Conselho Editorial
A tragédia de Santa Maria provocou uma comoção nacional, uma dor profunda causada pela morte de 243 jovens universitários plenos de alegria e projetos e em condições tão absurdas e levianas. Como diz um personagem de Carlos Fuentes, “não é o passado que morre com cada um (destes jovens), morre o futuro”, morreu o que viria a ser destes jovens estudantes que se preparavam para formar a inteligência nacional. Para os familiares e os amigos, fica a saudade do passado mas também este sentimento de interrupção – brusca e insensata interrupção – do futuro; para cada brasileiro, soma-se a esta angústia a certeza da perda irreparável de quadros profissionais, intelectuais e políticos. O desalento de todos diante da tragédia aumenta pela certeza de que tudo não passou de uma sucessão de falhas e leviandades humanas. A dor é a mesma mas a comoção foi muito maior do que num desastre natural (um terremoto, por exemplo), difícil de prever e prevenir. O desastre foi provocado por nós, e a morte do futuro teria sido facilmente evitada com um mínimo de cuidado e de previdência diante de riscos claramente conhecidos. Podemos prender alguns culpados, mas o drama de Santa Maria tem uma causa maior e coletiva, a tragédia é o produto direto da cultura brasileira de desprezo pelo risco e leviandade com a vida, e que se manifestou de forma dolorosa na festa da boate Kiss. Nada que se faça agora poderá recuperar as vidas perdidas. Mas para evitar outros incidentes dramáticos e dolorosos no futuro, o brasileiro tem que ser mais previdente e menos leviano.
“O desastre foi provocado por nós…” É esse pensamento que tem me deixado mais angustiada. Vejo e sinto isso cotidianamente quando me recuso a participar de uma situação de risco e me torno alvo de reclamações e acusações de paranóía. Os órgãos competentes são negligentes e corruptos sim, mas NÓS temos a escolha e a responsabilidade de não participarmos de muitos dos riscos das calamidades públicas, e em lugar disso entregamos nossas vidas nas mãos dos outros.
Luciana Buarque
O editorial toca na chaga da ferida: a irrelevância das nossas vidas, sobretudo a vida dos pobres, na cultura brasileira. Friso o termo cultura porque essa irrelevância – ou leviandade, como diz o editorial – está enraizada nas nossas práticas de vida, na nossa concepção das funções do Estado, portanto das funções cívicas do servidor público, e da nossa noção e prática da vida pública. O que me espanta é que tragédias semelhantes não sejam mais comuns num país onde o descaso pela vida humana é tão frequente e barato.
Fernando da Mota Lima
, lembrando que isso não é possível ao brasileiro apenas individualmente, pois muitas coisas, como nesse lamentável acontecimento, dependem de como as instituições tratam seus cidadãos, a quem cabe, sim, cobrar, cobrar e cobrar seriedade e previdência a quem de direito.
Embora reconheça que parte da responsabilidade da ocorrência desastrosa na boate Kiss, em Santa Maria se deva à falta de controle das instituições competentes pela segurança dos cidadãos, acredito que o imaginário coletivo, a cultura, o comportamento cotidiano dos brasileiros, em geral, indicam um falso otimismo, uma inconsequência, uma imprevidência, que acabam contribuindo para a ocorrência de fatos desta natureza. Considero que, mesmo o descaso das pessoas que compõem as instituições tem origem nesta mesma forma de perceber a situação de risco. Quantas vezes nos deparamos em situações em que deveríamos ser prudentes e fechamos os olhos para o perigo?
Evidentemente todos estamos perplexos e tristes com o que aconteceu. Sem dúvida vivemos EM RISCO, o tempo todo. No entanto, fico preocupado quando todos somos PAUTADOS pela mídia. É o assunto da moda. E logo passará, e virão outros. No curto prazo caça às bruxas, todos os vilões serão as Casas Noturnas, depois voltarão as DROGAS, novamente os ATIRADORES de Escola, e aí vai. Numa revista como a SERÁ? não seria mais importante analisar as causas estruturais das “doenças” de nossa Sociedade do que ser PAUTADO pela Globo a cada semana, com posições “moralistas”?
