Editorial

Não adianta buscar culpados pela tragédia do edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou esta semana em São Paulo. Governos, movimentos sociais e Ministério Público, todos fracassaram na tentativa de desativar uma bomba social armada ao longo de várias décadas, e fracassaram não apenas por conta da complexidade do problema, mas, principalmente, pela resistência à cooperação e pela disputa de interesses. Os governos não oferecem habitações dígnas, os movimentos sociais promovem invasões em lugares de risco e rejeitam qualquer iniciativa de realocação, e o Ministério Público nem sempre ajuda (neste caso concreto, parece ter jogado o problema embaixo do tapete). Mas os culpados, rigorosamente, somos todos os brasileiros que, de alguma forma e ao longo dos anos, deixamos expandir e aprofundar o drama social das cidades brasileiras, com milhões de pessoas vivendo em condições precárias, em prédios invadidos ou em favelas miseráveis. O desastre do edifício de São Paulo é apenas mais uma explosão dessa bomba, que se formou pelo descaso e por decisões erradas e irresponsáveis dos governos do passado. E não adianta ficar agora criticando esses governos porque, desde 1988, todos eles foram eleitos e apoiados pela maioria dos brasileiros. Portanto, somos todos culpados pela enorme e persistente desigualdade social do Brasil, pela vergonhosa pobreza, e por um déficit habitacional de mais de 7,7 milhões de moradias, que obriga a parte pobre da população a viver sob o risco permanente de incêndio e de queda de barreiras, para não falar da violência de cada dia. Desativar agora essas bombas que se espalham pelas cidades é tarefa muito difícil. Mais ainda quando predomina a desconfiança entre agentes públicos e atores sociais, e quando os cofres públicos estão vazios e capturados por grupos de interesses insensíveis ao drama social.