Sim, foi como acender uma luz. Reinaugurar, em 2016, o seminário de Tropicologia na Fundação Joaquim Nabuco. Criado em 1996. Pela visão de Gilberto Freyre.
O seminário tem uma metodologia. E produz um tipo de ciência. A metodologia é a adotada por Frank Tannenbaun. O palestrante faz sua fala. Que é comentada, enriquecida, arguida, por seminaristas. O fecho vem com a réplica do conferencista. Como um edifício que vai sendo erguido. Tijolo por tijolo. Ou como um discurso. Elaborado com tese, antítese e síntese.
A tropicologia é ciência fruto da transversalidade. De postura complementar. Que busca adições sociais. Que procura agregar valores. Fazer conexões entre disciplinas. Articular conceitos culturais. Explicar o todo pela ligação de partes. Ensinando afinidades. Equilibrando contrastes.
O seminário está na 404ª reunião. Por lá, passaram recentemente Sílvio Meira, falando sobre inovação. José Carlos Escobar, cuidando de Disneylândia e cracolândia. Lourival Holanda, tratando da contemporaneidade de Joaquim Nabuco.
Lourival, como disse o professor da UERJ, João Cézar de Castro Rocha, não é apenas um scholar. É um gentleman. Que suaviza o acadêmico. Ele tem um jeito monástico. De quem convence pelo tom ameno. A gente ouve, ouve… E, quando a gente vê, está com as ideias dele. Não só pelo seu modo cativante. Mas pelo argumento irresistível.
Foi assim na sua palestra sobre Nabuco. Ele começou dizendo que, em Nabuco, a emoção sustenta o pensar. O discurso de Nabuco é consistente na emoção que o fazia argumentar com precisão. Que, em Nabuco, a emoção não distorcia, mas reforçava. Não embaçava o raciocínio, mas esclarecia a compreensão.
Em Nabuco, o pensar constrói o diálogo. Não há monólogo. Há sempre a existência do outro. E, aqui, surge, plena, a primeira atualidade de Nabuco. Porque vivemos época em que o diálogo sumiu. Como disse Lourival Holanda, a falta de diálogo é uma deserção de si. E, ao desertar de si, está-se desistindo do outro. Desistindo do outro, caímos no autoritarismo. Descemos à aridez da arrogância. De querer impingir o que somente pode existir pela aceitação. Mútua.
O diálogo é forma superior de civilidade. Vestido pelo respeito. A si próprio e ao outro. Maneira civilizada de construir o entendimento é fazê-lo a dois.
Na prática, desertar de si é abdicar. E abdicar é deixar vazio um espaço que deveria estar ocupado. Neste momento brasileiro, contribuir é ato de patriotismo.
Desistir do outro é omissão no compartilhar. É mais do que empobrecer a construção coletiva. É esterilizar o processo político. Nesta hora nacional, ignorar o outro é insensato.
Então, vem a segunda atualidade de Nabuco. Nabuco não se encantou no evento da abolição, nos fogos de artifício da festa. Ele tinha o senso seguro de que mais importante era o pós-abolição. Mais relevante era educar os ex escravos. Mais oportuno teria sido treiná-los, ocupá-los. Dar-lhes a chance de vida que lhes tinha sido tirada. Educação e emprego. Temas atualíssimos. Como Nabuco.
Desertar de si e desistir do outro cria nova escravidão: a escravidão ideológica. O bloqueio a qualquer saída debatida. A limitação a qualquer alternativa negociada. O existir só para sua ideia. E para afirmar o que, no deserto, é negar. Torna-se mera caricatura da realidade.
Desertar produz dois equívocos: a esquizofrenia feliz do especialista e a cegueira do militante possesso. O primeiro faz do campus da universidade o território de seu labirinto. A academia deixa de cumprir sua missão por excelência: inovar e conectar-se com o mercado. Universidade é mimética na repetição de si mesma. Universidade é só memória. Abandonou a invenção.
O segundo equívoco produz a cegueira que faz do militante possesso verdadeiro monumento à ira. Ele rompe com o amigo, briga com a família e dorme com a auto ilusão. Faz do auto engano um modo de desconstruir. Vida transformada em obsessão. Radicalização insossa. Infértil.
Chama Nabuco !
Neste instante, invoquemos o equilíbrio de Nabuco. Que, tendo sido monarquista, serviu à República como embaixador. Que, proprietário de terra, defendeu a abolição da escravatura. Que, conservador, alinhou-se aos liberais. Tudo pelo Brasil.
Como se uma linha imaginária, feita de pura sensatez, orientasse seus passos. Sem obedecer a fórmulas pré-fabricadas. Mas simplesmente identificadas com os interesses do país.
Chama Nabuco porque 2018 vem aí. Ou será o inverso ? 2018 vai chamar Nabuco ? Vai procurar o estilo Nabuco ? Vai buscar o equilíbrio Nabuco ?
Recessão rima com radicalização. Crescimento induz reflexão. A economia estimula a política para o centro. Para este ano, inflação de 3,7%, abaixo do centro da meta. Juros de 8,25%, com viés de baixa. PIB no patamar de 1%. Para 2018, possibilidade clara de continuar essa tendência.
Se assim for, a economia vai consolidar quadro estável no ano eleitoral. Vai empurrar a política para o centro. Inspirando confiança. Incentivando discursos mais propositivos. Delineando posições mais programáticas. Realçando a objetividade. Esmaecendo o radicalismo.
Se for assim, a economia vai convidar a política para um encontro. Uma conversa tropical. Em cenário de equilíbrio. Equilíbrio Nabuquiano.
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