Editorial

Guerra – autor desconhecido.

O lamentável clima de intolerância que contaminou a recente campanha eleitoral não parece arrefecer depois de concluída a apuração e definido o resultado. Parece até intensificar-se, a julgar pelo manifesto apócrifo que circulou, nesta semana, no campus da Universidade Federal de Pernambuco e na rede social, destilando ódio e distribuindo agressões contra professores, citados nominalmente, chamados de “doutrinadores comunistas” que representariam uma ameaça “à moral e aos bons costumes cristãos”. Este grave e inaceitável incidente na UFPE é uma amostra do que vem ocorrendo em várias universidades do Brasil desde o processo do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, com troca de agressões e ameaças de parte a parte. Na mesma universidade, em 2016, após uma ocupação das instalações, um grupo de estudantes saiu depredando salas e ameaçando professores considerados de direita, um dos quais foi vítima agora de intimidação com cartazes agressivos e grosseiros. A intolerância política, condenável em qualquer instituição, é absolutamente incompatível com a vida na Universidade, espaço do saber e do conhecimento, da liberdade de pensamento, do respeito democrático e da tolerância intelectual, e que, no entanto, parece agora um refúgio do obscurantismo. Passadas as eleições, com o confronto de fanatismos, é hora do retorno à serenidade política, principalmente nas universidades. Mas, infelizmente, o próprio presidente eleito não está contribuindo para arrefecer os ânimos, permitindo que se propague a incitação à violência contra uma delirante ameaça comunista, e a intimidação de professores em sala de aula. Casos como este da UFPE devem ser combatidos com manifestações em defesa da tolerância política e acadêmica, mas também com a investigação e a dura punição dos responsáveis.