Uma marchinha carnavalesca de meados dos anos de 1950 gozava uma cidade em que “de dia falta água e de noite falta luz”. Depois de mais de meio século de crescimento econômico, em que o Brasil se notabilizou por sua enorme cadeia de fornecimento de energia hidroelétrica que iluminou os rincões mas afastados do país, vejam onde chegamos! As notícias e as cifras são alarmantes e estão em todos os meios de comunicação. Uma tal repercussão está diretamente relacionada com a crise de água na maior cidade do país. Lá, esperou-se por São Pedro até o último momento. Somente quando não foi mais possível confiar na chuva, deu-se a conhecer à sociedade a gravidade do problema. A novidade é a dimensão da catástrofe e não a maneira de enfrentá-la. Pois assim vêm sendo implementadas as políticas públicas em nosso país: empurrando (com a barriga) para depois (sobretudo se for em época eleitoral) os planos de infraestrutura de médio e longo prazos. Afora a falta d’água nos reservatórios e as suas consequências danosas para toda uma cadeia produtiva do país (onde se sobressai a energia elétrica) e sobretudo para as populações envolvidas, acrescente-se a isso a questão ambiental que subjaz à crise de água. Essa talvez seja a única consequência positiva da crise a médio prazo: à custa da carência de um recurso da natureza que até hoje parecia inesgotável no país do rio Amazonas, do rio São Francisco, do rio Paraíba, eis-nos, habitantes urbanos, sabendo na carne o quanto temos que cuidar da natureza que nos alimenta e nos dá vida.
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A situação não seria de todo crítica que a escassez de precioso líquido que impulsiona as turbinas, gerando a hidro-eletricidade dependesse única e exclusivamente do Ser Humano. As “pegadas hídricas” apontam a agulha da bússola para outra dimensão. Existe enorme desperdício nas atividades agrícolas e industriais. A cartilha editada pela FECOMERCIO de São Paulo em 2011, diz: Ao se contabilizar o gasto de água envolvido em cada uso, se conhece quão intensivo neste recurso natural é cada item. Isto permite realizar“benchmarking”entre diferentes processos e fabricantes e tomada de decisão pelo consumidor consciente. Ainda cita, dentre outros, os gastos com água: 1 kg de carne de frango consome de 3.500 a 3.700 litros de água em todo
ciclo de produção. Olhar os reservatórios baixando o volume de água estocada e não fazer nada passa a ser uma irresponsabilidade social. Nós precisamos saber mais onde essa água toda está sendo gasta e o que faremos para a reposição do “estoque”. A cada poço artesiano perfurado retira-se água que a natureza levará décadas para repor.