João Rego

Picking up the Banner-1957-1960.by-Gely-Mikhailovich

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O conceito de práxis no marxismo é uma chamada à ação para a transformação da realidade. Brilhantemente desenvolvido por Marx, é fundamentalmente necessário para um tipo de ação revolucionária – onde todas as estruturas existentes e paradigmas culturais são impiedosamente quebrados.

“A práxis revolucionária é então uma atividade teórico-pratica em que a teoria se modifica constantemente com a experiência prática, que por sua vez se modifica constantemente com a teoria. A práxis é entendida como a atividade de transformação das circunstâncias, as quais nos determinam a formar ideias, desejos, vontades, teorias, que, por sua vez, simultaneamente, nos determinam a criar na prática novas circunstâncias e assim por diante, de modo que nem a teoria se cristaliza como um dogma e nem a prática se cristaliza numa alienação” (Fonte Wikipidia https://pt.wikipedia.org/wiki/Pr%C3%A1xis)

Nos dias de hoje, onde a inovação tecnológica vem varrendo as antigas formas de produção e comunicação para o “lixo da história”, motivada por uma irrefreável força humana, o consumo, as revoluções político-ideológicas são pálidas expressões diante do que a tecnologia vem fazendo em nossas vidas.

Diante disso, o pensamento marxista tem ainda alguma validade?

Se contextualizado para o capitalismo moderno, este da sociedade da informação, pode sim ser uma excelente ferramenta de pensamento e ação para o aprofundamento de práticas sociais e políticas.

O desafio é desconstruir certos dogmas enraizados, a ferro e fogo, pela história recente, onde tudo era concebido como uma força antagônica ao capitalismo, o qual, uma vez ultrapassado pelas suas estruturais contradições internas, levaria a humanidade a atingir o nirvana histórico do socialismo. Com o fim da experiência socialista, simbolizada pela queda do Muro de Berlim, restou-nos apenas a democracia, essa, agora, como valor universal.

Mas é universal mesmo? Ou é mais uma utopia que o homem se impõe diante da dura realidade histórica?

Em parte. Creio que essa universalidade democrática deve ser uma meta a ser alcançada, pois, se formos analisar comparativamente os vários países, teremos uma escala que vai do zero – os países onde o fundamentalismo religioso e/ou a pobreza estrema imperam – até as modernas democracias ocidentais com sólidas experiências como EUA, Canadá e os países da Europa, com notas máximas. Nós, aqui embaixo na América Latina, entramos tardiamente nessa escola e, como alunos relapsos, tiramos notas baixas, movidos por correntes ideológicas populistas – as vezes de direita, outras de esquerda, como é agora o gravíssimo caso da Venezuela, ou como foi na Argentina com o peronismo.

Adaptar algumas valiosas categorias do marxismo para a praxis política em um ambiente democrático exige a humildade intelectual para entender que é o marxismo que deve fazer o esforço de adaptar-se e não a democracia que deve recuar e acolher o velho e sábio barbudo e seus seguidores.

Vi recentemente, quando publicamos uma Opinião em favor da anistia política na Venezuela, como passo fundamental para reorganizar a democracia corroída pela a ditadura do bolivarianismo, muitos militantes questionando se “essa democracia” era uma democracia para todos. Tentando, pasmem, justificar as prisões de intelectuais e políticos de oposição, ou seja, prisioneiros de ideias.

Ora, este é o primeiro choque narcísico com o qual alguns marxistas devem saber lidar. Aqueles que acreditaram – e muitos deram a vida por essa crença – serem senhores da história, movidos pelo equivocado conceito do determinismo histórico da superação do capitalismo pelo socialismo, têm que entender que perderam. Precisam, com urgência, destruir os muros de Berlim em suas mentes e visões de mundo. Eita! Que a queda real deste muro foi em 1989. Lá se vão mais de vinte anos! Como tem gente que anda devagar nesse mundo.

A arena é a arena do liberalismo, pai da democracia moderna, e é nela que o jogo deve ser jogado com adversários fortes como a globalização da economia e a inovação, permanentemente modificando nossas vidas com o controle absoluto do modo de produção, e uma ideologia fundada na produção e no consumo.

As regras são claras em uma democracia. Querer relativiza-las, movidos por uma falsa ilusão de que marxismo ainda tem poder de transformação da realidade econômica, social e política é, no mínimo, uma insanidade. Dizem que ainda é possível encontrar militantes que não ultrapassaram as barreiras temporais de 1917. E que estes não se encontram em manicômios!

Quem tiver paciência e curiosidade de voltar a ler, lá em cima, o conceito de Praxis, vai perceber que este poderia estar no manual de formação empreendedora de um Steve Jobs ou outro fodão desses. Pois é isso que eles fazem com suas empresas: sempre se reinventam, jamais se deixam cristalizar em uma ideia ou prática estratégica. E conseguem com as suas inovações fazer com que a história dê saltos que nem o mais maluco dos profetas e visionários poderia imaginar — não necessariamente comprometidos, ou alinhados com o humanismo socialista.

Vamos à luta companheiros! Nada tendes a perder, senão os grilhões mentais que vos aprisionam em um passado que não existe mais!

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