João Humberto Martorelli

Eu sou o responsável – o único responsável – pelos insucessos do futebol do Sport na primeira quadra deste ano. A um, porque essa responsabilidade é inerente ao exercício da presidência, o cargo mais alto do clube. A dois, porque o Sport atuou de acordo com os princípios que fixei para minha administração, baseados na minha experiência como profissional e empresário, e, claro, na paixão pelo clube. Qualquer administração coerente tem que fazer um diagnóstico e um planejamento estratégico, e minha constatação, já ao assumir o clube como interino em dezembro de 2013, ao priorizar a série A, foi que não alcançaríamos resultados expressivos no curto prazo em virtude da abissal diferença entre os números das cotas televisivas e dos quadros de sócios do Sport e dos clubes do Sul e Sudeste. O Sport percebe anualmente entre 15% e 20% das cotas de televisão do Flamengo e do Corinthians e aproximadamente 40% dos demais clubes da região. Diferenças percentuais ainda maiores ocorrem quando se conta o número de sócios ativos e pagantes. Embora partindo eu para maior protagonismo na luta pela reformulação das cotas de televisão, a alternativa para gerar receitas compatíveis com a grandeza do Sport é o investimento na base do futebol. O competente e sério técnico Eduardo Batista tem a missão clara de promover a base e integrá-la ao futebol profissional, já contando o Sport, neste momento, fato absolutamente inédito na história do clube, com, pelo menos, sete jogadores da base que atuam na divisão principal: isso propicia bom futebol com salários relativamente baixos e, melhor ainda, a possibilidade de realizar receitas expressivas com a venda de jogadores cujos direitos pertencem em sua quase totalidade ao Sport. Quanto ao número de sócios, contratamos uma empresa de renome internacional para atualizar o cadastro e promover, junto com o departamento de marketing do clube, esse completamente reformulado, um novo programa de captação de sócios: espero que, apesar do círculo vicioso (futebol condicionando sempre o programa de sócios), possamos fazer prevalecer a mentalidade de que o clube não vive de títulos, mas de sócios. Com o plantel formado por jogadores egressos das categorias de base mesclados a profissionais experientes e o apoio dos sócios, o Sport poderá gerar receitas que permitam mantê-lo na série A do campeonato brasileiro e disputar torneios internacionais que engrandeçam o clube. Mas isso tudo somente será possível em um horizonte de tempo mais largo, dada a característica do planejamento e das metas estipuladas. Enquanto isso, continuamos correndo o risco de derrotas marcantes, e temos que ter a consciência de que, se nos limitarmos a ficar na dimensão da crítica apaixonada e destrutiva, nunca iremos adiante de uma desconfortável etapa de transição, que requer coragem e visão de longo prazo.