Elizabeth Severien
Ao contrário do que afirma Sérgio C. Buarque em artigo publicado, na semana passada, nesta revista, no Brasil, o tratamento diferenciado para as mulheres na Previdência Social é uma questão de Justiça Reparadora! A DIFERENÇA, AINDA, FAZ-SE NECESSÁRIA!
Tudo parece muito explícitável e mesmo injusto!
Pode até aparentar uma contradição, ante a secular luta pela igualdade de direitos entre mulheres e homens. No entanto, quando o movimento feminista grita para manter a idade mínima de aposentadoria para as mulheres inferior à dos homens, não está correndo atrás de privilégios. A verdade é que, a despeito da maior expectativa de vida, os anos a mais não se traduzem em vida saudável para uma parcela considerável de mulheres brasileiras, e não é só isso…
Não obstante, é bom que se diga: a partir dos 40, 50 anos, as pessoas começam a padecer de uma série de doenças crônicas que as tiram do mercado de trabalho – são quase 60 milhões de brasileiras/os com essas doenças. E são as mulheres – decorrência de mais horas de trabalho, advindas da dupla, tripla e sabe-se lá mais quantas jornadas de trabalho, somadas às infindas violências físicas e psicológicas sofridas ao longo de suas vidas, cometidas, via de regra, por homens que gozam de seu afeto (pais, irmãos e companheiros) – que mais sofrem das e com as mesmas!!!!!! Esse pode parecer um dado menor, provavelmente para os homens, jamais para as mulheres!
Observemos, também, que as mulheres não cuidam apenas dos filhos, da casa e da alimentação de todas as pessoas da família, são elas, também, que cuidam das pessoas idosas e das pessoas doentes do seu convívio (o contrário é exceção para confirmar a regra). Tarefa que, com a maior esperança de vida da população, só tem vindo a se ampliar!
Ressaltemos, ainda, que a injusta – e tão (des)necessária – repartição das tarefas domésticas, na maior das vezes, impõe às mulheres a aceitação e a procura por empregos com jornadas mais flexíveis, por vezes, de um só turno.
Merece registro, ainda, que:
- o Brasil não é formado apenas por mulheres de classes média e alta;
- mesmo as mulheres trabalhadoras de classe média (baixa, média e alta) perdem dias de trabalho para cuidar de seus filhos, parentes e pessoas idosas São elas e não eles que o fazem, na maioria esmagadora das vezes;
- as nordestinas e nortistas começam a trabalhar mais cedo (seja no setor privado, seja no público) e sem registro, consequentemente sem contribuição); e, também, morrem mais cedo que as mulheres do Sul e Sudeste;
- a desigualdade de gênero no mercado de trabalho reduz a capacidade contributiva das mulheres para a Previdência Social;
- as mulheres pobres e as rurais são as mais vulneráveis – em todos os sentidos – as mais desprotegidas e as mais penalizadas (seu trabalho, embora fundamental para a economia do país, não é reconhecido, nem valorizado, sequer enxergado como trabalho!!);
- a população economicamente ativa feminina é menor e os rendimentos médios das mulheres são menores;
- a permanência das mulheres no mercado de trabalho formal é menor; isso se relaciona, entre outros fatores, à ausência de equipamentos públicos como creches e instituições para cuidados com as pessoas idosas e enfermas;
Tudo isso, associado à ainda indimensionável, e pelos vistos imutável, incapacidade dos homens de enxergarem as dificuldades vivenciadas pelas mulheres, no que concerne, não só a entrada, como, principalmente, à sua permanência no mercado de trabalho!?!?!?
Por fim, é verdade, as mulheres somam um número maior de benefícios que os homens, só não é dito que isso decorre, sobretudo, do SALÁRIO-MATERNIDADE!
Seria tão bom se existisse uma forma de colocar os homens, por uns tempos, em nosso lugar… De engravidarem em nosso lugar… Quem sabe, com isso, eles compreenderiam o que é preciso fazer para mudar essa sociedade machista, excludente e injusta!!!!!
