Trump e Netanyahu

Trump e Netanyahu

Depois de destruir a Faixa de Gaza, deixar as cidades em ruínas, desestruturar o Hamas, matar mais de 65 mil palestinos — a grande maioria civis — e reduzir a população do território à fome e à completa carência, o governo de Benjamin Netanyahu aceitou o plano de paz imposto pelo presidente Donald Trump, dos Estados Unidos.

Até então, Trump havia apoiado sem restrições o massacre em Gaza: dizia que a população palestina deveria deixar o território, defendia a construção de resorts turísticos no Mediterrâneo e chegou a divulgar um vídeo grotesco com uma grande estátua em sua homenagem. Esse senhor da guerra agora se apresenta como o senhor da paz. É imprevisível em sua arrogância, mas, felizmente, desta vez mudou para melhor.

O plano apresentado por Trump — negociado com alguns países árabes — é, de fato, positivo, sobretudo porque propõe um caminho de reconstrução da Faixa de Gaza e, o mais importante, a preparação para a criação de um Estado Palestino. O processo começou com a libertação dos reféns detidos pelo Hamas e a soltura de milhares de militantes palestinos presos por Israel, fatos que reacenderam a esperança de uma paz duradoura na região.

O futuro, contudo, permanece incerto. Netanyahu não queria encerrar a guerra, e o Hamas aceitou praticamente sua rendição — a entrega das armas é uma rendição — por estar fragilizado e pressionado pelos países que o apoiavam, especialmente o Catar.

Para a segunda fase do plano, há mais dúvidas do que esperanças. Dúvidas sobre o comportamento de ambos os lados: o Hamas realmente entregará as armas e aceitará a presença de uma força internacional de paz em Gaza? Israel concordará com a formação de um governo provisório, ainda que técnico, para conduzir a reconstrução do território em ruínas?

Mesmo após o acordo, Netanyahu segue afirmando que, em nenhuma hipótese, aceitará a criação de um Estado Palestino. E o Hamas dificilmente reconhecerá o Estado de Israel.

A paz imposta de fora — por Trump e pelos países árabes — não será sustentável enquanto israelenses e palestinos não tiverem lideranças fortes, legítimas e dispostas a aceitar a convivência pacífica de dois Estados na região.