Querido amigo, por que a pressa? Por que correr para a morte, se ela o encontraria, em algum momento futuro, como a todos nós?
A sabedoria está em fazer com que esse momento seja apenas um arremate, o último ato de uma vida produtiva, e, também por isso, prazerosa. O pano não deveria cair antes do fim do espetáculo.
Em nosso breve tempo de convivência, tive a alegria de sentir como nos identificávamos, no gosto pela literatura, na concepção da arte, na visão do mundo. E sempre admirei seus textos impecavelmente escritos, exalando modéstia, sinceridade e empatia para com os divergentes. Você ainda tinha muito a nos dar, como intelectual sem mácula de preconceitos.
E agora? Agora só nos resta parafrasear Fernando Pessoa e John Donne:
O que se partiu para terras ignotas foi uma parte vital, porque visual e humana, da substância das nossas vidas. Fomos diminuídos, já não somos bem os mesmos. O nosso amigo foi-se embora.
Os sinos dobram por todos nós.
Clemente Rosas
Irmano-me a vocês, fazendo coro ao lamento pela morte inesperada e precoce de Fernando, com quem tive o privilégio de partilhar muitos bons momentos. Estes foram suficientes para que eu tenha uma boa memória dele.
A memória do outro pautou várias das nossas conversas; também alguns dos seus belos escritos versavam sobre um dos seus temas prediletos, a memória do amor.
Que ele permaneça em nossas memórias, ainda que de modo e intensidade diferentes. E teremos algo de bom em comum, mesmo sem nos conhecermos.
Conheci Fernando aqui na Será?, e nos encontramos duas vezes,para uma conversa descontraída. Tornamo-nos amigos, e conversávamos via Facebook, onde ele sempre publicava seus escritos. Tinha uma obstinada, talvez obsessiva, sede de conhecimento da literatura, que consumia ávidamente. Era sua vida, dizia. Ler, e ler, sempre. Seus amigos estavam afastados, e mais de uma vez o questionei porque tinha ido morar tão longe, mas ele não dava muita importância, embora essa distancia fosse tudo de importante na vida dele, e que o manteve solitário. Como comentou alguem nestes dias, sua doçura era o que mais transmitia, sua afabilidade, sua suavidade. Nós perdemos, o mundo perde, com sua precoce viagem. Vá em paz, amigo.
Com a noticia, dada pelo Joao Rego, me entristeci e chorei a beira do rio Paraguai. Fernando era uma pessoa carinhosa, amiga, intrigante. Sempre o ligo ao meu querido Denis, pois os tive em minha casa na rua das crioulas em papos que iam até o sol raiar. Denis falando depois de metade da garrafa de cachaça consumida. Fernando, desde o início. Ele e Cris pareciam irmãos de tanta afinidade. Eu ficava mais olhando, calado, ouvindo aqueles persongens do saber, da arte e da sensibilidade. Admirado da sabedoria de meus amigos e de minha mulher. O historiador, o literato e a artista plástica iam longe em suas viagens que o cientista politico podia apenas mirar e admirar. O mundo ficou mais pobre.
Prezado Clemente,
Transcorrida a primeira semana do triste evento, gostaria que soubesse no quanto pensei em você ao ser informado da notícia. Sabendo do apreço e da cordialidade que os unia – tantas vezes estampada neste espaço -, fiquei a matutar sobre como você estaria se sentindo.
Muito embora os anos e a experiência relativizem o impacto de certos fatos, tenho certeza de que o choque não foi menor na medida em que a sabedoria só desnuda o absurdo da antecipação de um encontro que é inevitável. Mas “c´est la vie”. Ou “c´est la mort”, como se queira.
Um abraço,
Fernando