Sérgio, em primeiro lugar, esses sete anos a mais não se traduzem em vida saudável; estudos indicam que a saúde das mulheres é mais comprometida que a dos homens com o avanço da idade (Previdência, 2015). Com relação à persistente desigualdade na divisão sexual do trabalho é importante destacar que o Brasil não é composto apenas por mulheres de classe média, seja baixa ou alta!?!?!?! Encontra-se na casa dos milhões, o número de brasileiras pobres, miseráveis, minimamente assalariadas, que tem uma vida desgraçada, e que somam aos trabalhos aviltantes que realizam as duplas, triplas… jornadas de trabalho. Sérgio, você sabe que são as mulheres nordestinas e as rurais as mais vitimadas, pois é no Nordeste onde a concentração de miseráveis é maior; os preconceitos são mais fortes e o machismo bota pra quebrar. Que as mulheres se aposentam mais por idade do que por tempo de contribuição; pois elas param mais de trabalhar para ter filho, cuidar dos seus homens doentes e dos idosos da família, e estão inseridas em setores que têm maior rotatividade. E isso se aplica, destacadamente às mulheres pobres do nosso desgraçado Brasil!!!!!! Até Artur, o relator da Reforma, considerou que as mulheres, nesse país de machistas inveterados, devem, AINDA, se aposentar mais cedo!!!!!!!!! Ele entendeu que é uma questão de JUSTIÇA SOCIAL!
o Mundo anda mudando,,e’ verdade tudo o que esta descrito no texto, porem ja ha avancos e numa reforma para tratar de longo prazo ha que econtrar-se o equilibrio entre presente e futuro. Sou apoiador da causa equilibrada e justa das mulheres. Porem se queremos realmente mudar, devemos olhar pra frente. Ja ha divisao maior de tarefas entre casais, o movimento comecou,,,e’ sec XXI. Ja ha donos de casa , nao apenas donas. Minha esposa por ex eh a chefe da casa, sempre ganhou mais que eu. Nao me sinto nem um pouco perturbado com isso. Ou seja, que seja primordial olhar a justica social, porem vamos combinar que nao estamos mais no secXX. E seguirei dando meu exemplo e experiencia como faco hj. Ha um equilibrio a ser alcancado na familia mas de autonomia da familia e nao do Estado. Se um homem aceita ficar em casa pra cuidar dos filhos em decisao conjunta com a esposa a decisao eh deles e nao cabe critica. Se e’ ao contrario como de fato ocorre ainda mais hoje, a decisao e’ autonoma deles. Ou seja, mais liberdade, menos generalizacoes e mais autonomia pessoal e da unidade familiar. Ja a questao de direitos e deveres concordo que eh bom discutir mesmo.
O título é mais um exemplo do duplipensar em língua portuguesa, pois o que texto prega é “Viva a discriminação!” Aliás, se é para manter a antiga discriminação entre gêneros, na idade mínima de aposentadoria e no cotidiano, vale a pergunta que não existia quando a previdência social foi inventada, no fim do século XIX: e lésbicas, gays, bi-sexuais, e trans-sexuais? Tratamento específico para todos? E os homens, em número cada vez maior, que dividem as tarefas domésticas?
E que “movimento feminista” é esse, o citado, que grita? No mundo inteiro, onde a idade não foi igual já desde o início, a tendência é igualar a idade. Diferença como a do Brasil não existe nem em meia dúzia de países! E aqui no Brasil posso listar muitas mulheres que explicam por que a idade mínima da aposentadoria deve ser igual para homens e mulheres. As “feministas” que insistem em defender a diferença da idade mínima são algumas das mulheres da bancada feminina na Câmara dos Deputados, que estão fazendo demagogia e manipulando ideias simplistas que se reduzem a uma vitimização das mulheres. De qualquer modo, em sua atuação política, não têm tido qualquer escrúpulo em usar qualquer argumento para resistir a qualquer mudança nas regras da Previdência. Mesmo que as mulheres sejam vítimas de tudo que é lembrado pela Sra. Severin, não há argumento algum para justificar que a compensação se faça via idade mínima da Previdência. A compensação que faz sentido está na educação, creches, ônibus escolar, modernização do trabalho doméstico, atitudes e preconceitos sobre divisão do trabalho, etc. Se é para fazer justiça via Previdência, os homens é que deveriam aposentar mais cedo, pois têm expectativa de vida menor, morrem mais cedo.
