Os fuzilamentos de três de Maio – Francisco de Goya
Da Turquia à Candelária, os jovens estão cansados da falta de seriedade e competência dos governantes. São movimentos cidadãos e o espaço público urbano vai se tornar em breve um bem escasso de primeira necessidade. O movimento de Istambul tem um valor simbólico, mas na verdade a resistência cidadã expressa na mobilização de jovens pelas redes sociais já tem uma história desde a Tunísia, o Egito, Nova York. A Avenida Paulista, coração simbólico do capitalismo tupiniquim e espaço público por excelência do Brasil urbano, começou a entrar em linha com esses novos ventos da construção de uma nova cidade e cidadania. A bandeira do preço das passagens do transporte públic o foi apenas o início de um MOVIMENTO que se espraiou nas principais cidades brasileiras e com várias bandeiras que expressam a insatisfação difusa da população com a situação do país e a alienação total dos políticos de todos os partidos e níveis. Somente ontem, segunda feira 17 de junho, mais de 220 mil pessoas participaram de protestos de rua em várias cidades de norte a sul do Brasil, passando a incluir gritos de descontentamento contra o governo, o uso do dinheiro público nas obras da Copa, a PEC 37, a corrupção, e a favor de melhorias no transporte público, na saúde e na educação. Em que vai dar tudo isso ainda não sabemos. Mas sabemos sim, da importância da mobilização da juventude ocupando espaços públicos.
Se a comparação da foto é pra valer mesmo, então cabe a pergunta: qual Infante defendem os jovens, hoje? Como se sabe, este quadro de Goya, “Os fuzilamentos de três de Maio”, representa os resistentes de Madrid que foram assassinados, em 1808, pelas tropas de Napoleão, enquanto defendiam o seu infante, D. Francisco de Paula de Bourbon!
Com modificações mínimas, assumo como meu este escrito de um amigo que prefere não se identificar:
“Suponha que digam: fiquem nas avenidas os que são a favor do bolsa família. Uns sairiam de fininho. Fiquem nas avenidas os que são a favor da união homoafetiva. Outros sairiam de fininho. Fiquem nas avenidas os que são a favor da descriminalização das drogas. Outros sairiam de fininho. Fiquem os que são a favor da reforma agrária. Outros sairiam de fininho. Fiquem os que são a favor do aborto. Um bom punhado se afastaria dos manifestantes. Aí suponha também que digam: fiquem nas avenidas os que acham que o processo do mensalão do PT é marmelada. Acho que metade dessa multidão, ou mais, sairia, não de fininho, mas com invectivas contra o movimento. Porque, não se engane, quando falam em corrupção, estão falando sobretudo do PT et alii. Essas manifestações, lindas de encher os olhos, emocionantes, suprapartidárias, chegam a parecer um festival amorfo e narcisista (como alguns dos posts no FB) de muitas vozes que, só aos incautos, parecem gritar em uníssono. Separe a “indignação geral” em uma série de causas particulares MAIS RELEVANTES DO QUE o passe livre – e o gigante diminuirá de tamanho. Vou contra a corrente, assumindo o risco de erro de avaliação, mas essa manifestação, se é pelo passe livre ou pela mobilidade urbana, é uma decepção! Porque ninguém, nunca, jamais, se compadeceu com o meninx miserável, drogadx, famintx, doente, prostituídx, que com nossa costumeira frieza ignoramos todos os dias. Essa multidão deveria estar gritando contra a fome e a miséria dessas crianças. Diante de tudo isso, passe livre se revela uma titica e mobilidade urbana também”.
Não entendí o que o autor acima (ou autora, que o assumiu) quis destacar. Ao meu ver, as manifestações em curso são um fato concreto, e se pode concordar com suas bandeiras ou não, dizer que não tem bandeiras, que são fascistas, socialistas, ou o que sejam, mas não entendo quando se diz que são uma decepção. Estão decepcionando quem? Porque? Decepção = frustração. Assim, há uma frustração com elas – elas (as manifestações) deveriam ser de outro tipo, de outra forma. Ora, mas elas são UM FATO, um movimento social espontaneo – como dizer a elas que sejam outra coisa?
