Editorial

A nova onda de terrorismo dos últimos dias na França, no Líbano e no Egito, não pode ser atribuída à religião islâmica mesmo que os seus autores gritem o nome de Alá e que o Estado Islâmico assuma a responsabilidade pelos atentados. Nenhuma instituição religiosa prega mais a violência e a morte dos hereges e infiéis, como fizeram aberta e oficialmente no passado como a Inquisição, a Jihad e várias guerras de inspiração religiosa. Mas se o islamismo é uma religião da paz, não há como ignorar que o terrorismo do Estado Islâmico, como da Al Qaeda e do grupo Boko Haram, é o produto direto do fanatismo religioso que continua latente, no caso, do fanatismo de seitas islâmicas sunitas e wahhabistas. O fanatismo está sendo estimulado pelos líderes do Estado islâmico e explorado, dentro e fora do seu território, para promover a violência e o terror, mobilizando os ressentimentos e atraindo os jovens sem perspectivas no mundo árabe mas também nos países ocidentais. Nesta guerra, muçulmanos são também vítimas. Os que não comungam do fanatismo do Estado Islâmico são atacados e condenados como hereges e infiéis, milhares estão sendo mortos no campo de batalha ou nos países vizinhos. E os milhões de muçulmanos pacíficos que vivem na Europa e que rejeitam a violência o fanatismo? Tudo indica que um subproduto desta nova onda de terrorismo aumentará o preconceito contra as comunidades muçulmanas e os refugiados que fugiram da guerra na Síria. A ultra-direita e a xenofobia europeia fortalecem sua propaganda para convencer uma opinião pública assustada do risco da presença de uma crescente população islâmica. Comprovadamente pacífica, a esmagadora população islâmica pode ser vítima de uma violência insana dos fanáticos.