Editorial

O deboche está virando o esporte nacional. O vídeo da deputada Cristiane Brasil, fazendo discurso em meio a uma farra, é um deboche para com o povo brasileiro. Menos pelo que disse, tentando apresentar-se como uma inocente e desinformada quase ministra, do que pelo ostensivo ambiente irresponsável em que se achava, cercada de homens sem camisa, num passeio de lancha provavelmente regado a uísque. Esse exibicionismo é uma grosseira falta de compostura num país com 12 milhões de desempregados e 53 miilhões de pobres, e com um Estado em grave penúria. O governo Temer agrava o desrespeito à sociedade, quando insiste na nomeação dessa maluquete para o Ministério do Trabalho, apenas com a intenção de ganhar apoio para suas reformas, o que termina por desmoralizar a necessária e urgente Reforma da Previdência.

Mas esta cena grotesca da quase ministra é apenas uma das manifestações do deboche nacional. Impossível esquecer a declaração estapafúrdia da ex-ministra Luislinda Valois, desembargadora aposentada, dizendo-se vítima de trabalho escravo pelo fato de não poder receber a gratificação integral de ministra, porque, simplesmente, ultrapassava os R$ 33.700 mil (teto de salário do servidor público). E quase no mesmo dia em que o vídeo de Cristiane Brasil bombou na rede social, foi divulgado, para decepção dos brasileiros, que o honrado Juiz Marcelo Bretas, com trabalho sério e competente na Operação Lava Jato do Rio de Janeiro, entrou com uma ação no Judiciário, demandando o auxílio-moradia (R$ 4.377,00 por mês, mais de quatro salários mínimos), do qual não tem direito, segundo o CNJ-Conselho Nacional de Justiça, porque sua esposa, juíza também, com quem divide a moradia, já recebe tal benefício. E todo mundo sabe que este auxílio-moradia já é uma grande picaretagem, para eludir o teto de salário do servidor público, a “miséria” de R$ 33.700,00.

Mas o escárnio é ainda anterior e mais geral: reside no próprio auxílio-moradia para as autoridades de todo o sistema judiciário. No meio deste festival dos deboches, o que pode parecer sério, embora seja outra piada, é assustador: a reação violenta e agressiva de líderes do PT à condenação do ex-presidente Lula, decretando que o Brasil agora é uma ditadura, e que se trata de partir para o “enfrentamento social e a rebelição dos cidadãos” (Gleisi Hoffmann), e para a desobediência civil e a resistência, com o fim de “impedir de toda forma a prisão de Lula” (João Pedro Stedile). Sérias ameaças às instituições republicanas.