Acontece que a opção de deixar como está não existe mais: 64% dos impostos federais vão para o pagamento de aposentadoria e assistência social. Está mais que provado que, se a reforma da Previdência não for aprovada, não vai sobrar nada no futuro para saúde, educação e infraestrutura. Abrir exceção para uma categoria abre as comportas para n outras exceções. É bom lembrar (com Zeina Latif): “o que faz um governo enfrentar temas impopulares é a falta de opções”. Ainda assim tem gente brincando com demagogia.
Sra. Helga, respeito o seu ponto de vista, mas, argumento que não há governo (brasileiro – no mundo que conhecemos) que consiga colher resultados, em relação à promoção de uma educação com igualdade e sem discriminação, ante as diferenças existentes entre meninas e meninos; que construam o número necessário de creches para atender a demanda das mães brasileiras e suas crianças; que promovam a modernização do trabalhado doméstico (o que é mesmo isso?); e, por fim, que modifiquem por decreto, lei ou instrumento semelhante atitudes e preconceitos sobre a divisão sexual do trabalho e não só, em tempo inferior ou igual as mudanças que, se pretende, serão impetradas pela reforma da previdência, ou seja, em 20 anos !?!?!? Mudar mentalidade é das tarefas mais difíceis em uma sociedade, enfrentar preconceitos, nem dá pra dimensionar!
Além disso, discriminar não é a mesma coisa de identificar, ratificar ou dar Viva à(s) Diferença(s). Felizmente!!!!!! Embora, na prática, isso assim e amiúde se confunda, ocorrendo, em nossa sociedade, mais das vezes, de forma subterrânea e sorrateira. Discrimina-se, sempre e muito, quem é diferente! Diferente do quê? De quem? Daquele que não é homem, branco, hétero. Não há dúvida que homens e mulheres são diferentes, nem que esses e essas são diferentes entre si; mesmo que reze no Art. 5º da Constituição Federal Brasileira que todos são iguais perante a lei, sem distinção (e até poderíamos dizer, sem discriminação) de qualquer natureza…. sabemos todas e todos que, na prática, há, ainda, uma profunda e desumana discriminação de tratamento e de acesso às oportunidades destinadas às mulheres, em relação aos homens.
Diferenças essas que levam, fundamentalmente, a que as mulheres sofram toda sorte de discriminação e preconceito, tão somente, pelo fato de serem mulheres!!! Que sofram discriminação no acesso a muitos espaços e direitos que, por outro lado, não foram nem são negados aos homens da mesma forma. Contudo, as diferenças não excluem nem uns nem outros de terem os mesmos direitos, em sociedade. E, quando aqui falamos de direitos, não são direitos que estão ou estarão, apenas, no papel, ou preconizados e reconhecidos por leis, são direitos de fato, que na prática estão, ainda, longe de serem alcançados, não só por hábitos e costumes de uma sociedade que sempre valorizou mais os homens, mas, também, pelas interdições encontradas pelas mulheres, e impetradas, por vezes, também, por outras mulheres. O Brasil precisa ainda e muito de justiça social e reparadora: na previdência, na representação política, no acesso as oportunidades de trabalho…, dentre muitas outras práticas discriminatórias e injustas que incidem sobre a vida das mulheres! Viva a Diferença! Abaixo a Discriminação com Preconceito!
Ouvi dizer que o objetivo da reforma da Previdência é de longo Prazo. Uns dez ou vinte anos ao final dos quais, se nada for feito agora, não haverá providencia que evite não ter mais previdência.
Imagino em ficção, qual um Fernando Dourado, que daqui a algum tempo, do jeito que as coisas vão, esses malditos do gênero homem já tenham se mancado e dividindo todos encargos, todos mesmo, com as do gênero mulher. E não mais as assediem no trabalho, nos transportes coletivos, em casa; que não se metam, enfim, a bestas. E então? Ficarão chateados por elas se aposentarem mais cedo?
Será mais um item de DR?
Há cada ano, e tenho-os em boa quantidade, vejo cada vez mais aqueles malditos com o comportamento acima almejado por minha ficção. Tem exemplo em todas as classes de renda graças ao trabalho, desde uma Nísia Floresta até uma Severien, a quem rogo reflexão sobre aquele futuro anelado.
