Elimar Pinheiro do Nascimento
Professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasília

2016 CAC_EmmaWilson_Uncertainty_DigitalPainting_DownersGroveNorth

Uncertainty -Digital Painting by Emma Wilson – Downers Grove North High School.

Sei que a maioria dos brasileiros está otimista ou esperançoso com o governo que começa.  E a criticidade da situação econômica, não enseja outros sentimentos. Imagina-se que a situação é tão ruim que nada poderá ser pior. Contudo, a incerteza é o que impera entre nós. Quem poderia pensar que um presidente da Câmara conhecido como corrupto fosse ser substituído por um paspalhão, conhecido agora como Zé (a)nulidade?  Por isso, toda precaução é pouca.

Não é do meu feitio desarrumar festas alheias. Sinto-me, porém, na obrigação de citar alguns senões neste processo politico que se inicia hoje, quinta, 12 de maio. Começando pelo folclórico.

Fiquei surpreso que nada de extraordinário aconteceu entre quarta e quinta feira. Tudo transcorreu conforme o script. Não houve briga no senado, não houve quebra-quebra nas ruas, nem as “massas” vieram se despedir da Presidente. A marcha do Palácio do Planalto ao Palácio da Alvorada gorou. O número de pessoas em frente ao Congresso na noite de quarta e madrugada de quinta era pequeno, e pela primeira vez os adeptos de Dilma eram maioria. Houve empurrões, insultos e pequenas brigas aqui e acolá, sobretudo em São Paulo. Exceções que confirmam a regra. Muito positivo, mostra que a cultura política democrática não morreu, como imaginavam alguns. Os ritos estão sendo observados.

Contudo, faltou recato, como diz Josias de Souza, a troupe do Temer na chegada ao Palácio do Planalto. É o mínimo que se pode dizer. Um processo de impeachment é sempre traumático para um país. Não é algo normal, nem muito menos banal. Exige-se sobriedade. Fechando os olhos veio-me na mente uma ceia medieval, em que um bando de homens come com as mãos e limpa a boca com as mangas do casaco. Lastimável.

Faltaram mulheres no novo ministério. Zero. É o sinal do machismo que reina na política. Não ter nenhuma mulher no ministério é no mínimo uma falta de sensibilidade com as mudanças do tempo. E um sinal de que talvez os novos tempos não sejam compreendidos pelo Presidente em exercício. Imperdoável. E para completar faltaram negros. Fiquei com uma impressão de um governo dos anos 1950.

Faltou racionalidade no enxugamento do Ministério. Não tem sentido dissolver o ministério da cultura na educação e manter o ministério do turismo.  Ambos, e mais o esporte, deveriam estar sob um novo ministério: o da economia criativa. Qual a função relevante do ministério da integração?  Ou do Trabalho? Porque a comunicação vai contaminar o ambiente de ciência e tecnologia, e não integra o de transporte? Por que indústria não se integra com Minas e Energia? Enfim, possibilidades distintas da que foi adotada. Sem dúvida a decisão não foi pensada, talvez pela pressa.

Excedeu-se em políticos. E velhos e maus políticos. A cara do Parlamento. Muitos já pertenciam ou pertenceram aos governos pretéritos. Muitos estão na politica por negócios. Vários investigados. Suspeitos. Amanhã réus. A fama da grande parte é a pior possível. Em cada um de seus respectivos estados a fama é de homens de negociatas, de corrupção e outros mais. Não todos, mas a maioria. Ruim. Decepciona parte da opinião pública, que pensava, ou almejava, um governo de competência e não de simples arranjo.

A situação econômica é desastrosa e não será fácil fazer o País retomar o crescimento. A recessão é forte e o desequilíbrio das contas públicas é imenso. A receita cai e a dívida pública sobe, a cada dia.  O número de desempregados ainda deve crescer. E a má qualidade dos serviços públicos tem deixado o povo absolutamente insatisfeito. Insatisfação que se voltará para o atual governo se algo importante não for feito. Lembremo-nos que os tempos administrativo e politico nem sempre são compatíveis. E se as ruas se rebelarem a pressão sobre o Parlamento crescerá, aumentando as chances que votos mudem de direção. Alto risco.

A troupe do Temer chegou como se tudo estivesse resolvido. Será? Talvez eu seja um dos poucos que, se opondo ao governo Dilma, não acredita que o passado está enterrado e a Dilma é carta fora do baralho. Estranho esta reflexão porque afinal a admissibilidade foi aprovada largamente. Era necessário apenas 41 e foram 55 votos. Um a mais de um terço necessário ao impeachment. Como faltaram 3 e sabe-se que destes três um será favorável ao impeachment, afinal seu filho foi nomeado ministro, outro, o substituo do Delcídio, provavelmente será contra pelas amizades com a troupe do Lula, e o terceiro está desgostoso porque não foi contemplado, tendo sido apeado do ministério da Dilma, pode-se afirmar que bastam três dos 55 votarem contra o impeachment para Dilma voltar. Impossível? Talvez. Mas não estou convencido. Já vimos de tudo recentemente no Brasil. Coisas que nunca imaginávamos. E uma surpresa a mais não deveria nos espantar.

Finalmente, há uma variável independente: a lava jato. Vários dos peemedebistas, e eles são um terço do governo, estão na linha de tiro. E entre elas figuras importantes, como o ministro do Planejamento. E se Cunha, ou outro, resolve fazer uma delação premiada, o presidente em exercício não será contaminado? Ademais há um processo no TSE com indícios claros de propina da Petrobrás na chapa vencedora da qual participava o presidente em exercício. Ou seja, dinheiro escuso.

Há muitas incertezas e nuvem carregadas, para ficarmos simplesmente otimistas. Esperançosos talvez, mas com parcimônia, pois, a situação é grave e os atores, medíocres.

PS. Neste mesmo dia enviei um artigo para o blog da politica brasileira, de título – Os desafios do governo Temer (mas as vezes o editor inventa de mudar o titulo), chamando a atenção para o que espera o governo Temer em três esferas, o da economia, o da governabilidade e o da opinião pública.