Maestro não fala. Maestro rege. Assim são os inspiradores, que sabem presidir. Basta o gesto, o olhar. Sem repreensão que dá temor. Mas com compreensão que oferta apoio. Esta é a via mais avançada da teoria da administração. As organizações são horizontais, baseadas na cooperação. E não mais verticais, determinadas à hierarquia.
Tome-se o exemplo de maestros mais conhecidos. O italiano Ricardo Muti, nascido em Nápoles, caracterizava-se por ser autoritário. Regia com os dentes. O austríaco, Herbert von Karajan, ao contrário, era calmo. O terceiro, Leonard Bernstein, estado-unidense, nascido em Massachusetts, distinguia sua atuação pelo diálogo com os integrantes das orquestras. Chegou ao cume da carreira. Dirigiu as grandes orquestras. O estilo ajudou.
Por aqui, no campo econômico, presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, respondeu a mais uma crítica do presidente Lula sobre taxa de juros. Disse que a palavra de autoridade, como o presidente da República, pesa. E que isto “leva a um prêmio de risco lá na frente”. O presidente da República, de tempos para cá, está mais para tenor do que para maestro.
Há tempo, gestão deixou de ser feita com grito. Com ameaça. Principalmente quando se trata de área especializada. E sensível. Como política monetária. Em todas as áreas de atividade, um país, que cresce, vai se tornando mais complexo. E o desempenho do governo e das empresas vai exigindo mais sofisticação. E sensibilidade.
Estou lendo livro que registra a queda de participação do eleitorado nas eleições. O registro foca as eleições parlamentares nacionais, entre 1950 e 2011, com grupo de quinze países selecionados. Em 1960, o grau de participação foi de 84,1%. E veio caindo. Em 2011, bateu no chão dos 72,5%.
A falta de solução dos problemas mais graves, como desemprego e oferta de saúde, justifica este quadro, segundo o estudo. Junto com a desesperança vem a indignação. E o risco. Da extrema direita. Conforme os dados dos últimos cinquenta anos, o ajuste fiscal, nos países europeus, vem sendo feito no corte de despesas. E não no aumento de receita. Assim, como na América. O presidente, George W. Bush, reduziu a tributação sobre os super ricos.
Uma das falhas dos governos liberais, em vários países, é não regulamentar as atividades do sistema financeiro. Daí vem uma parte dos problemas sociais que fomenta a desigualdade. Por outro lado, a fiscalidade trabalha mais a despesa do que a receita. Porque é mais difícil politicamente taxar as faixas de renda mais altas. É o que ocorre, hoje, no Brasil. O governo não conseguiu retirar subsídios a empresas que alcançam mais de 500 bilhões de reais. E talvez tenha que desvincular a correção de orçamento de setores sociais.
Quando o governo, sem maioria parlamentar, se mostra impotente para arrecadar, por não tributar as faixas de renda que tem capacidade contributiva, se endivida. Atualmente, a dívida pública brasileira corresponde a mais de 80% do PIB.
É neste ponto que o assunto toca o Banco Central. O governo pode, dentro dos limites da lei, tomar recursos do Banco Central. E esses limites serão observados, com segurança, se o Banco Central for independente. E, assim, a sanidade das finanças públicas não sofrerá, neste aspecto, risco de ferimento.
Nos anos 50, o governo tinha uma conta corrente com o Banco do Brasil. Que usava sem limites. E era fonte de inflação. A conta foi eliminada no acerto do Plano Real. Agora, não precisamos de um plano. Porque temos uma lei. Que assegura autonomia ao Banco Central.
Não teremos necessidade de chamar o maestro Thierry Fischer, regente da Orquestra Sinfônica de São Paulo – OSESP, para reger a política monetária.
comentários recentes