Nightmare - autor desconhecido

Nightmare – autor desconhecido

 

Depois de quatro anos de provocações, tensões, ameaças e agressões às instituições e às regras democráticas, de desrespeito aos valores republicanos, de isolamento mundial e desmatamento da floresta Amazônica e invasão de terras indígenas, de desprezo com os sofrimentos das vítimas da COVID-19, o Brasil finalmente acordou do pesadelo. O presidente Jair Bolsonaro foi derrotado nas urnas e não terá mais o poder de contaminar a política nacional e infernizar a vida dos brasileiros. Mas ele saiu muito fortalecido, com mais de 58 milhões de votos e com aumento significativo de deputados e senadores. Parte dos fanáticos bolsonaristas estão ainda provocando inquietação e tumulto, com a interdição das rodovias, pedindo a intervenção militar para evitar a posse do presidente eleito. Mas nada semelhante ao temor que se tinha de uma comoção social que permitisse a convocação das Forças Armadas.

Bolsonaro está completamente isolado politicamente. O discurso pacificador de Lula, ao confirmar a sua eleição, a reação rápida e contundente de todas as grandes lideranças internacionais, aceitando o resultado das eleições e comemorando a derrota de Bolsonaro, e as declarações dos presidentes da Câmara e do Senado, bem como dos governadores aliados do presidente, como Romeu Zema e Tarcísio Freitas, enterraram as chances de uma revolta golpista do candidato derrotado.

O pesadelo acabou. E agora? Lula vai assumir o governo no meio de uma crise fiscal, resultado de uma bomba de quase 200 bilhões de déficit público, demandas sociais elevadas alimentadas por suas promessas irreais. O futuro presidente vai ter que lidar também com um Congresso com uma grande bancada direitista e com os velhos caciques do Centrão, viciados no fisiologismo e sentados no orçamento secreto. Felizmente, Lula tem dado sinais de que pretende montar um governo amplo e responsável. O teor do seu discurso e os seus primeiros movimentos, nomeando Geraldo Alckmin como coordenador da transição e buscando negociação com partidos do centro-democrático, podem sinalizar para um governo de coalizão. Lula pode ter entendido bem que não teria sido eleito se não tivesse contado com o apoio e o engajamento de milhares de lideranças do centro-democrático, Simone Tebet, Marina Silva, Fernando Henrique Cardoso, João Amoedo, o empresário Pedro Passos e centenas de intelectuais e economistas. Resta ainda uma grande dúvida: Lula se livrará das ideias atrasadas do PT e abandonará as arraigadas pretensões hegemonistas do petismo?