O presidente Jair Bolsonaro é um mentiroso contumaz, tão cínico quanto o seu ídolo norte-americano, Donald Trump, inventores de falácias e falsificadores dos fatos. Eles se superaram nos seus discursos na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, empurrando os dois países na contramão da história com o negacionismo e o isolacionismo.
No momento em que as queimadas avançam no Brasil e que os dados de desmatamento denunciam o descaso com o meio ambiente, para Bolsonaro não restava alternativa à mentira, o que não o constrange em absoluto. Como sempre, o presidente negou e demonizou toda crítica ao desmantelo do seu governo, especialmente ao desmonte da política ambiental que está intensificando as queimadas e o desmatamento na Amazônia, acusando a imprensa e uma suposta conspiração internacional contra o Brasil e o seu governo. Além de afirmar, sem enrubescer, que as queimadas são provocadas por caboclos e índios, Bolsonaro completou que os “… focos criminosos são combatidos com rigor e determinação. Mantenho minha política de tolerância zero com o crime ambiental“.
E os fatos, presidente? Com os Estados Unidos concentrando 20% das vítimas do Covid-19 no mundo (mais de 200 mil mortos), Trump tentou desviar a atenção do eleitor para o desastre sanitário do seu país com ataque a um inimigo externo, a China que, segundo afirmou, “soltou esta praga no mundo” e deve ser responsabilizada por isto.
Jair Bolsonaro é uma versão subdesenvolvida do presidente dos Estados Unidos, mas não perde a oportunidade de um discurso no “palanque” da ONU para fazer propaganda política para o seu ídolo, candidato ameaçado nas próximas eleições norte-americanas. Incluiu no pronunciamento um elogio ao presidente norte-americano pelo acordo de paz entre Israel e dois países árabes, de muito pouco significado no conflito do Oriente Médio. Felizmente a eficácia eleitoral deste discurso é igual a zero. Para sair da crise mundial e lidar com os grandes desafios globais – sanitários, ambientais, sociais e econômicos evitar o colapso ambiental – o mundo deve caminhar para a cooperação entre as nações, a começar pelo reconhecimento dos problemas e pela confiança na ciência. Trump e Bolsonaro estão sozinhos empurrando seus países na contramão da história. Até quando?
Desgraçadamente, o Presidente Bolsonaro é incapaz de avaliar se interessa ao Brasil esse apoio à suposta normalização das relações entre Israel e dois pequenos estados árabes, ilusões de modernidade sem qualquer respeito a direitos democráticos, sequer direitos humanos. Bahrain já tinha boas relações com Israel, agora apenas formalizadas para a campanha eleitoral americana. Esse acordo não teria sido assinado se não houvesse concordância da Arábia Saudita. E nem sei se nosso Presidente tem capacidade para perceber que essa aproximação entre califa Bin Zayed, rei Hamad, ministro Netanyahu e presidente Trump, com a bendição do rei Salman, se explica pelo adversário comum em Teerã.