O Brasil começou a despertar e a ficar mais interessante. A insatisfação e a indignação de parte da população começou a ter voz e pernas. Os símbolos do poder, Congresso, Assembleias Legislativas e Palácios são os alvos preferenciais porque neles se abrigam os políticos que estão calados e com medo de se manifestarem. O cuidado agora é com o rumo do movimento. Se ficar restrito às passagens pode se esvaziar, se ampliar muito pode perder direção. Não vão faltar “donos” à direita e a esquerda. Vamos observar e participar.
Quem esta contra a PEC 37? o Ministerio publico que quer governar sem ter sido eleito pelo povo. Se o MP investigar quem pode investigar os juizes?
Como alguem pode confundir a situação da Turquia com a situação Brasileira? Desculpe mas sinto falta de informação. A Turquia elegeu um primeiro ministro do partido Islâmico conservador que quer transformar um estado Laico em um estado Islâmico, ver as ultimas leis proibindo qualquer manifestação de afeto em publico e vendas de bebidas após as 22 horas. Manifestações contra o que? A copa? Por que tanta festa quando o Brasil venceu a disputa?
Há um mes foi divulgado o fim da bolsa familia na internet, 01 semana depois os índios invadem diversas fazendas. 01 semana depois os jovens saem protestando contra o aumento de 6% (1º em 18 meses) na passagem do onibus e o protesto ganha o Brasil. E??? Ontem a Globo dizia o movimento foi causado pela inflação no país e o caos econômico. Pessoas que moram em Nova York, fazem protestos para mudar o Brasil, mas continuam morando em um país onde e-mail, redes sociais entre outros são monitorados pelo estado.
O Brasil precisa melhorar muito, tenho plena consciência disto, principalmente no que diz respeito as eleições, votação consciente, não voto de protesto! Porem, eu consigo ver as melhoras: Mais jovens carentes na Universidade, o ciências sem fronteiras, permitindo que jovens possam conhecer a realidade de ouros países, entre outros. Qual a percentagem de jovens desempregados no Brasil e na Europa?
E a saúde? falta médicos mas os médicos formados no Brasil não querem ir para o interior, e o governo não pode trazer médicos de fora, pois para a classe médica não faltam médicos (sic) no Brasil!
Os atos de vandalismo, depredação e roubo que se valem dos protestos em curso são absolutamente condenáveis e “emburrecidos”. Notadamente são indivíduos sem qualquer causa a defender ou reivindicação a expressar. São os que se pautam pela negação, totalmente alienados. Mas há os que não tiveram acesso a nenhum bem social de direito inalienável – saúde, educação, cultura, trabalho, lazer. Uma sociedade ancorada no consumismo,na exclusão social produziu uma massa violenta e amoral, que rouba, destrói e mata, sem constrangimento. Décadas de uma política corrupta, que vandaliza o Estado agudizou o banditismo. Não quero justificar bandidos e predadores, apenas compreender sua causalidade! Nossa sociedade, historicamente, exclui e aliena, a consequência é a que vemos: uma massa hostil, cruel e oportunista. Tomara que a organização popular em curso dê início a uma nova concepção de cidadania, com mais criticidade, participação e consciência política.
Protestos.
Recebi atencioso e-mail de José Bertotti, no qual comenta e transcreve texto do Presidente do PC do B, Renato Rabelo do qual, por ser longo para copiar todo, salvo um parágrafo.
“O PCdoB se empenhará – por meio da sua influencia no movimento social e da sua participação e relação com os governos democráticos – na busca emergencial de medidas que encontrem já soluções para reduzir os preços das tarifas dos transportes urbanos e para maior eficácia das redes de transporte coletivo. Neste momento é necessário um esforço conjugado que reúna os governos Federal, estadual e municipal no caminho de encontrar uma saída de como responder a esses sentidos anseios” …
Respondi:
Prezados, Camaradas ou não.
