Elimar Pinheiro do Nascimento

Quanto tempo Temer ficará no poder? Alguns dias se resolver renunciar. O personagem, já foi comprovado, não tem estatura para isso. Alguns meses se o TSE o condenar, pois há recursos no próprio TSE e no STF, além dos pedidos de vista. Provavelmente nunca, se o caminho for o impeachment, pois Temer deverá segurar um pouco mais de um terço da Câmara a seu favor. Isso significa que ele governará durante todo este tempo? É no mínimo duvidoso. Ficar no poder não é necessariamente governar.

Quais as armas que tem o Temer para se manter no poder? A primeira e mais importante: neutralizar a Lava Jato e suas derivações. Com ela ganha o apoio do PT, do PSDB, do PP, além do PMDB, e dos outros partidos menores envolvidos. E esta iniciativa está em curso, articuladamente com outros personagens em outros poderes. No Senado, Renan tenta aprovar a lei contra o abuso da autoridade, claramente uma iniciativa de inibição da luta contra a corrupção; na Câmara, Rodrigo, engaveta as 10 medidas populares contra a corrupção; no STF Gilmar promete rediscutir a decisão de prisão para quem condenado na segunda instância; nesta mesma corte está se processando a anulação da delação dos irmãos Batista, com isso quebra-se o contrato e ameaça qualquer nova delação. O Executivo corta o orçamento e os homens da PF disponibilizados para a Lava Jato. E, finalmente, em pleno domingo Temer muda o ministro da Justiça e coloca um homem que já se declarou contrário a Lava Jato, e que deverá tentar o controle da PF. E por incrível que pareça, se articula um acordão que isente qualquer ex-presidente de punições.

Por que o povo não saiu as ruas? Quem saiu as ruas foram sindicalistas, por medo de perderem os rios de dinheiro que recebem do imposto sindical obrigatório.  Ou seja, saíram para defender seus interesses corporativos. Apenas isso. Saíram os black blocs por uma questão ideológica, para não perder a oportunidade de atacar o Estado. Saíram algumas pessoas de boa vontade e indignadas com as denúncias feitas ao Presidente. Outros, para escutar alguns cantores famosos. E, finalmente, alguns militantes empedernidos do PT, PSOL e REDE no Rio de Janeiro. Mas o povo não foi a rua, pelo menos ainda. E a razão é simples: o povo se encontra dividido entre a indignação com as graves denúncias ao Presidente e o medo de um aprofundamento da nova recessão, que virá inevitavelmente com a persistência da indecisão sobre os rumos do País.  Afinal o primeiro trimestre de 2017 foi o primeiro que apresentou um PIB positivo (1%) depois de oito meses de recessão. Dependendo dos fatos novos o povo poderá voltar como em 2013 e 2015/2016, mais há dúvidas.

Por que é fundamental as eleições diretas para substituir o presidente moribundo, e corrupto? Em princípio parece absolutamente correto.  E tem o apoio de 90% da população, conforme o Instituto Paraná em pesquisa de maio, após as denúncias do Joesley. Restituir ao povo o direito de escolher seus representantes parece sensato e legítimo. A Rede defende esta posição desde 2015, anunciando que as eleições de 2014 foram desvirtuadas pelo poder econômico. O que se comprovou correto. Porém, qualquer presidente de bem não governa com este Congresso. Por isso ou caminhamos para a praticidade de ter um presidente eleito indiretamente, sob risco de perder a continuidade eficiente da Lava Jato, ou façamos eleições diretas para todas as instâncias, poder executivo e legislativo. Com um detalhe. Eleições para o Congresso um mês após as eleições presidenciais para que o Presidente eleito tenha melhores condições de governabilidade. Neste caso o risco é ter a recessão de volta, e com força.

A crise só tem um aspecto positivo, não quebrou a nossa democracia. Ou estou me apressando?