Editorial

Para um governo interino que tem, no máximo, pouco mais de dois anos para governar no meio de uma profunda crise econômica, o presidente Michel Temer se atrapalhou no que poderia ser a operação mais simples: a montagem do ministério. À parte as criticas por conta da ausência de mulher e de negro nos cargos superiores, de importância puramente simbólica, a reestruturação dos ministérios, com a redução de 39 para 22, foi um desastre político e terá consequências administrativas. O governo acertou em cheio na montagem da equipe econômica, do ministro da Fazenda ao presidente do Banco Central passando pela nomeação da admimistradora e economista Maria Silvia Bastos Marques para a presidência do BNDES, formando um núcleo consistente e alinhado com o equilibrio fiscal. Quase uma unanimidade entre os economistas brasileiros. Mas o presidente cometeu dois erros sérios. Em primeiro lugar, algumas fusões não fazem o menor sentido e vão comprometer, durante algum tempo, o desempenho de áreas importantes, com destaque para a Ciência e Tecnologia incorporada sem nenhuma lógica a um Ministério da Ciência e Tecnologia e Comunicações. E a fusão da cultura com a educação que, embora sejam áreas de evidente sinergia, criou um campo fértil para duras e apaixonadas críticas dos segmentos da sociedade com alta influência na sociedade. Alguns ministérios sem qualquer relevância, como Portos e Aviação Civil, foram corretamente extintos e ningúem se levantou em sua defesa, e o Ministério dos Esportes poderia ter ido junto não fosse a proximidade das Olimpíadas. Embora o impacto financeiro da redução de ministérios e mesmo dos quatro mil cargos comissionados seja modesto, esta era uma expectativa da sociedade cobrando do governo disposição para economizar e para acabar a barganha de cargos no jogo político. Claro que a barganha continuou, agora apenas com número menor de cargos na mesa de negociações. O custo politico já está dado. Agora o governo deveria ter coragem e abertura política para aceitar as críticas e reconhecer os erros e anunciar mudanças que restaurem a lógica e eficiência da estrutura ministerial e atendam às demandas com a recriação do Ministério da Cultura.