Editorial

A esmagadora derrota eleitoral do Presidente Nicolas Maduro, na Venezuela, evidencia o declínio do tardio populismo na América Latina, cuja melhor caricatura é o chamado bolivarianismo inventando por Hugo Chavez. O propalado “socialismo do século XXI” de Chavez tem sido, na verdade, um populismo do século XX ou, como diz o sociológico venezuelano Ignácio Ávalos, um “socialismo rentista” limitado a um distributivismo da renda gerada pelo petróleo que não transforma as estruturas atrasadas da Venezuela. Com o voluntarismo dos caudilhos, acompanhado de grotesco e mórbido personalismo (após a derrota eleitoral, Maduro reuniu o ministério diante do túmulo de Hugo Chavez provavelmente para receber orientação e mensagens do seu ídolo), os governos bolivarianos usaram e abusaram do Estado e da PDVSA, estatal do petróleo, levando a Venezuela a uma grave crise econômica: inflação de mais de 60% ao ano, desabastecimento agudo de produtos essenciais, crise fiscal e violência crescente. Apesar da manipulação de dados, da mistificação bolivariana e da repressão a líderes da oposição, como Leopoldo Lopez, condenado a 14 anos por “incitar protestos violentos”, a população da Venezuela demonstrou, com seu voto, a enorme insatisfação, identificando Maduro e seu bolivarianismo como os responsáveis pelo desmantelamento da economia e pela desagregação social do pais. A amplitude da vitória da oposição nas eleições parlamentares encerra o ciclo populista na Venezuela, porém está longe de amenizar o confronto político e restaurar a estabilidade econômica. Nicolas Maduro continua conduzindo a política econômica e seu fracasso eleitoral pode acentuar a radicalização política do país. Para completar o isolamento de Maduro e sinalizar o ocaso do populismo na América Latina, a Venezuela perdeu um dos seus poucos aliados e seguidores no continente, a Argentina de Cristina Kirschner, herdeira do mais velho e anacrônico caudilhismo latino-americano.