A cassação do mandato do deputado federal Natan Donadon, condenado a uma pena de mais de treze anos de prisão por crimes de corrupção, pela unanimidade de 467 votos a favor e apenas uma abstenção, tem algo de vexatório, quando se considera que no ano passado, em 28 de agosto, a mesma Câmara dos Deputados rejeitou a medida. Naquela ocasião, os que votaram pela cassação foram apenas 233 deputados. Mesmo processo, mesmos personagens, mesma instituição. A única coisa que mudou foi o método: antes, voto secreto; agora, voto aberto. Em menos de um ano, praticamente metade dos nossos representantes, obrigados a confrontar seus eleitores sem a proteção do anonimato, “virou a casaca”. Independentemente do entusiasmo que a cassação de agora pode provocar nos brasileiros interessados na moralização da coisa pública, a súbita mudança nas convicções dos deputados com assento no Congresso Nacional chama a atenção. Ilustra, exatamente, a falta de convicções de boa parte dos representantes do povo brasileiro.