DEATH MARCH (CZECHOWICE-BIELSKO, JANUARY 1945), 1945, JAN HARTMAN.

 

No editorial da semana passada, comentando a formação de uma frente ampla do Partido Democrata (com apoio de líderes republicanos) para impedir a reeleição do presidente Donald Trump, a Revista Será? defendia que democratas brasileiros aprendessem a lição: “deixem de lado suas ambições político-partidárias, relevem as divergências e disputas passadas, e se unam em torno de uma candidatura eleitoralmente forte para impedir a reeleição de Jair Bolsonaro em 2022”.

Lá e cá, os democratas estão diante de um governante beligerante, isolacionista e negacionista, desrespeitoso dos valores democráticos e civilizatórios. Nesta semana, o governador da Bahia, Rui Costa do PT-Partido dos Trabalhadores, defendeu uma aliança eleitoral com “todo mundo”, incluindo o PSDB e o DEM do Prefeito de Salvador, para vencer a “truculência” do atual presidente. “Acho que todos devem se unir. No estilo da eleição americana, temos que demonstrar quanto está sendo ruim, quanto será desastroso para o Brasil se nós não mudarmos o rumo do país”, declarou o governador.

Antes que se pudesse comemorar a boa disposição política do governador, a presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, rejeitou a sua proposta eleitoral afirmando que o partido não aceita a inelegibilidade do ex-presidente Lula que, segundo ela, deve ser o candidato do PT em 2022. Não entendeu ainda que a polarização ajuda a Bolsonaro, mais ainda quando ressalta o nome de Lula.

A inflexibilidade do PT a aceitar uma aliança sem a sua hegemonia não é o único obstáculo à formação de uma aliança político-eleitoral contra Bolsonaro. Existem diferenças profundas de entendimento da crise econômica e das medidas e políticas para recuperar a capacidade de investimento do Estado brasileiro. Curiosamente, Bolsonaro está dando sinais de que está levando seu governo numa direção muito parecida com a gestão desastrosa da ex-presidente Dilma Rousseff do PT, evitando privatizações, fugindo de reformas politicamente incomodas e ampliando as despesas públicas para além da capacidade fiscal. Com isto, Bolsonaro desarma politicamente o PT.

A oposição, mesmo sem os petistas, deve se unir para disputa eleitoral de 2022 com propostas para salvar o Brasil da truculência, como diz Rui Costa, e do aprofundamento da crise econômica que pode resultar desta guinada política do presidente.