Conselho Editorial

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Homenagem a Osman Lins – Gil Vicente

A tragédia de Santa Maria provocou uma comoção nacional, uma dor profunda causada pela morte de 243 jovens universitários plenos de alegria e projetos e em condições tão absurdas e levianas. Como diz um personagem de Carlos Fuentes, “não é o passado que morre com cada um (destes jovens), morre o futuro”, morreu o que viria a ser destes jovens estudantes que se preparavam para formar a inteligência nacional. Para os familiares e os amigos, fica a saudade do passado mas também este sentimento de interrupção – brusca e insensata interrupção – do futuro; para cada brasileiro, soma-se a esta angústia a certeza da perda irreparável de quadros profissionais, intelectuais e políticos. O desalento de todos diante da tragédia aumenta pela certeza de que tudo não passou de uma sucessão de falhas e leviandades humanas. A dor é a mesma mas a comoção foi muito maior do que num desastre natural (um terremoto, por exemplo), difícil de prever e prevenir. O desastre foi provocado por nós, e a morte do futuro teria sido facilmente evitada com um mínimo de cuidado e de previdência diante de riscos claramente conhecidos. Podemos prender alguns culpados, mas o drama de Santa Maria tem uma causa maior e coletiva, a tragédia é o produto direto da cultura brasileira de desprezo pelo risco e leviandade com a vida, e que se manifestou de forma dolorosa na festa da boate Kiss. Nada que se faça agora poderá recuperar as vidas perdidas. Mas para evitar outros incidentes dramáticos e dolorosos no futuro, o brasileiro tem que ser mais previdente e menos leviano.