Eli S. Martins(*)

Personagem do filme V de Vingança.

Personagem do filme V de Vingança.

CONFISSÃO

O governo e a presidente passaram meses dizendo que as pedaladas não ocorreram, mas, finalmente, Dilma confessou que cometeu as pedaladas. E disse que foi para pagar o Bolsa Família. Minha vizinha enfermeira, discorda. “Ela usou também para financiar empresas por meio do BNDES”.

JOGO DE LUZES

Política é armação, disfarce e desfaçatez. No momento em que Dilma dizia, na segunda, 7, após a reunião com os “juristas”, que não tem motivo para desconfiar do Vice-Presidente, este lhe enviava uma carta dizendo, com fatos, que ela nunca confiou nele.

JURISTAS?

Jornalista mordaz é fogo: “A apresentação dos chamados ‘juristas’ foi um desastre. De jurista naquele grupo, só tinham dois ou três, no máximo. Os demais, são excelentes professores universitários”. MORENO, 7/12.

A TIA VOLTOU A TER SORTE?

Os ventos começam a mudar. Antes, Dilma só fazia besteira. Parou de fazer besteira? Não! Mas tem alguém que faz mais: Cunha. Foi a conclusão de meu vizinho confeiteiro: “Cunha salvou Dilma do impeachment”.

FOGO CRUZADO

Tá difícil de entender, diz meu vizinho confeiteiro. Lula conversa com Ciro para ele ingressar no PDT e ser o plano B do PT. Ciro declara na TV Gazeta que é candidato a Presidente e que Lula não deve ser: “Seria um desserviço à Nação”. Lula estimula Dilma a negociar com Cunha para aprovar a CPMF e se comprometer a não votar contra ele na Comissão de Ética; o mesmo Lula conversa com o presidente do PT, Rui Falcão, para que declare que os deputados petistas não devem votar em Cunha. Rui Falcão declara que o PT não tem que prestar solidariedade ao senador Delcídio do Amaral e a executiva do PT não expulsa o senador, apenas o suspende e abre um processo que ninguém sabe onde vai dar. Dilma defende o PT um dia, e pensa em sair do partido no outro. Temer se diz isento do processo de impeachment, enquanto janta com tucanos para estudar o novo governo. É, meu vizinho tem razão, tá difícil.

DELAÇÃO PREMIADA DE RICARDO PESSOA

O ministro Tirso Zavaski resolveu tornar pública a delação premiada de Ricardo Pessoa. O dono da UTC declarou que dava dinheiro ao PT, na proporção de 1% de cada negócio fechado por sua empresa. Que começou a fazer isso em 2004, e que parte a propina era repassada ao PT como doação oficial ao Partido. E que foram repassados entre 2004 e 2014 cerda de 20 milhões, ou seja, cerca de 2 milhões por ano. E que o tesoureiro do PT passava pela UTC a cada 45 dias para recolher ou lembrar do “pixuleco”, como Vacarri chamava a propina. Que também entregou dinheiro a Edinho, tesoureiro da campanha de Dilma, em 2014, e atual ministro da comunicação institucional. Se for verdade, mais uma razão para o impeachment da tia. Com uma diferença: o vice-presidente vai junto, provavelmente.

HÁ FUNDAMENTO LEGAL?

Cunha tentou formular um rito de impeachment inspirado no regimento interno da Câmara. Foi barrado pelo STF. Este definiu que o rito deve seguir a lei de 1950. Isso mesmo, a lei é de meados do século passado, mas foi parcialmente modificada em 2000. A lei 1079/1950 prevê os casos em que pode o Presidente estar sujeito a impeachment. Entre eles: “infringir, patentemente, e de qualquer modo, dispositivo da lei orçamentária” e “ordenar ou autorizar a abertura de crédito em desacordo com os limites estabelecidos pelo Senado Federal, sem fundamento na lei orçamentária ou na de crédito adicional ou com inobservância de prescrição legal”. A presidente liberou este ano recursos da ordem de 18,44 bilhões sem autorização do Congresso. Portanto, o pedido tem legalidade. O argumento de que outros presidentes fizeram algo semelhante, incluindo o presidente Lula, não é argumento jurídico sustentável. Assim, a questão passa a ser política. Para Ismeralda, a enfermeira de minha rua, o problema é saber o que vem depois. Para meu colega de hospital, Elizardo, nada pode ser pior do que este desgoverno que entrará em 2016, com a Dilma sem qualquer credibilidade. “O pior já está contratado pela tia”.

CONFIABILIDADE

Levantamento do DataFolha divulgado na sexta feira, 4, mostra que o brasileiro mais confiável é Joaquim Barbosa, nosso ex-ministro do STF que, segundo alguns, se prepararia para ser candidato a presidente em 2018, com nota 5,9 numa escala de zero a 10. A segunda pessoa é Marina Silva, da Rede Sustentabilidade, com 5,3 e a terceira Aécio Neves do PSDB, com 5,0. Lula vem em seguida com 4,7. Nos últimos lugares estão Dilma com 2,9 e Eduardo Cunha, como era de se esperar, está em último lugar, com 2,3. O Levantamento foi feito no final de novembro, antes de Cunha aceitar o pedido de impeachment da presidente.

BUROCRACIA

Minha faxineira está ficando liberal. Depois de ler o rito de impeachment ficou estupefata. “Que processo burocrata! Pode durar até um ano. Qual país aguenta um ano sem governo ou no desgoverno, que é ainda pior? Os políticos não sabem que quanto mais burocracia mais espaço tem para a corrupção”?

LEGIFERAÇÃO

O Congresso Nacional produz aproximadamente 7 mil projetos de lei em cada legislatura, que dura quatro anos. É uma febre legiferante adoidada e irresponsável. Vou propor ao Congresso que cada parlamentar tenha direito a no máximo dois PLs por ano.

(*) Observador anônimo da política nacional.