ele vai poder entrar?

Também os do Triangulo do Norte, hondurenhos, salvadorenhos e guatemaltecos, tentaram economizar as taxas aos coiotes, caminhando em grandes levas, qual zumbis de filmes apocalípticos americanos. Encontraram, no entanto, os modernos rangers, que hoje garantem os territórios antes tomados aos mexicanos, com a desculpa de vingarem o massacre do Álamo. By the way, isso também deu outros filmes emocionantes, com final feliz para os texanos.

By the way, twice, a intolerância envergonhada ressurge argumentando que os zumbis sabem que não os querem, que há duras leis punindo os que sonham em cruzar o Rio Grande. Mais, que não deveriam levar ou mandar sob guarda alheia as suas proles, pois estariam cansos de saber que elas seriam enjauladas por um tempinho, prorrogável, até que houvesse liberação de verbas e espaços para transferi-las para confortáveis campos de concentração.

Pasmei em ler críticas aos que, com horror poético, comparavam a atual molecada com a segregada pelos nazistas alemães e poloneses – data vênia, Morawiecki -, pois os petizes latino-americanos não iriam para as câmaras de gases e de incineração. Meninos, eu li!

O que os pais poderiam fazer, além de ficarem sujeitos à miséria, ao fogo cruzado dos narcotraficantes, ao recrutamento forçado de suas crianças pelas gangues, a engolirem com muito sal a impossibilidade de sonhar o Sonho Americano?

Talvez, qual Aarão e Joquebede, deveriam colocar seus rebentos em cestas e deixar que elas flutuassem no Rio Bravo, qual Moises. (Êxodo 2:1-6). Quem sabe se uma princesa egípcia transmudada em uma Ivanka, Princess do Novíssimo Mundo, descendente de imigrantes tchecos e austríacos, os recolheria?

Poderia, para tanto, antepor-se biblicamente a Sarah Sanders, pois esta usou Romanos:13 para explicar que os guardas de fronteira estavam apenas cumprindo ordens. Há dúvidas se o Apóstolo, quando ainda não era São Paulo, quis dar esse sentido na sua carta, como interpretou a Porta Voz que fala muito, pois a voz portável prefere tuitar. Mas, recordo que, sem exegese, isso foi ouvido, em claro e bom som, em Nuremberg.

Chega. É apenas quarta feira, 13:02 horas. Resta o futebol.

Alegria! Gozando no gol dos outros!

Alemanha fora e o México classificado, mesmo perdendo. Latinoamericanidad em alta e os nossos torturadores de quatro anos atrás terão um certo pudor em se gabar dos sete a um.

E nós?  Veremos logo mais, depois de noventa minutos e misteriosos acréscimos.

Já é logo mais, enfim. Que bom, vamos em frente com mérito. Alegria generalizada e pouca atenção aos candidatos a Presidente, cujo número via diminuído, e que ficarão em três ou quatro até que alguém, espero que um dos nossos, levante o caneco. Isto será apenas expectativa. Tite, a cada jogo, muda o capitão do time, e tem candidato renitente.

A quarta feira foi anoitecendo, e nas pequenas notícias que escaparam da cobertura do futebol, sobressaem duas. Uma, de alivio, pois teremos longo intervalo de tensões, por conta do início do recesso do Supremo de cá; outra, de preocupação pela aposentadoria do moderado juiz Antony Kennedy, do Supremo de lá. O seu substituto será indicado por Trump, aumentando o placar do conservadorismo (eufemismo do redator).

Entrando por uma perna de pinto e saíndo por uma de pato, e daí.? Este texto começou com o destampar da intolerância reprimida. Tenho desconfianças sobre os motivos. Acho que o sinal verde foi dado pela posse de Trump. Pelo grid de largada, os e as intolerantes estavam só esperando a bandeirada, perfilados em um buraco mais em baixo. Será preciso identificá-los, mas é quase quinta-feira, a revista tem data fatal. Se estas mal digitadas linhas não seguirem no prazo, não irão a lume. Na próxima semana tentarei destampar mais.

Não sei se isso é uma ameaça ou se gera uma esperança, para que os meus três leitores fiquem sabendo o motivo do kosovar e do albanês metidos a suíços terem sido multados pela FIFA.

Eita! Vejam só como Será? deveria ser diária. Já é quinta, e ontem, enquanto víamos o jogão, os deputados de lá desaprovaram por elevado placar- 301 contra e 121 pró- a ultima versão do Decreto de Imigração. Os republicanos acharam que ele era pouco rigoroso. Os democratas consideraram que o texto era horrendo, inclusive por trazer, como penduricalho (mais uma vez o mundo se curva ao Brasil), a grana necessária para construir o Muro de Trump.

Nada como a proximidade de uma eleição legislativa.