Li e reli o texto de Elizabeth Severien e dificilmente poderia discordar tão integralmente de uma abordagem, embora o tema esteja longe de pontuar entre meus favoritos (por mais que devesse). Veio então a réplica de Helga, que chegou à festa na companhia de um conviva desmancha-prazeres e chato chamado bom senso. Nesse contexto, ao final do artigo, faltou à articulista mencionar que entre os encargos femininos aludidos na rubrica “cuidar de seus homens doentes”, some-se ao fardo o de também enterrá-los. Dizem até que há certa sabedoria nisso pois toda mulher deveria ter direito a uns anos de viuvez, talvez como um bônus da idade madura. Seja como for, Helga demonstrou que a previdência não pode ser o estuário de equalizações de práticas sociais. Não dá para abraçar o verbo e esquecer a calculadora, por tentador que seja.
Por fim, ao aludir à adesão sincera de Artur Maia à divisa dessa bandeira, posso asseverar que ele nada mais faz do que se entregar a um exercício insano de compatibilizar tantas vozes dissonantes. Bom parlamentar, tive a honra de privar de sua companhia na base política do deputado, na bela cidade de Bom Jesus da Lapa, no sertão baiano. Louvo que ele passe à sociedade o sentimento de simpatia para com essa bandeira temerária. É parte de seu ofício. Mas Artur sabe, antes de mais nada, que a politica é a arte do possível. Um dia ele falará sobre essa quadra de provação que há de lhe ter carimbado o passaporte para se consolidar no Congresso como deputado necessário e aplicado.
Não tenho a pretensão de mudar a posição da Sra. Severien, mais ainda se tais ideias são o seu ganha-pão há várias décadas, e ela não sabe imaginar como os milhares de homens que moram sozinhos nas grandes metrópoles cuidam de suas vidas. Só volto para expressar meu espanto com a sua afirmativa de que não sabe o que é modernização do trabalho doméstico: pergunte a qualquer mulher das partes mais pobres da zona leste de S.Paulo sobre a diferença entre lavar roupa lá embaixo na beira do rio, no tanque da casa tirando água do poço ou com água que vem da rua, no “tanquinho” (predecessor da máquina de lavar roupa sem centrifuga) ou na máquina de lavar roupa. Minha mãe viu (e usou) todas essas modalidades. Esse é só um exemplo mais óbvio, só de hardware, sem considerar atitudes. Ainda não vi, na réplica, a lógica para escolher a idade minima de aposentadoria como a compensação para a média das desvantagens reais ou imaginadas da condição de mulher. Só a retórica.
Infelizmente, é preciso se dizer o óbvio a todo momento. Gente, estamos falando da realidade do nosso país, não dos países de economia e cultura desenvolvida. Lá sim cabe aposentadoria com tempos iguais de contribuição, pois são lugares que há décadas, as mulheres e os menos abastados encontram respaldo de seus governos para condição de vida digna. Começando pelo “feijão com arroz”: Creches onde se pode deixar seus filhos, asilos decentes para seus velhos e por aí vai. Aqui, NO BRASIL, sempre ficamos em desvantagens nas condições de trabalho pelos inúmeros motivos explicitados acima. Uma classe média que ao invés de pedir reforma tributária (e aí sim, igualar todos, onde quem ganha mais, paga mais), acha que a reforma previdenciária é a tábua de salvação do país. Desculpa, Vocês são bizarros!!!
1. Bizarria pode ser, mas eu conheço as operações básicas da aritmética. Por que vocês acham que em dado momento Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul pararam de pagar aposentados e funcionários?
2. Não sei onde está este “paraíso das mulheres” ao qual se refere a comentarista (apesar de ter sido economista da ONU por 17 anos, com participação no relatório anual sobre a economia mundial ). A Dinamarca se aproximaria, mas podemos colocar o argumento de ponta cabeça, dizer que avançaram porque lá nunca houve diferença de idade mínima para aposentar.
