Editorial

Fernando da Mota Lima.

Querido amigo, por que a pressa?  Por que correr para a morte, se ela o encontraria, em algum momento futuro, como a todos nós?

A sabedoria está em fazer com que esse momento seja apenas um arremate, o último ato de uma vida produtiva, e, também por isso, prazerosa.  O pano não deveria cair antes do fim do espetáculo.

Em nosso breve tempo de convivência, tive a alegria de sentir como nos identificávamos, no gosto pela literatura, na concepção da arte, na visão do mundo.  E sempre admirei seus textos impecavelmente escritos, exalando modéstia, sinceridade e empatia para com os divergentes.  Você ainda tinha muito a nos dar, como intelectual sem mácula de preconceitos.

E agora?  Agora só nos resta parafrasear Fernando Pessoa e John Donne:

O que se partiu para terras ignotas foi uma parte vital, porque visual e humana, da substância das nossas vidas.  Fomos diminuídos, já não somos bem os mesmos. O nosso amigo foi-se embora.

Os sinos dobram por todos nós.

Clemente Rosas