A orquestra tocava a “Sagração da Primavera” de Igor Stravinsky (busca da primavera neste início de outono brasileiro) mas desafinava muito porque o maestro simplesmente não conhecia a partitura do ballet e os músicos não confiavam na sua regência. A tuba aproveitou a incapacidade do maestro e gritou com seu poderoso som, abafando o violino e rejeitando a sua condição de coadjuvante, o oboé se divertia acompanhando a revolta da tuba. No palco, os bailarinos se atrapalhavam com a confusa melodia, representando assustados os movimentos ensaiados da coreografia que não se harmonizavam com o som produzido pela orquestra. Tumulto na plateia, protesto, irritação, gritos e insultos. O maestro correu, jogou a batuta pra cima, e o diretor do espetáculo subiu ao palco na tentativa de pôr alguma ordem ao caos. A plateia se dividiu: uma parte aplaudiu o diretor, esperando alguma orientação naquela balbúrdia, mas a maioria não confiava, gerando um grande tumulto e o início de confronto violento. O diretor tentava falar mas o barulho impedia que fosse ouvido. As bailarinas retiraram o diretor de cena e pediram calma à plateia sem qualquer sucesso porque já estava se formando uma verdadeira guerra de braços e pernas, cadeiras quebradas e objetos jogados. De repente, as luzes se apagaram e a escuridão do teatro provocou um surpreendente silêncio. Apenas a tuba continuava gritando e a flauta gemia. Do fundo do palco, surgiu o coreógrafo, vestindo uma roupa de cores extravagantes, avançou, lentamente, para o centro do palco, iluminado por um fluxo de luz e seguido pelo maestro e todas as bailarinas. A beleza e a surpresa da cena aquietaram a plateia. E a orquestra, mesmo sem maestro, passou a interpretar com brilho e perfeição a Aquarela do Brasil.
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Uma bela alegoria da situação que vivemos hoje no nosso país.
A par com essa brilhante alegoria, quatro textos de qualidade indiscutível acendem um farol de lucidez neste atarantado pais. Pena que não possamos emprestar uma maior e imprescindível divulgação da “SERÁ” perante um Brasil digno e milhões de brasileiros decentes que ainda restam, com certeza! Grande abraço para para vocês.
Beleza de texto! Admito, infelizmente, que a análise que faço do Brasil não leva a uma alegoria tão feliz. Mas vale fazer uma pausa para sonhar. E depois continuar o caminho das pedras, para sair do atoleiro.