Perdemos mais um: o manso e profícuo Carlos Fernando.
Não quero fazer um necrológio, juro. Tentarei chamar a atenção dos que lerem isso para um grande brasileiro que não é celebridade.
Compositor de alta qualidade, parceiro de outros como ele.
Muitos, mesmo sem saber, cantaram e dançaram as suas obras.
Comecei por “um manso” no sentido que aprendi com amigos cristãos.
Era um grande convivente. Conversar era uma arte que ele cultivou.
Falava de si, das coisas do mundo. Contava histórias hilariantes e tinha uma enorme capacidade de ouvir os seus interlocutores.
Ativo militante político e cultural (seja lá o que isto queira dizer) sempre indignado com a exploração, o cinismo, os malfeitos, mas sem espumar pela boca. Nunca o vi odiento.
Conheci-o no MCP, nas conversas de botequim em Olinda, no Recife e no Rio. Estivemos juntos na origem do Siri na Lata, na Casa de Caruaru que houve nas Graças.
Nos últimos anos nos víamos pouco por contingencias dessa vida isolacionista. Acho que como eu não feicebucava. Mas sempre, no baile do Siri, enquanto todos se esbaldavam saiamos do camarote para por o papo em dia. No deste ano ele não chegou a ir. Já estava doente e agora fiquei sabendo que então estava no hospital.
Espantava-me a sua sincera humildade demonstrada pela voz e pelo corporal. Sempre lembro como ele agradeceu a inclusão de “Aquela Rosa” num espetáculo chamado Memórias de Dois Cantadores que montamos no TPN, eu mais Hugo Caldas e Silvio Batuchansky.
Lembrava que havia sido a primeira vez que uma música sua estava em espetáculo e cantada por Teca Calazans.
Magine Só: ele agradeceu quando nós é deveríamos ser-lhe gratos por ele permitir usar aquela lindeza.
Não sei se o ECAD transferiu para ele o que recolhemos. Nem sei se o fez com rigor ao longo de sua carreira. Ele não ficou rico com o seu ofício. Deveria ser ao menos, por conta dele, um remediado de classe média, mas precisava ralar em outras labutas.
Escrevo tudo isso para que possamos armar uma conspiração tipo “do not forget”.
Ao longo desta semana, talvez a tal mídia de massas toque no assunto e quando do seu centenário haja um “especial” e o Prefeito de Caruaru aponha uma placa.
Enquanto isso toquemos os discos com as suas músicas, cantemos suas parcerias com Alceu e “Geraldim”, por exemplo; programemos Carlos Fernando em botequins que fazem cantorias como o Retalhos e outros que não conheço.
Quem tiver algo para contar sobre ele, dane na “Será?”.
É não deixar a peteca cair. Para nossa alegria, a de nossos filhos e netos e do povo em geral. Ele, modestamente, agradeceria.
Evoé.
PARABENS PELA BONITA E JUSTA HOMENAGEM AO CARLOS FERNANDO .
COM CERTEZA ELE ESTAR NO CEU , AO LADO DE DEUS .
E NAS FESTAS QUE TIVEREREM NO CEU, AS MUSICAS PREFERIDAS SERA A DO CARLOS FERNANDO.
MAIS UM SABIO PERNAMBUCANO SE ” MUDOU” . DA TERRA PARA O CEU.
LAMENTAVEL E TRISTE.
GOSTEI MUIIIIIITO DESTA REVISTA. PARABENS
ESPERO QUE DEUS DE A REVISTA SERA ? MUITO SUCESSOS E SORTE.AMEM.
ABRACO SINCERO..
ITO CAVALCANTI
CALIFORNIA, U.S.A..
Amigo David, atendo à sua convocação para dizer alguma coisa sobre Carlos Fernando. Mas você já disse o essencial. Relembro apenas alguns momentos em que desfrutei da companhia dele e que nunca vou esquecer: no TPN, quando ouvi de alguém, mobilizado por ele, e acompanhado ao violão,a marchinha “Aquela Rosa”, em primeira mão, antes de ser gravada e tornar-se um sucesso; na Casa de Caruaru, em uma noite memorável, com Nelson Xavier e Emiliano de Queiroz (atores de “Dois Perdidos numa Noite Suja”), Claudionor Germano, Armando de Holanda e Clementina Duarte, ouvindo, entre outras coisas, boas piadas sobre um vereador “folclórico” da sua cidade; e, entre tantss boas lembranças, uma amarga: na saída do cinema de arte do São Luís, numa manhã de sábado, quando perguntei pela irmão dele, Manuel Messias, que estava ao seu lado, e eu não reconheci, de tão debilitado que estava pelas torturas sofridas nas prisões da Ditadura Militar. Além de um grande artista, um grande companheiro de sonhos e pelejas, que soube sobreviver à longa noite dos 21 anos e sair do túnel íntegro e cheio de esperança. Que seja louvado!
