Sem contar mais com a proteção do demolidor do futuro Donald Trump, Jair Bolsonaro vestiu uma camisa verde de ambientalista (não de integralista) para esconder a motosserra e a tocha empunhadas pelo Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para destruir as florestas brasileiras.

Ele sentiu o golpe da advertência do presidente Joe Biden, de que se o Brasil não se comprometesse em reduzir o desmatamento iria enfrentar “consequências econômicas”. E recebeu fortes pressões internas, incluindo empresários do agronegócio, que veem seus mercados ameaçados por restrições de países preocupados com o desmatamento e as queimadas.

Na carta que Bolsonaro enviou ao presidente Joe Biden no dia 15 último, e no seu pronunciamento na Cúpula do Clima, nesta semana, ele mentiu, entre outras coisas, afirmando que “determinei o fortalecimento dos órgãos ambientais, duplicando os recursos destinados às ações de fiscalização”. Ele apresentou os avanços efetivos do Brasil na área ambiental como se fossem realização dele, quando, na verdade, são méritos de governos anteriores, e que ele vem, ao contrário, tentando destruir.

Bolsonaro disse que “historicamente, o Brasil é voz ativa na construção da agenda ambiental global”, e que “está na vanguarda do enfrentamento ao aquecimento global”, como detentor da maior biodiversidade do planeta, e potência agroambiental. Na realidade, desde que ele assumiu o poder, o Brasil passou a ser o pária no debate mundial sobre meio ambiente e mudanças climáticas. Qual a credibilidade que Bolsonaro tem, para comprometer-se com metas ambiciosas e louváveis de redução de emissões de gases de efeito estufa e alcance da neutralidade climática, quando tudo o que ele e seu Ministro do Meio Ambiente dizem e fazem é abrir a porteira para o desmatamento e as queimadas, flexibilizar leis e desmontar os órgãos de fiscalização e controle do meio ambiente? E isso coincide com a evidência do recorde de desmatamento da Amazônia nos últimos dez anos.

A mediocridade e a ignorância do presidente Bolsonaro impedem que ele perceba a evolução do mundo, na direção de uma economia de conhecimento e de baixo carbono. Ele não converge e, provavelmente, sequer entende o teor ambientalista do seu discurso na Cúpula do Clima.