Há relação de causalidade entre duas coisas, se e somente se, a ocorrência de um produzir o segundo, ou seja, se um for a causa e o outro o seu efeito. Conhecimento cotidiano dos mais importantes, curiosamente tem sido alvo de deturpações. Afinal de contas, lembrando um exemplo famoso, “Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?”.
Diferenciar uma ocorrência de sua percepção é uma distinção básica em metodologia da pesquisa científica. A concepção clássica de relação causal foi alterada pela crítica de David Hume. De acordo com o filósofo, a relação de causa e efeito não se encontra de fato na Natureza. Trata-se apenas de uma representação criada pela mente humana para registrar o fenômeno.
É imprescindível sinalizar a diferença entre correlação e causalidade. Já discorremos sobre causalidade. Ocorre a correlação quando duas variáveis se relacionam de alguma forma, mas uma não determina a outra. Em “Tostines é fresquinho porque vende mais” há correlação apenas. Não há lógica em afirmar que um produto vende muito e, por isso, ele adquire o seu frescor!
A ascensão da extrema direita, todos sabemos, aparece na literatura especializada em correlação com crises econômicas, dando forma praticamente a um padrão explicativo, pelo menos desde a crise que se instalou após o término da Primeira Guerra Mundial, momento no qual o Fascismo chegou ao poder na Itália com Benito Mussolini e o Nazismo na Alemanha com Hitler.
Mas, correlação não é causalidade. A força política e a crise econômica estão correlacionadas porque não foi possível estabelecer uma relação de causa e efeito entre as variáveis. Neste caso, a correlação seria como uma “janela de oportunidade”, isto é, a extrema direita se aproveitou do caos social em curso na Europa para fazer proselitismo de sua agenda ideológica.
Vejamos a coisa de outro jeito. Desde a mais tenra idade, recebi o ensinamento básico de minha avó: – o fato de o galo cantar não significa que ele seja a causa do sol nascer. Ela arrematou de modo incisivo: – se o galo não cantar o sol não vai nascer? Criança criativa, tirei a prova dos nove! Batizei a água do galo e no dia seguinte ele não cantou! Nascia um cientista?
Com o negacionismo é bem diferente. A discussão sobre causalidade, por certo, está vinculada a uma notícia falsa. Um exemplo: o vereador de Caxias do Sul, Sandro Fantinel (PL-RS), bolsonarista, defendeu a retirada de vegetação nativa de uma faixa de cinco metros de cada lado das principais estradas da cidade, pois o peso das árvores estaria causando deslizamentos!!!
Não podendo recorrer à imaturidade, pois o vereador já é uma pessoa adulta, em plena atividade profissional, resta questionar se essa incoerência é resultado do (i) dogmatismo excessivo do político (bolsonarista empedernido); (ii) do desconhecimento dos temas ambientais; (iii) ou tudo isso junto e misturado? Teria sido proposital a inversão na relação de causa e efeito?
Diante da catástrofe de proporções gigantescas vivida pelos gaúchos, com a quantidade de mortos e desabrigados, além da destruição material e patrimonial, certamente essa violência simbólica se torna totalmente dispensável. Logo, a fala do vereador seria cômica, se antes não fosse trágica.
Mas, suspeito que ainda seremos submetidos a muitas outras bizarrices do gênero!
Interessante artigo. Questões e conclusões importantes.
Só discordo da estranha conclusão de que “a relação de causa e efeito não se encontra de fato na Natureza”.
Ao contrário, de fato a realidade, seja ela física, biológica ou social, está cheia de relações de causa e efeito.
Nossas “representações”, como por exemplo a Lei da Gravidade, são criações humanas. Mas a gravidade está lá causando a queda dos corpos, e bem antes que pensássemos em representá-la.