Há pouco mais de um ano, o Brasil escapou por pouco de um golpe de Estado com intervenção militar, que pretendia rasgar a Constituição, impedir a posse do presidente Lula da Silva, legitimamente eleito, e manter no poder o candidato derrotado nas eleições, o inefável ex-presidente Jair Bolsonaro. No caso de sucesso, a aventura golpista teria levado, inevitavelmente, à destruição das instituições democráticas, prisões de lideranças políticas, fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, iniciando com a prisão do ministro Alexandre de Morais, censura à imprensa e implantação de um regime repressivo.
Bolsonaro queria reeditar o que aconteceu há exatos 60 anos (completam no dia 1/4), quando os militares tomaram o poder, destituíram o presidente João Goulart e implantaram uma ditadura que durou 21 anos (1964 a 1985), e deixou um rastro de violência. Censura à imprensa, proibição de partidos e de organizações (existência de um único partido de oposição, tolerado e controlado), garrote no Legislativo e no Judiciário e, sua face mais perversa: prisões, exílios, torturas e mortes de adversários. Não se pode esquecer o golpe de 1964, nem a tentativa golpista fracassada de Bolsonaro.
A democracia brasileira, construída sobre os escombros da ditadura militar e consolidada com a Constituição de 1988, resistiu à tentativa de golpe de Bolsonaro. Mas foi por muito pouco. Até por isto, é necessário mostrar à sociedade brasileira o que significa um regime ditatorial, qual o peso da repressão e da censura na vida dos cidadãos, quanto de custo humano e social os brasileiros tiveram que pagar, ao longo de duas décadas. A lembrança dos tempos sombrios da ditadura pode ajudar a vacinar os brasileiros contra os aventureiros que, como Bolsonaro, pretendem destruir a Constituição e as instituições democráticas.
O presidente Lula da Silva decidiu não realizar eventos que lembrem criticamente os 60 anos do golpe e, ao mesmo tempo, proibiu manifestações saudosistas da ditadura dentro das Forças Armadas. Lula está certo. Num ambiente de intensa polarização política e com feridas ainda abertas do golpismo bolsonarista, o Estado deve abster-se de estimular conflitos e levar a política para os quartéis. Nada impede, contudo, que os partidos políticos e as organizações da sociedade civil promovam eventos, debates, exposições e palestras que alimentem a memória dos tempos negros da ditadura militar. Cabe aos partidos e organizações sociais assumir a promoção de inciativas e manifestações que registrem os 60 anos do golpe de Estado. A memória que alimenta as convicções democráticas dos brasileiros.
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