Walter da Costa Jacarandá, coronel reformado do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, foi o primeiro militar a assumir publicamente que participou de torturas durante a ditadura militar do Brasil. No seu depoimento à Comissão da Verdade, nesta semana, Jacarandá afirmou que entrou para o DOI-CODI por espírito de aventura acrescentando que “era paraquedista e queria entrar nesta guerra” contra o “movimento contrarrevolucionário”. Embora dizendo que nunca teve cor política, o coronel disse no seu depoimento que estava cumprindo uma missão patriótica. A confissão do coronel Jacarandá coincide com o lançamento no Brasil do filme Hannah Arendt que destaca a análise da filósofa alemã do julgamento do oficial nazista Adolf Otto Eichmann em Jerusalém. Os dois criminosos – Eichmann e Jacarandá – parecem ter uma característica comum: são pessoas terrivelmente normais e, apesar disto, capazes dos mais hediondos atos criminosos, evidenciando o que Arendt chama de banalização do mal. Mas, a julgar pelos seus depoimentos, existe uma grande diferença entre Eichmann e Jacarandá: enquanto o oficial nazista afirmava que “apenas cumpria ordens” e, como analisa Arendt, renunciava a pensar e julgar, o coronel brasileiro torturou prisioneiros políticos por convicção ideológica, cumprindo uma “missão patriótica”. Convém lembrar, contudo, que as ideologias também costumam cegar e confundir os valores, inibindo o pensamento e, desta forma, “autorizando”o mal.

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