Meu caro Abraham: Não sei se sua crítica às posições moralistas visa também meu comentário. Na dúvida, ressalto que chamo a atenção para as “raízes” da cultura brasileira (alusão ao livro de Sérgio Buarque e outros que escavam nossas origens históricas) precisamente por estar convencido de que não devemos ser pautados pela tragédia do dia. Outras virão, pois suas causas profundas continuam bem vivas. Como reza o velho chavão, a longo prazo todos estaremos mortos. Vou morrer vendo estas e coisas semelhantes, todas enraizadas nas condições iníquas que formaram este país. Olha aí Renan Calheiros de volta à presidência do senado sucedendo José Sarney, outra pérola do nosso patriarcalismo.
Acredito que o princípio geral que orienta o blog não está vinculado aos temas sensacionalistas editados por grande parte da imprensa , e, em especial, pela já tão criticada Globo, e sim, de levantar a discussão sobre temas controversos, que suscitam debates e pensamentos contraditórios. No entanto, este não é o caso do Opinião, que sai às sextas feiras e que trata de assuntos discutidos durante a semana, portanto, quase sempre, também discutido por outros órgãos de informação e de formação de opinião. Assim sendo, é bem provável que os comentários aludam às idéias dominantes, mas, o espaço também fica aberto para posicionamentos diferente, não?
autoridade esse e todo o nosso problema as pessoas que se propoem a cargo publico no brasil so querem canhar muito dinheiro nao tem acima de tudo patriotismo, mas isto com voto nao vamos chegar a lugar algum,para elustrar afvv447 foi com um grupo de familiares ate preseça da nossa presidente 26- 08 – 2011para pedir que o cenipa entrasse com investigaçao paralela a da frança pela falta de inzençao porque fabricantes da aeronave e tambem da transportadora e quem investigou o acidente foi a frança,que e dona de tudo a sra. dilma deu descupas esfarrapadas e ficou 228 famlias destroçadas financeiramente e tambem emocinalmente e o tradado de chicago que o brasil e ciguinatario nos da todo o direito de ivestigar. esse e o nosso brasil
Acho que nem tudo é responsabilidade do governo, criar uma condição cultural não está diretamente ligado ao mandos e desmandos de uma gestão, até pode está quando ela se acumula por anos, mas a nossa relação (os indivíduos brasileiros) com a cultura é direta nesse caso, é o que nunca vemos, mas o que sempre acontece, é o nosso lado que nos faz acomodar diante das necessidades do outro. E ai acontece o mais fácil, nos enchemos de escapismos: sustentabilidade de um lado, cada vez mais politicamente corretos (e chatos) do outro, mas como sempre dando sentido a um individualismo que abre uma brecha tão grande que se esvaem 243 esperanças de futuro…isso é bem brasileiro…e isso não é Neo nem Pós qualquer coisa…isso é o fato de que depois que a casa cai, sempre vêm as ondas de campanha de solidariedade, e cada um procura mostrar o quanto é bom. Bom e inocentes todos somos, até que algo ou alguém prove o contrário.
A tragédia de Santa Maria, assim como os acidentes aéreos, foi fruto de uma série de fatores que levaram ao fato. Falar em leviandade é fácil, mas leviandade de quem? Seria leviandade do músico que acendeu os fogos? Seria leviandade dos donos da boate que fizeram refornas sem preocupação com a segurança? Seria leviandade dos bombeiros e outros órgãos públicos que deixaram o estabelecimento funcionando? Seria leviandade dos seguranças da boate? Seria leviandade de quem?
Não tenho a resposta, mas o que tenho certeza é que os 243 jovens que perderam suas vidas nesta tragédia não foram levianos. A vida é para ser vivida e se divertir em uma boate da moda na flor da juventude não é ser leviano. Dançar com os amigos e comemorar a vida em um local específico para esse fim não é ser leviano. Esperar que os responsáveis pela segurança do estabelecimento tenham feito seu trabalho não é ser leviano. Acreditar que os órgãos públicos competentes tenham fiscalizado a segurança da casa noturna e emitido alvará de funcionamento não é ser leviano. Enfirm, VIVER NÃO É SER LEVIANO!