3. Solicito me apontar alguém que tenha afirmado que a reforma da previdência vai solucionar todos os problemas do Brasil. Muito ao contrário, todos os economistas de alguma reputação não só avisaram com bastante antecedência que chegaríamos à recessão e ao desemprego, como estão dizendo que a recuperação vai demorar muito (mesmo que sejam aprovadas reformas mínimas da previdência, de legislação trabalhista, da legislação tributária). Os dez ou onze anos dos governos que nos levaram ao impeachment fizeram com que o Brasil retrocedesse vários anos em termos de renda per capita.
4. É evidente que são muito fortes as resistências à mudança, ainda mais com o envenenado clima político atual: tem gente se posicionando contra qualquer coisa que “vem do governo”. Acontece que as reformas não são do governo, e sim, representam o mínimo necessário para começar a andar p’ra frente. Admito que a comunicação do governo no momento presente é menos eficiente que a da oposição, mas mesmo com serviços de comunicação melhores essas reformas, ao alterar beneficiários, seriam impopulares.
5. Não é apenas o argumento neofeminista da vitimização que está sendo usado contra as reformas. Registro, a propósito, que as feministas do início do movimento insistiam muito mais na igualdade de oportunidades, e não na defesa de privilégios especiais que transformaram parte do movimento feminista atual em uma espécie de sindicato de mulheres. Há alguns dias vi uma entrevista de conhecido comentarista esportivo que perguntava por que não se cobram os milhões devidos ao INSS pelos clubes de futebol. Sugeria que era uma boa maneira de evitar a reformada Previdência. Pois é, porque ele, tão amigo de Lula, não perguntou antes? Há alguns anos este mesmo comentarista de futebol participou de um painel na USP, e eu lhe fiz, da plateia, exatamente essa pergunta: como é que não conseguem cobrar o INSS dos clubes de futebol? A resposta veio em um tom um tantinho irritado: “você quer que façam o que? Que fechem o Corinthians?” Pois é, coitado do Temer, a enfrentar as feministas, tentar enfrentar também certos fãs de futebol?
Queria ter o prazer de dizer que em meu país homens e mulheres se aposentam com a mesma idade, assim como na Alemanha, Islândia, Noruega e EUA. Que ambos possuem as mesmas oportunidades no mercado de trabalho, uma vez que ganham os mesmos salários. Que tanto mulheres quanto homens têm espaço [e principalmente voz] paritários na vida política. Que a configuração familiar tem a justa e isonômica participação e responsabilidade dos papais e das mamães. Que nós mulheres não somos mais vítimas do patriarcalismo… Queria tanto ter o prazer de dizer que o que defendo tornou-se uma realidade e assim ter uma vida menos combativa, com menos ansiedade de gênero, sem misoginia. Porém, a realidade do meu país, o BRASIL, é distinta.
Mesmo com os avanços que tivemos, e claro tivemos avanços, ainda estamos tão longe. De acordo com o IBGE (dados oficiais de uma instituição governamental com credibilidade internacional e não estimativas aleatórias de feministas), mesmo possuindo maior nível de escolaridade, na média, as mulheres brasileiras ainda recebem 30% menos que os homens e trabalham em média cinco horas a mais (contando com a dupla jornada). Em época de crise, as mulheres são o alvo preferencial para serem demitidas. Nós continuamos sem as mesmas oportunidades de assumir cargos de chefia ou direção, seja no setor privado, seja no setor público (onde a situação é um pouco melhor).
É realmente difícil mudar quando não conseguimos ocupar os espaços de representatividade. Apesar de nós sermos mais da metade dos eleitores brasileiros, temos uma das taxas mais baixas do mundo de presença de mulheres do Congresso Nacional. Nossos números são inferiores a países do Oriente Médio. Ocupamos apenas 51 cadeiras (de 513 ) na Câmara dos Deputados e 12 (de 81) no Senado federal. E ainda vociferam contra a pauta da bancada feminina…
Nunca tivemos uma presidente em nenhuma das Casas legislativas em âmbito nacional e até mesmo a nossa primeira presidenta não foi eleita por ser mulher, mas pela força do seu apadrinhado. O judiciário e o Ministério Público da União também não são diferente.
Claro que tivemos avanço em nossa estrutura social: cada vez mais os homens estão compartilhando (para mim o termo ajudar é incoerente, uma vez que traz embutida a ideia de que é uma ação benevolente e não um responsabilidade) os afazeres domésticos e os cuidados com a criação dos filhos. Mas isso ainda é não é uma realidade comum a todas as famílias.
