O primeiro ministro da Grécia, Alexis Tsipras, obteve uma grande vitória política com 61% dos gregos dizendo “não” às exigências do Banco Central Europeu (foram os jovens, que não se sentem responsáveis pelos desmandos do passado, que votaram maciçamente no não). Vitória política, mas, e a economia grega? O resultado econômico e, principalmente, político vai depender de avanços rápidos na retomada das negociações para definição de novas bases de acordo, menos rigorosas e mais alongadas no tempo. O que parece pouco provável. O primeiro ministro diz que quer voltar à mesa de negociações e que agora está com condições alterar os termos do diálogo. Até agora a troika formada pela União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional, assim como França e Alemanha, não gostaram do plebiscito, menos ainda do resultado. O vice primeiro ministro da Alemanha chegou a dizer que a Grécia “derrubou as últimas pontes sobre as quais Europa e Grécia poderiam ter se movido em direção a um acordo”. Depois de uma integração econômica, comercial e financeira à União Europeia, qualquer movimento da Grécia pode provocar grande estrago na economia nacional, a começar por uma crise do sistema financeiro sem liquidez com falência de bancos. O que aumenta e urge a necessidade de apoio do Banco Central Europeu. Se a ajuda não vier e a crise se aprofundar, a Grécia mergulha no caos e o governo perde, rapidamente, o apoio da população adquirido no plebiscito. A dívida da Grécia é impagável e já supera os 177% do PIB. Ocorre que a Grécia já vem fazendo um enorme e doloroso sacrifício e mesmo o governo de Tsipras tem confirmado as medidas drásticas de austeridade. Mas o aperto tem limite. A Grécia não agüenta mais – forte recessão por cinco anos seguidos, desemprego elevado e aumento da pobreza – e não pode pagar com tanto custo pelos erros da política econômica passada. Algum esforço os gregos têm que fazer para recuperar a capacidade de pagamento. Mas, para que a corda não se rompa, jogando a Grécia no abismo e na desagregação política e social (com os impactos em toda a Europa), os líderes europeus têm que negociar uma ampla reestruturação da dívida grega. O governo grego mostrou disposição para respeitar os compromissos, mas isso não será possível sem uma reestruturação completa no volume e no perfil da dívida. A bola agora está nos pés de Angela Merkel. E a Zorba, resta dançar.
(*) Zorba é o personagem central do filme “Zorba o Grego” (1964) de Nikos Kazantzákis, que simplesmente dançava com alegria para esquecer e superar as dificuldades. “Há em mim um diabo que grita, e eu faço o que ele diz. Cada vez que eu estou a ponto de sufocar, ele diz: Dança! E eu danço. E isso me alivia.
Um esclarecimento para quem esteja interessado em acompanhar as negociações da dívida soberana da Grécia, que ainda vão prosseguir por muito tempo. A chamada “troika” não toma decisões políticas. A “troika”, oficialmente também mencionada como “instituições de Bruxelas”, consiste no FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu, que discute e faz propostas técnicas. A entidade onde se dão os acordos políticos é o Eurogrupo (constituído dos governos dos 18 países membros que têm o euro como moeda comum). O Eurogrupo examina as propostas técnicas da “troika”. A título de curiosidade: o governo mais contrário a se transferir mais dinheiro para a Grecia é a Finlândia. Todos os governos do Eurogrupo têm créditos concedidos à Grécia, bilaterais e através do Mecanismo de Estabilidade Europeu e do Banco Central Europeu. Em um pais bem pequeno, como Malta, os créditos oficiais concedidos à Grécia equivalem a 5% do PIB de Malta. Em geral os créditos oficiais concedidos à Grécia são equivalentes a 3% e 4% do PIB do país credor. A proporção menor é a da Irlanda: os créditos oficiais concedidos equivalem a 1,4% do PIB da Irlanda. Só para mostrar que o assunto não é tão simples como deixar Zorba dansando e pedir que Angela Merkel cure a ressaca da farra grega.
Importante, sob todos os aspectos, o editorial que nos traz detalhes da situação da Grécia, que acompanhamos pela imprensa. Mas, o mais importante, e que ressalto do escrito é que o “não” as exigências do Banco Central Europeu, foi dado por jovens; o que nos mostra, que é dos jovens que sempre dependerá o futuro de cada nação, basta, portanto, que sejam conscientizados politicamente.