Uma marchinha carnavalesca de meados dos anos de 1950 gozava uma cidade em que “de dia falta água e de noite falta luz”. Depois de mais de meio século de crescimento econômico, em que o Brasil se notabilizou por sua enorme cadeia de fornecimento de energia hidroelétrica que iluminou os rincões mas afastados do país, vejam onde chegamos! As notícias e as cifras são alarmantes e estão em todos os meios de comunicação. Uma tal repercussão está diretamente relacionada com a crise de água na maior cidade do país. Lá, esperou-se por São Pedro até o último momento. Somente quando não foi mais possível confiar na chuva, deu-se a conhecer à sociedade a gravidade do problema. A novidade é a dimensão da catástrofe e não a maneira de enfrentá-la. Pois assim vêm sendo implementadas as políticas públicas em nosso país: empurrando (com a barriga) para depois (sobretudo se for em época eleitoral) os planos de infraestrutura de médio e longo prazos. Afora a falta d’água nos reservatórios e as suas consequências danosas para toda uma cadeia produtiva do país (onde se sobressai a energia elétrica) e sobretudo para as populações envolvidas, acrescente-se a isso a questão ambiental que subjaz à crise de água. Essa talvez seja a única consequência positiva da crise a médio prazo: à custa da carência de um recurso da natureza que até hoje parecia inesgotável no país do rio Amazonas, do rio São Francisco, do rio Paraíba, eis-nos, habitantes urbanos, sabendo na carne o quanto temos que cuidar da natureza que nos alimenta e nos dá vida.