A reforma da Previdência é necessária (não nos moldes da proposta original do governo). É preciso reduzir muitas distorções, mas não podemos criar outras. Torço para que num futuro próximo tenhamos as mesmas oportunidades a ponto de nós mesmas defendermos idade mínima única para homens e mulheres. O princípio da igualdade de nossa Constituição Federal de 1988 diz que “todos somos iguais perante a lei” e isso significa (de acordo com doutrinadores e juristas) que verdadeira igualdade consiste em tratar-se igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida de sua desigualdade.
Parece chover no molhado, mas países onde a idade mínima é a mesma, existem políticas compensatórias para as mulheres e creches públicas em tempo integral. Querer que tenhamos as mesmas obrigações sem termos as mesmas condições é injusto e sobre humano. Não temos o poder de Mulher Maravilha.
Quando eu leio tanto ataque às bandeiras de gênero só me recordo dos versos do Caetano, de quem tomo a liberdade de parafrasear: vocês não estão entendendo nada do que eu digo!
Mais mulheres contra a discriminação, aquelas que prestam atenção em estatísticas:
http://terracoeconomico.com.br/belas-feministas-e-economistas-por-que-somos-contra-diferenciacao-de-genero-na-reforma-da-previdencia
Cara Helga, continuo achando bizarros os seus comentários, mas ainda depois de afirmar tal currículo. Ninguém se colocou em posição vitimista, só reinvindicações por igualdade de oportunidades, as mesmas desde os primeiros movimentos feministas, que você tanto insiste em pontuar e que acredito piamente que você desconhece totalmente ou só leu e entendeu as 3 primeiras páginas. Entendo, por outro lado, seu ponto de vista: branca, paulista, descendente de europeus e abastada economicamente explicam bastante. As velhas elites, as velhas reinvindicações. Daqui da senzala a visão panorâmica é outra.
*mais ainda…
Ainda que o tema seja o da idade mínima da aposentadoria, curiosamente é possível detectar neste debate exemplares do “marxismo de galinheiro” que parece grassar na universidade brasileira (Alexandre Schwartsman prefere chamar de “marxismo de quermesse”, talvez mais apropriado para a época atual). Trata-se da interpretação bem rasteira, bem simplista, da ideia de Marx de que “a infraestrutura (econômica e social) determina a superestrutura (das ideias)”. Já discuti isso muito antes da atual época de polarização política em que os extremos se tocam, apontada aqui na “Sera” com clareza cristalina no artigo de Luiz Otavio Cavalcanti, A ferradura do general.
Sou estudante de Letras e trabalhadora assalariada e sinto que igualar homens e mulheres na aposentadoria seria algo muito injusto. Fazer isso é ignorar uma desigualdade histórica presente no mercado de trabalho brasileiro. Como bem citado no artigo, mulheres possuem uma dupla, às vezes tripla jornada de trabalho. Sabe-se que aos homens e às mulheres são atribuídos papeis sociais antes mesmo do nascimento, sendo esperado da mulher o cuidado com as tarefas domésticas, com os filhos, com as pessoas doentes e idosas da família. Isso culmina com a dificuldade do acesso das mulheres ao mercado de trabalho e consequentemente de acumular os anos de contribuição. Existe, no entanto, a divisão de tarefas entre homens e mulheres, mas a diferença ainda é grande.
igualar homens e mulheres na previdência é fazer com que menos mulheres tenham acesso à uma aposentadoria digna, principalmente as mulheres pobres.
Não deve existir igualdade de gênero na previdência enquanto houver desigualdade de gênero na sociedade.
Você “sente” isso. Só que a consequência mais provável do que existe agora (idade menor para mulheres se aposentarem) será um agravamento da diferença no mercado de trabalho, pois os empregadores tratarão de pagar menos às mulheres para compensarem a aposentadoria adiantada. Para discutir políticas públicas é preciso análise de custo-beneficio e é preciso avaliação de resultados de políticas. No Brasil desde sempre as mulheres se aposentam cinco anos antes. E aí? Deu resultado? Se tivesse dado resultado, você não estaria se queixando dessa lista de desvantagens.