Estamos de luto, meu amor. Enjaulamos o sentimento. O plasma molda a humanidade no sequestro das meninas e mal atentamos para as contradições no Boko Haram significando a destruição de todo o Ocidente, enquanto absolvemos a devolução em bombas russamericanenglish, com eflúvios de Paris. Não nos importa mais quantos filhos do plasma morrem aqui e ali, a contagem é diária, não fazemos conta. De vez em quando, acontece lermos a contabilidade dos mortos na guerra civil, que alguém, por curiosidade, ou simples registro jornalístico, não por compaixão, cuida de fornecer, é distante a morte dos outros filhos do plasma, acontece em outro planeta. A temperatura aumenta em todos os quadrantes, destruímos o plasma: você sabia que, desde 1976, a temperatura média do globo está acima da média do século XX? A constatação não é minha, li nos jornais, mas achei de conteúdo humano relevante: ninguém com menos de 36 anos conheceu um ano frio em comparação com o que viveram seus pais e avós. Nossos filhos, coitados, não viverão as mesmas coisas que vivemos. Os negros continuam sendo mortos na terra de Tio Sam, pela simples razão de serem negros: o grande sistema judiciário funciona bem para os brancos, não para eles. Em nossa terra, eles morrem ao nascer, condenados à decapitação, não a rápida, fria e midiática decapitação do EI, mas a cotidiana, que vai da fome ao primeiro lugar em todas as estatísticas negativas de saneamento e poder aquisitivo, enfim, a miséria como sentença social. Longe também vai a capacidade de indignação, bastando lembrar as nossas passeatas inócuas: todas as mentiras vieram à tona novamente, todos os roubos, a corrupção e as nulidades emergiram da água dos rios secos e se colaram ao corpo de todas as pessoas, todos andamos meio envergonhados e ansiosos por ver onde isso tudo vai dar, sem sair às ruas, contudo. Basta, já fizemos a parte do povo, passeamos, votamos, agora que as instituições façam a sua. Na província, ao tempo em que esperávamos novidades do jovem, o que nunca fora e teria uma vida inteira pela frente, uma vida diferente, nosso alento, apontou-nos ele o mesmo quinto mandato de um aliado sem instituição, pois há de se chamar instituição aquela que se deixa imolar por favores e mimos aos seus integrantes?Assim como o amor enjaulado é a morte, a vida, tal como o plasma nos molda, é o amor enjaulado. Por isso, não vamos a festas, nem você, nem eu, não vamos a reuniões sociais, a casamentos, a happy hours, enquanto o amor estiver enjaulado. Cessem os clarins e tambores, fica suspenso também o carnaval, não temos redenções a comemorar. Estamos de luto. Não tenho mais esperança, como Drummond, de que o homem destruirá a bomba. O amor entrou no cárcere. E dele jamais sairá.
Sobre o autor
João Humberto de Farias Martorelli
Nascido em 26/09/55. Formado pela Faculdade de Direito do Recife. Colou grau em 18/08/77 (Turma Torquato Castro – foi laureado e orador da turma). Foi membro efetivo do Conselho de Recursos Fiscais do Município do Recife (1981) e Procurador Judicial da Prefeitura do Recife (1981/2001) com atuação na Procuradoria Fiscal (ambos os cargos, ingressando por concurso público). Foi também Secretário de Assuntos Jurídicos da Prefeitura do Recife, no período 01/01/86 a 02/05/88 e Conselheiro Federal da OAB, Seccional Pernambuco, no triênio 98/2000. Ex-Conselheiro e Ex-Presidente da Causa Comum. Membro da Associação Internacional de Juristas Democratas. Membro do Conselho Diretor do CESA – Centro de Estudos das Sociedades de Advogados (até 2005), sediado em São Paulo, Vice-Presidente da Regional do CESA/PE. Chairperson do Comitê de Legislação da AMCHAM (2003). Fundador de MARTORELLI ADVOGADOS, Escritório de Advocacia Empresarial com atuação em todo o Nordeste, com 30 Anos de atuação. Vários artigos publicados em coluna quinzenal no Jornal do Commercio e um livro em edição privada, “O Cofre é o Coração”, reunindo alguns dos artigos. Presidente do SPORT CLUB DO RECIFE (2014).
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