Editorial

O pacote anunciado esta semana pela equipe econômica do governo da Presidente Dilma Roussef tem um certo mérito: mostra que pretende vencer a inércia em que estava mergulhado  o governo diante da perplexidade da crise. Mas o preço final será muito maior do que esta tímida indicação de que o governo ainda governa. Excluindo o aumento de impostos, as medidas apresentadas formam um conjunto tímido, insuficiente e inconsistente de cortes, alguns dos quais sequer precisavam ser anunciados com pompa e circunstância, como a suspensão de concurso público. A desproporção dos componentes deste pacote mal embrulhado indica que tudo serviu apenas para disfarçar e viabilizar o principal propósito governamental: a aprovação do imposto do cheque, instrumento de peso e permanência (falam em quatro anos). No entanto, com esta “cortina de fumaça”, os assessores políticos da presidente podem ter dado um tiro no pé, porque este picadinho de medidas atinge vários grupos de interesse, muitos deles tradicionais simpatizantes do governo e do Partido dos Trabalhadores. Para completar a barbeiragem, a presidente apenas anuncia (de novo) que, na semana seguinte, vai fazer uma reestruturação dos ministérios. Será? Maquiavel seguramente teria reprovado esta manobra. A nova CPMF incomoda a todos de forma igual e, apesar de rejeição aos impostos, não criaria inimigos diretos como os grupos de interesse que serão atingidos por cada uma das medidas específicas. De pouco peso no resultado fiscal, estas podem ter um efeito político devastador pela revolta localizada de cada grupo prejudicado. O pacote deve gerar também uma reação negativa de grande parte dos movimentos sociais que ainda apoiam o governo e a deteriorar a imagem pública da presidente e do seu governo.  O impacto disso no Congresso, já irritado com a tentativa de amarração das emendas parlamentares, pode ser arrasador e, além das dificuldades de aprovar a nova CPMF, fragmentar de vez a sua já frágil base de apoio político.