Que beleza de texto… Conheci Carlos Fernando, embora pouco tenha usufruído de sua companhia mais próxima; nossos contatos foram sempre nos coletivos e nos eventos onde outrem falavam e tocavam e discursavam… Conheci-o em 86, na campanha de Arraes, junto com Capinam, em cuja casa pude me hospedar no Rio Vermelho, em Salvador… Trouxeram-me lembranças sua passagem e esse texto… Lembro das discussões em que ele defendia ferrenhamente a inovação do Frevo e criticava o conservadorismo e certo bairrismo que, segundo ele, permeavam os que faziam cultura popular aqui em Recife. Evoé!
Carlos Fernando, o frevo.
Luiz Otavio Cavalcanti
Não era próximo a ele. Estivemos juntos umas poucas vezes. Em conversas ao redor de música. Testemunhadas por Rubinho Valença. E, uma vez, na casa de Alceu, em Olinda. Num final de tarde mágico. Os paralelepípedos seculares amparando nossa vontade de fazer. E o sol, no jogo de luz e sombra, que era despedida.
Naquela tarde noite , discutíamos apoio à mixagem de CD de compositores pernambucanos. Com muita percussão e a participação de Naná Vasconcelos. Infelizmente, muito caro, o disco não foi pra frente.
Mas, estou recordando essas passagens, para dizer que, em todas essas ocasiões, estava presente o sorriso manso de Carlos Fernando. O olhar suave, o gesto convite.
Carlos Fernando era pernambucano de Caruaru. Mas parecia ter sido um querubim da Renascença numa tela de Da Vinci. Que entrou sem querer em nossa época. E, caminhando torto, fez tudo direito. Fez o que um homem doce, como ele, faria melhor: música. A música de sua terra, frevo. Falando de cheiros, passarinho, coração, amor.
Numa época de brevidades, como esta que escapamos, Carlos Fernando era uma pausa, um refresco de convivência. Não me lembro dele senão sorrindo. Penso que ele sabia que nós precisávamos do sorriso dele. Então, ele saía por aí, distribuindo pedaços de amizade feitos de leveza.
1969. Eu namorava o Zé Hamilton, que recebia amigos em casa nos almoços aos sábados,. Carlos Fernando era um dos freqüentadores assíduos. Naquele tempo acho que ainda não estava compondo. Era um grande contador das infindáveis historias de Caruaru, de Manuel Messias, do partido comunista de Manuel Messias. acompanhei de longe o sucesso de suas musicas. Grande Carlos Fernando!
Um poeta não morre: “encanta-se” !
Carlos Fernando ? Presente !!!
As Asas da América continuarão cantando os seus belos versos e frevos/hinos, no sobe e desçe ladeiras (da vida) do lado de cá. Adeus, camarada !
Chico
Ele amou Caruaru sem qualquer bairrismo, tanto que ousou taxar: “Nem tudo que há no mundo tem lá na feira de Caruaru”. Nas tardes fagueiras do Savoy da Guararapes marcava certeira presença na destilação de bom papo regado a cervejas e amendoim. Sábado pela manhã, firme no cinema de arte do São Luiz. Era indiferentemente aceito pela esquerda e pela elite de direita, mas pela mão esquerda foi vitima da truculencia da ditadura que não suportava a leveza do Ser. E, como pássaro, flutuou no ar em asas americanas.
Pois é, David Hulak. Não me lembro de ter reencontrado você desde a “gloriosa” de 64, pois moro em São Paulo desde então e quando for ao Recife, de ano em ano, preocupo-me mais em rever familiares.
Foi uma alegria rever seu nome e devo informar que fui muito amigo de Carlos Fernando e Manoel Messias. Convivo principalmente com Danilo, o irmão mais novo que mora em Sampa desde os 16 anos.
Acabo de colocar aqui um comentário.
Um grande abraço, Flávio Tiné
Ainda que vivo esteja morto
nosso grade compositor
amigo de grandes farras
muitas histórias contou
delas, tantas verdadeiras
outras ele as inventou
bebeu wisques bastante
com cigarros intercalou
uma saudade da peste
pra todos os amigos deixou.
Meu querido Carlos Fernando, convivemos desde 1992, posso assim me apresentar: sou sua “flor do éden” música belíssima cantada por Geraldinho Azevedo, como também sou sua “Terezinha de Caruaru” que nasceu em Casa Forte, música lindíssima do CD “Pessoas”. Enfim, meu eterno namorado. Amor querido. Muitas saudades, sua eterna namorada.