Acho que é hora de aproveitar, refletir e tratar seriamente da Reforma Política e Eleitoral. Bem como lideranças que ainda possam ter credibilidade tentarem demonstrar que os que estão na Praça dos Três Poderes e nas trincas locais estão porque os protestantes votaram neles. Poderá haver novos ou recicláveis ocupantes?
A internet é irreversível, mas substituir os Partidos e os Parlamentos?
O que está na rua, parece-me, é cansaço e rebeldia. Como não há “um fato (requisito formal); que haja fato determinado (requisito substancial)” a CPI da classe média (por enquanto) coloca tudo e todos no mesmo saco de lixo não sustentáveis. Resíduos flácidos, flexíveis, fluidos, instáveis.
Acompanhei jovens que estão nos EUA e na Austrália lamentando não poder participar das mobilizações e conclamando a participação de seus amigos que ainda estudam no Brasil.
Haverá a possibilidade de transformar rebelião em revolução democrática? Assumir os poderes ditaduras? Haverá líderes para tanto? Haverá lenines “uptodates”.
Ministério Público.
Puliça é puliça, diria um sargento/delegado numa pequena cidade do interior. Já vimos a exorbitância do poder nas Macondos e Taperoás da vida.
Disse-me uma confiável fonte que há pelo menos três Deputados Federais por Pernambuco favoráveis a castrar o MP e um deles, provavelmente, por revanche.
Concordo com Ignez que a comparação das manifestações no Brasil com os movimentos na Turquia deve ser repensada pelos editores. Os fundamentos da insatisfação que mobiliza a população aqui e alhures parecem bem diferentes. O que têm sim de semelhante, mas também semelhante à derrubada da ditadura egípcia, são os meios de comunicação e organização, vale dizer, as redes sociais, que dão velocidade e amplitude ao movimento (alguém dizia que se trata do panfleto da era digital). Tanto é que na Turquia o movimento evoluiu para pedido de afastamento do primeiro ministro, o que parece impensável e inadequado no Brasil, mesmo porque a insatisfação e revolta é com todos os políticos e mesmo os mecanismos de representação. Mesmo sem um conhecimento claro do que acontece na Turquia, tenho dúvidas que as agitações no Brasil sejam parte de uma tendência global E isso é importante para um diagnóstico correto que permita definir propostas de organização e equacionamento dos problemas.
Há alguns comentários surpreendentes nesta seção mas aquele que me deixou confuso, nos mesmos termos do Afrânio Tavares é aquele em que, de antemão, cria um hipotético “certificado de validação dos manifestantes”!!!Assim só deveria se manifestar quem fosse a favor do: bolsa família, do aborto,da descriminalização das drogas et al. Na verdade é uma forma de desqualificação prévia de quem não segue o ideário apresentado. Surpreendente também é o fato do comentário se apoiar em declarações de um anônimo.
Orwell ou congresso de tartufos e arlequins?
Ednardo Melo
Mudou! O tempo mudou. Não são mais protestos urbanos soltos, que pegaram todos de surpresa, que não sabiam bem onde queriam chegar. Agora o governo entrou na jogada, e tenta a farsa da cooptação, via plebiscito. Na verdade, o Rui Falcão já tem pronta sua cartilha de ¨Reforma Política¨ elaborada pelo PT, que tentará a todo custo viabilizar. É um golpe descarado: voto em lista e financiamento público de campanha, principalmente, são propostas antidemocráticas, que facilitarão a permanencia no poder de quem lá está – ou seja, o próprio PT. Nós temos uma tradição teórica e política bem mais consistente e melhor que a engendrada pelo Chavez, e os petistas poderiam se valer dela. Não se envergonham de propor algo tão primário.
Chamo a atenção ara este novo momento! A Revista Será? deveria instigar este debate, pois ele vai se intensificar.