Editorial

Ainda não foi desta vez que os inimigos da Operação Lava Jato conseguiram torpedeá-la. Mas os últimos acontecimentos evidenciam uma guerra sem tréguas contra ela, em diversos campos: político, empresarial, judiciário, midiático. Primeiro com a criminosa invasão de privacidade de juízes e procuradores, por autores ainda desconhecidos, e a divulgação de suas conversas telefônicas. Em seguida, o tratamento de escândalo para entendimentos entre Justiça e MPF, que juristas de renome, como Modesto Carvalhosa, José Paulo Cavalcanti Filho, Denise Frossard e Carlos Veloso, consideram normais e rotineiras. Prosseguindo, a grita de políticos da oposição pela suspeição do ministro Sérgio Moro, e a consequente anulação de todo o processo que condenou, já em três instâncias, o ex-presidente Lula, o que implica também a liberdade de todos os condenados pela Lava Jato, e o retorno dos milhões de reais já recuperados às mãos dos peculatários. E culminando com a recolocação em pauta do STF, pelo ministro Gilmar Mendes, do “habeas corpus” em favor do encarcerado, que já acumula outra condenação, em primeira instância, e responde ainda a meia dúzia de processos.  Fundamento do “habeas”: a “parcialidade” do então juiz do feito, Sérgio Moro. Felizmente, há reservas de dignidade e de descompromisso político em nossa Corte Suprema, e o pleito, aliás dois pleitos, igualmente sem consistência legal, como os incontáveis recursos desesperados da defesa do ex-presidente, foram rejeitados. A questão será reapreciada após o recesso do Tribunal, quando se espera que a perícia das gravações ilegais, em sua integralidade, possa, hipoteticamente, configurar alguma atitude delituosa do juiz. Mas o que tudo isto representa não é mais do que uma luta desvairada daqueles que, envolvidos com os diversos crimes contra a administração pública – políticos, servidores públicos, empresários acostumados às benesses governamentais, magistrados politiqueiros – contra a esperançosa nova era de moralidade, transparência e sobriedade que a Operação Lava Jato, quase personificada na figura olímpica do juiz, hoje ministro, Sérgio Moro, parece anunciar para o nosso país. Nunca houve nada igual antes, nestas plagas. Não custa recordar.  E esperar que os fautores dessa transformação resistam a esta fanática investida, como nos parece indicar o sereno e proficiente desempenho do nosso ministro na recente audiência do Senado.