Foi há muitos anos. Num belo domingo à tarde, quando eu saia da casa de meu pai, Zé Barreto, ali no Rosarinho, e estava fechando o portão quando atrás de mim um táxi para com uma freada sensacional. De dentro dele saem Jório Valença, um outro amigo que não lembro o nome e nada mais nada menos que Carlos Fernando. Todos já passadinhos da conta, daí estarem de táxi. Carlos Fernando toma a frente do bando e pergunta: – Diga lá!!! Cadê Zé Barreto???. Ao que eu respondi: – Zé Barreto tá em Itamaracá!. Ele vira pra Jório e pergunta: – E agora???. Os três se entreolharam e depois olharam pra mim e disseram parecendo ter ensaiado o côro: – Vai tu mesmo, bora!!! Dito isso, me fizeram abrir a casa, que estava sem ninguém, me sequestraram e me levaram até o quartinho do primeiro andar, que Marcelo Marques carinhosamente chamava de Torre de Cristal, onde ficava toda aparafernália musical de Zé Barreto. Lá, puseram compulsoriamente um violão nas minhas mãos e me fizeram tocar um monte de musiquinhas maravilhosas até o cair da noite. Jório e Carlos cantavam mal, muito melhor do que eu, enquanto o outro amigo, mais calado que uma porta, só fazia rir. Foi o melhor cativeiro ao qual eu me submeti em minha vida. Carlos Fernando, Jório Valença e o amigo Hilariante. É… às vezes por bobeira a gente deixa de curtir com mais força certos momentos de nossa vida, sem saber que talvez venha a ser a última vez que isso possa acontecer. Daria tudo por um outro “sequestro” desses. Saudades, meu xará. Fica na paz!!!
De Carlos Alberto para Carlos Fernando!!!
Grande estória Caca!
A Torre de Cristal, estúdio de Zé Barreto – para mim um dos grande violonistas na harmonia – recebeu muita gente ilustre Vinicius de Moraes, Abad e outros. Imagino teu espanto em chegar dois caras embriagados e forçá-lo a tocar.
Conheci Carlos Fernando no início dos anos 70 no Bar Degrau no Leblon, antes da fama. Já era compositor reconhecido e um manso contador de histórias. Muitos anos depois, em viagem, mandei-lhe um cartão postal: Carlos Fernando, Rio de Janeiro, Leblon, Bar Degrau. Ele recebeu. A última vez que nos vimos, no Bar do Neno, ele lembrou disso. Rimos juntos! Mansamente, no seu estilo. Fica a saudade.
Minhas lembraças me levam de volta ao tempo em que vivia em Caruaru. Tempo que as pessoas se cumprimentavam e se conheciam pelo nome. Convivi e abusava do amigo Carlos Fernando. Sua fala mansa, seus causos e poesias nos deixavam maravilhados quando de suas visitas a nossa casa em Caruaru. Como dizia em suas falas “TEMPOS IDOS”… ao recordar suas lembranças de Caruaru, eu o plagío. Caruaru perdeu um POETA, um COMPOSITOR, Pernambuco perdeu um disceminador da CULTURA POPULAR e o Brasil um GRANDE HOMEM.
HÁ MAIS OU MENOS 30 ANOS MORANDO NA ÉPOCA NO RIO DE JANEIRO, NAS MINHAS IDAS DE QUANDO EM VEZ A SÃO PAULO DEPAREI-ME EM UM BOTECO JÁ NA MADRUGADA BASTANTE AVANÇADA, COM ALCEU VALENÇA, E UMA OUTRA FIGURA, ONDE COMEÇAMOS A BATER AQUELES PAPOS DE BOÊMIOS, DEPOIS DE MAIS DE 3 HORAS DE CONVERSA FOI QUE VIM A DESCOBRIR, QUE AQUELA OUTRA PESSOA QUE ESTAVA NA COMPANHIA DE ALÇEU ERA DE CARUARU E SE CHAMAVA CARLOS FERNANDO; ESTE ENCONTRO ME MARCOU PROFUNDAMENTE EM SABER QUE EU TINHA UM CONTERRANEO, TÃO IMPORTANTE NO SEU DISCURSO ARTISCO E CULTURAL E AO MESMO TEMPO UM SER HUMANO, BASTANTE SIMPLES E AGRADÁVEL, OBGDO CARLOS FERNANDO POR TER USUFLUIDO DE SUA COMPANHIA INCLUSIVE NO FINAL TAMBÉM DA MINHA BOEMIA.