Na segunda metade do século passado, a criação de centenas de empresas estatais teve grande importância na modernização da economia brasileira, na medida em que o setor privado, principalmente o empresariado brasileiro, não tinha capital nem interesse em investir em setores de retorno limitado e de longo prazo de maturação. Esta parte da nossa história ajudou a formar o mito das estatais, que alimentou a rejeição das iniciativas de privatização iniciadas no governo de Fernando Henrique Cardoso, com indiscutível sucesso nos setores de siderurgia, aviação e telefonia. Mesmo com este resultado do primeiro processo de privatização das estatais, o mito volta agora na critica à proposta de venda de ativos da Eletrobrás, a gigante do sistema elétrico brasileiro que, diga-se de passagem, já foi amplamente privatizado na distribuição de energia elétrica. Para além da discussão sobre os altos prejuízos da Eletrobrás registrados entre 2012 e 2015, resultado do irresponsável e populista cavalo de pau da presidente Dilma Rousseff, e o elevado endividamento da empresa (quase 200% do seu valor de mercado), a privatização da Eletrobrás levanta a discussão sobre o papel do Estado. Embora a geração de receita adicional para enfrentar a crise fiscal seja a motivação imediata do governo nesta venda de ativos da Eletrobrás, é necessário considerar também as enormes dificuldades para se ter uma gestão eficiente das empresas controladas pelo Estado, por conta dos interesses corporativos e da interferência indevida e predatória dos governos nas suas decisões, precisamente o que aconteceu nos últimos dez anos no Brasil. Mais do que isso, é fundamental refletir sobre o Estado e as áreas de sua atuação prioritária. O Estado deve ser forte, nada de “Estado mínimo”, mas deve concentrar suas atividades e os enormes recursos arrecadados (35% do PIB no Brasil) nas áreas de grande interesse estratégico e impacto social, especialmente a educação. O Estado não deve ser mais produtor de bens e serviços (não precisa, e carece de eficiência e competência, para não falar na vulnerabilidade à corrupção), mas deve fortalecer e ampliar sua atuação como provedor de bens e serviços públicos para a sociedade. Em todo caso, nas atividades que constituem monopólios naturais, e geração elétrica é uma delas, o Estado deve ter uma atuação decisiva de regulação, através das agências reguladoras que, no governo Dilma, também foram vítimas de interferência indevida. No caso específico da Eletrobrás, considerando o peso das hidrelétricas no sistema, é fundamental que a privatização seja antecipada da definição de um novo marco regulatório, que incorpore e assegure a gestão adequada e cuidadosa das bacias hidrográficas do Brasil.
Postagens recentes
-
Será que agora vai?nov 22, 2024
-
Jornada de trabalho e produtividadenov 22, 2024
-
Onde está o nexo do Nexus?nov 22, 2024
-
Janja xingou e levou um sabão da mídianov 22, 2024
-
Brasil, o Passadonov 22, 2024
-
Camões, 500 Anosnov 22, 2024
-
Última Páginanov 22, 2024
-
O ódio político no Brasilnov 15, 2024
-
Quem mentiu: Trump, Putin ou The Washington Post?nov 15, 2024
Assinar Newsletter
Assine nossa Newsletter e receba nossos artigos em seu e-mail.
comentários recentes
- José clasudio oliveira novembro 20, 2024
- helga hoffmann novembro 19, 2024
- Elson novembro 19, 2024
- Marceleuze Tavares novembro 18, 2024
- Keila Pitta Stefanelli novembro 16, 2024
Alcides Pires A Opinião da Semana Aécio Gomes de Matos camilo soares Caruaru Causos Paraibanos civilização Clemente Rosas David Hulak democracia Editorial Elimar Nascimento Elimar Pinheiro do Nascimento Eli S. Martins Encômio a SPP Estado Ester Aguiar Fernando da Mota Lima Fernando Dourado Fortunato Russo Neto Frederico Toscano freud Helga Hoffmann Ivanildo Sampaio Jorge Jatobá José Arlindo Soares José Paulo Cavalcanti Filho João Humberto Martorelli João Rego Lacan Livre pensar Luciano Oliveira Luiz Alfredo Raposo Luiz Otavio Cavalcanti Luiz Sérgio Henriques manifestação Marco Aurélio Nogueira Maurício Costa Romão Paulo Gustavo Política psicanálise recife Religião Sérgio C. Buarque Teresa Sales
De pleno acordo.O estado tem quer eficiente na provisão de saúde, educação e segurança.Não se justifica mais ter o estado como gerador de energia. Isso foi coisa do passado.A velha esquerda que vê o estado como investidor em atividades diretamente produtivas e é adepta do Capitalismo de Estado vai espernear.
Regras claras para os leilões, para evitar chicana jurídica subsequente, são necessárias. Marco regulatório já existe o suficiente (ainda que, como tudo nesta terra, possa ser aperfeiçoado). Não foi por causa do marco regulatório que foi destruída a Eletrobrás. O perigo maior está nas pressões regionais: Minas quer manter a CEMIG e seus nomeados, estados nordestinos querem que fique fora a CHESF, e assim por diante. Essas pressões é que ameaçam as privatizações das usinas.
Perfeito.